Capítulo 3: Do lixo...

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- Tenho que fazer alguma coisa. – Ramiro pensou consigo ao ver aquele pobre menino ser enxotado da brincadeira. Ele queria fazer algo, mas não sabia bem o que fazer. Dava três passos para frente e dois para trás, reticente em ir até onde aquela criança havia se escondido.

Mesmo assim, chegou aonde o menino estava. Localizou-o por entre os sacos de lixo num canto isolado do pátio. Ramiro já tinha se acostumado a ir até ali para jogar o lixo, mas nunca tinha ficado parado lá mais do que alguns segundos. Ao ver aquele menininho naquele lugar, sentado no chão, cabeça baixa por entre os joelhos, o corpinho mexendo enquanto chorava, Ramiro não conteve uma lembrança amarga que lhe tomou a mente.

... ... ...

... – Cê num me pega! Cê num corre feito eu, Caio!

- Na próxima vez eu vou ganhar, você vai ver.

A brincadeira dos meninos foi interrompida pelo chamado:

- Caio, menino! Ainda está aí fora? Vem tomar banho para não se atrasar para a escola.

- Já vou, Angelina! – O garoto saiu dali em direção à casa, deixando o outro ali sozinho.

O outro, apenas um garoto de doze anos que gostaria de ter escola para ir tal qual aquele que considerava seu amigo, apesar de saber que era o filho do seu patrão. E muito mais aquele pobre garoto sonhava em ter. Sonhava em ter uma família como aquela, uma casa como aquela, terras até onde a vista nem alcançava... Contudo, o que mais lhe despertava interesse eram as coisas mais simples: como os brinquedos que as outras crianças naquela casa tinham a oportunidade de ter.

Ele sempre ficava observando enquanto o filho mais velho do patrão saía para a escola. Às vezes, ele era como um ser invisível que estava ali assistindo a cena com seus olhinhos cheios de sonhos e absolutamente ninguém enxergava, sua presença era insignificante; às vezes, o notavam... Quando era preciso que ele parasse de sonhar e voltasse ao trabalho.

E ele tinha apenas doze anos. Não sabia qual das situações era pior, mas ambas doíam seu coraçãozinho.

Esse era um dos dias em que o patrão o notava... Infelizmente.

- Ramiro!

- S-Sim, patrão?

- Tá aí parado feito um jumento por quê? Vai ver se tem alguma coisa pra você fazer, vai!

- Sim, patrão. – O garoto sempre saía cabisbaixo. Sua vida era esperar pela próxima ordem.

Havia, porém, um cantinho que ele gostava de ficar quando não estava obedecendo e trabalhando. Os quartos infantis de Petra e Daniel eram no térreo da casa. Em cada um deles havia uma janela enorme por onde podia se ver inúmeros brinquedos e como eles pareciam divertidos e convidativos. Ramiro, porém, não entendia como eles tinham tanto e nunca pareciam felizes.

- Se eu tivesse essas coisa eu ia tá sempre feliz. – Ramiro pensava. E seus pensamentos se tornaram tentadores quando a mãe dos pequenos, Irene, saiu com os dois. O pequeno empregado sabia que ela sempre demorava quando saía para passear com os filhos. Ramiro decidiu ceder à tentação e entrar escondido num dos quartos. O único que conseguiu abrir a janela foi o de Petra.

Ela ainda era uma menininha muito pequena na época, mas seu quarto parecia ser gigantesco. Um verdadeiro mundo mágico em tons pasteis que encantou o pequeno Ramiro. Sobretudo, quando ele avistou o brinquedo que mais parecia saído de um sonho: uma casinha de bonecas gigante.

Ele se aproximou fascinado por aquilo. Certamente a menina cabia ali dentro e, se ele fosse menor, seria capaz de morar ali se tivesse uma dessas. Bom, ele não tinha uma, mas bem que poderia aproveitar mais um pouquinho, não estava fazendo nada de mal, afinal.

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