Capítulo 10: Reações

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- É um prazer conhecer você, Kelvin. – Dizia a assistente da diretoria, Manuela, enquanto os cumprimentava. – O Ramiro já me falou um pouco sobre você, me contou sobre o casamento de vocês.

- Que bom! – Kelvin sorriu simpático, mas seu olhar denotava a urgência daquela conversa.

- Mas, vocês chegaram dizendo que tinham algo importante para conversar. Do que se trata?

O casal se entreolhou e Kelvin percebeu que Ramiro não conseguiria encontrar as palavras certas. Suspirou e começou:

- É uma longa história, senhorita Manuela...

- Pode me chamar só de Manuela. Ramiro e eu já estamos ficando amigos, né, Ramiro? – Ela abriu um largo sorriso para ele que, sem jeito, deu um sorrisinho sem graça de volta e falou:

- É... Ô, Manuela, é que, sabe que é?... É que... Tem um menino que... Pode ser que seja... Mai eu num sei se é, sabe... Mai pode ser e eu num sei...

- Não tô entendendo nada, Ramiro.

Kelvin pigarreou para interromper. – Bem, é o seguinte: o que ele está querendo dizer é que temos que falar sobre uma criança daqui do abrigo que, talvez, tenha uma ligação com o meu marido.

Ramiro olhou para seu pequetito e não tirou mais os olhos dele, esperando ansioso por como ele contaria sua história.

- Como assim? Uma ligação com o Ramiro? – Ela rapidamente pensou em algo e indagou: - Vocês estariam falando do Julinho?

Ramiro quase deu um pulo da cadeira. – Ê! Cê já sabe que ele é meu fi?

- Oi? Seu o quê?! – Ela se surpreendeu, obviamente.

Kelvin respirou profundamente de novo, levando as mãos ao rosto e tentou controlar a situação. – Me deixa explicar. Eu vou resumir porque é uma longa e desagradável história. Mas, antes, bem antes de a gente se casar, o Ramiro teve uma noiva. O nome dela era Raimunda. E, aparentemente, onze anos atrás ela ficou grávida. O Ramiro não acompanhou a gravidez porque ele estava aqui, em Nova Primavera, trabalhando, e ela vivia em outra cidade. O problema é que quando estava na época de a criança nascer, ela disse a ele que tinha perdido o bebê. Então, ele nunca soube de mais nada. Até agora, quando ele conheceu o Julinho, né, Rams? – Virou para receber a confirmação de Ramiro, que continuou:

- É... É isso, Manuela. Quando eu conheci o Julín, eu, assim, percebi que ele tinha umas coisa parecido comigo, né? E ele é bem parecidín memo... E... Nós tava proseando ali, e ele me disse o nome da mãe dele e... E ele disse que era Raimunda, mai todo mundo chama de Munda ou Mundinha. É ela, Manuela, tem como ser outra, não.

- Sei. Entendi. Então, por todas essas pistas você acha que ele pode ser esse filho que ela disse que havia perdido? Então, ela teria mentido pra você, escondido seu filho por todos esses anos?

- Ela é bem capaz de fazer isso, sim. Aquilo lá é uma cobra. Eu num gostava da Munda, nunca gostei, nós noivou porque meu tio obrigou, disse que eu tinha que casar porque ela tava prenha, mai... Nunca casamo, eu num tinha dinheiro... E ainda bem, né? Porque eu, hoje, num sei o que ia ser de mim sem meu Kevín. – Ramiro devolveu o olhar cheio de amor com o qual Kelvin lhe observava.

Naquele segundo que os olhares se cruzaram, a expressão séria e tensa de Kelvin se suavizou e o leve sorriso em seus lábios foram da certeza que ele tinha do amor de Ramiro por ele.

- E o que pretendem fazer agora? – A assistente perguntou chamando a atenção dos dois.

- É justamente sobre isso que viemos conversar. – Kelvin falou. – Precisamos saber como proceder nessa situação. Ainda não tive tempo de falar com nosso advogado, mas ele nos ajudará em tudo.

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