capítulo 2

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E outra vez em casa. Na mesa, um pedaço de lasanha em cada prato, meus pais conversavam, eu comia porque como minha mãe dizia "eu não sabia fazer algo melhor". Acho que me perguntaram como eu estava, não sei, não lembro, mas se perguntaram acho que respondi um "bem... sim".

- Então, o próximo jogo é contra quem? - meu pai cortava um pedaço de lasanha e colocava na boca.

- Contra o St. Philips. Eles são muito bons, pai. - revirei os olhos com um suspiro tão longo que pensei que estava sem fôlego.

- Uma garota do meu time quebrou o dedo enquanto estávamos treinando para o jogo. - Taylor comentou, e eu lambi meus lábios lentamente com um suspiro.

- E você, Rebecca? - minha mãe perguntou, me fazendo olhar para ela.

- Eu respiro, isso já me custa muito. - ela revirou os olhos e meus irmãos riram, meu pai tentou conter o riso.

- Mike, está vendo o que eu digo? É porque ela é livre, rebelde, pensa que está nos anos sessenta. - minha mãe dramatizou mais do que o necessário.

- Eu que deveria ter ficado na década de sessenta. - meu pai comeu de novo, e eu me levantei com o prato na mão.

- Vou comer no meu quarto, gosto mais de conversar com a parede. - peguei o copo de água e sorri, saindo da cozinha.

- Mike, a garota está perdida para nós.

Fui para o meu quarto e sentei na cama com o prato na mão, terminando de comer a lasanha enquanto dava uma olhada nas minhas anotações, embora achasse que eu não ligava, eu estava reprovando em tudo e passando o período das aulas no pátio, era raro o dia em que as professoras me viam, só quando eu estava doente e porque fazia calor.

Terminei de comer e coloquei o prato na mesa, pegando o livro sobre Pompéia que eu estava lendo no ônibus, mas acabei adormecendo.

{-}

Freen

- Freen, levanta. - a voz de minha mãe soou atrás da porta, batendo três vezes com as juntas de seus dedos.

Sentei-me na cama, rastejando sobre ela até que minhas mãos tocaram a borda e eu consegui me levantar. Coloquei minha mão na parede, arrastando-a e contando os passos até chegar à porta. Estiquei a mão, tocando na madeira e a senti até encontrar a maçaneta.

Para algumas pessoas, não ver parecia horrível porque não sabiam como eram as coisas, para outras, ficavam assombradas por não saberem o que estaria à sua volta e, de fato, era assim como eu me sentia quando era pequena.

- Ah, Freen! - minha irmã mais nova, Sofi, havia passado na minha frente quase sem fazer barulho, e eu quase tropecei nela.

- Desculpa, Sofi. Você está bem? - eu inclinei a cabeça para o lado, embora não pudesse ver, porque assim a sensação de desconforto da outra pessoa era bem menor, ou assim me falaram.

-Sim. Você quer que eu te leve até a cozinha? - passei minhas mãos pelos lados de sua cabeça, acariciando suas bochechas.

- Claro. Você já tomou café da manhã? - perguntei à criança, que me pegou pela mão e me levava devagar até a cozinha.

- Sim, mamãe tem que ir. - eu coloquei minha mão no batente da porta, ouvindo o som do que eu pensava ser os talheres sendo colocados na mesa, também colocando suco de laranja em um copo - costumava ser assim quase todas as manhãs - e o cheiro e barulho do bacon sendo feito na panela.

- Bacon e torradas, mãe? - percebi minha mãe se movimentando pela cozinha, e mudei de lado, pois à minha esquerda ficava o balcão onde minha mãe cozinhava e ela já havia tido experiências ruins queimando minha mão ao passar ou me cortando com uma faca ao colocar na mão dela, assim resolvi tocar na geladeira e ir andando até a mesa e me sentar sozinha.

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