Capítulo 17: Abraço

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Pela manhã, Ramiro havia recebido uma ligação do abrigo. Era urgente que tanto ele quanto Kelvin fossem para lá.

- O que aconteceu? - Kelvin perguntou ao entrar com Ramiro na sala da diretoria.

- É sobre o Julinho. - Caline começou a dizer e foi logo cortada por Ramiro, preocupado.

- Êêê... Ele tá doente de novo, é?

- Não, não, Ramiro, não é nada disso. Ontem a Manuela e eu o encontramos acordado, já era de madrugada. Ele estava muito assustado, todo enrolado no cobertor e estava um pouco febril. Achamos que ele podia estar tendo outra crise nervosa, crise de ansiedade, talvez, e o trouxemos pra cá. Mas, ele disse que estava tendo pesadelos e... Bem, esses pesadelos eram com uma pessoa em especial.

- Com quem?

- Com você, Kelvin.

Ele se surpreendeu. - Comigo? Mas... Por quê? O que eu fiz?

- Pelo contrário, não foi você que fez algo, foi ele. Mas, ele é só uma criança e está se sentindo culpado pelo que fez. Ou melhor, pelo que ajudou a fazer.

Kelvin começou a entender do que se tratava já que já tinha suas suspeitas. - Ah... É sobre esse acidente com o portão, não é? - Virou para o marido. - Viu, Rams? Eu disse que o Julinho tinha algo a ver com isso. Eu não queria que fosse verdade, mas estava óbvio.

A diretora continuou: - Você está certo, Kelvin. Ele confessou que sabia que aquele portão estava solto. E que te pediu pra subir lá de propósito, pra você levar um susto, segundo ele. Mas, claro que ele não fez isso sozinho, ele não conseguiria.

- Disso eu não tenho dúvidas. E quero que saiba que eu nunca colocaria a culpa disso no Julinho. Tenho certeza de que alguém o convenceu a ajudar nisso, e eu tenho uma ideia de quem possa ter sido.

- Sim, imagino. Mas, antes de prosseguir com esse assunto, eu gostaria muito que vocês reafirmassem o que já disseram aqui sobre a adoção do Julinho. Já sabemos que há a possibilidade de o Ramiro ser o pai dele e de não ser também. Mas, independentemente do resultado, eu quero saber se vocês estão dispostos mesmo a buscarem na justiça o direito de o adotarem, de se tornarem os pais dele.

Kelvin respondeu com convicção: - Eu reafirmo, Caline. Com toda certeza e do fundo do meu coração, que mesmo que o Julinho não seja filho do Ramiro, ele se tornará filho dele e meu de qualquer jeito. Nós já conversamos e eu vou sempre repetir pra deixar bem claro que nós dois queremos muito nos tornarmos pais do Julinho. Eu... Eu fico triste porque sei que ele não gosta muito de mim agora, mas, acredite, apesar de tudo, eu gosto dele, eu simpatizei com ele, eu o acho uma gracinha, um menino lindo, e eu não vou descansar até não conquistar a confiança e o carinho dele. Eu tenho muita, muita vontade de dar a essa criança não só uma casa, mas um lar digno, onde ele vai ser compreendido, vai ser respeitado e vai ser amado como nem eu e nem o Ramiro fomos. E acho que nem ele foi também, né? Então, nós dois queremos dar todo o amor e apoio que ele precisa e merece. Eu juro que só quero ver o Julinho feliz.

Caline abriu um largo sorriso e disse: - Eu gostei muito de ouvir isso. E tenho certeza de que mais uma pessoinha também... Não é, Julinho?

Ela olhou por trás de Kelvin e Ramiro e eis que Julinho estava lá, escondido em sua sala, e ouvia tudo. Com os olhinhos cheios de lágrimas e emoção, se aproximou devagarzinho deles, meio tímido, meio sem jeito...

O casal virou para o menino, surpresos, esperando sua próxima reação. Ao que o pequeno olhou para o pé e tornozelo de Kelvin enfaixados, perguntou envergonhado: - Tá doendo muito?

Kelvin se perdeu por um segundo, mas logo que notou do que ele questionava, respondeu: - Ah, isso? É, dói... Dói quando piso, mas vou ficar melhor logo.

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