capítulo 5

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Rebecca

A porta do meu quarto foi aberta, e quase saltei da minha cama ao escutar as persianas das janelas abrirem-se uma forma estrondosa, que perfuraram meus ouvidos. A luz do dia, não o sol, atravessou pela janela e pude ver, mesmo com uma visão muito borrada, minha mãe vestida para sair.

- Você, levante-se, venha. Você não pode dormir o dia todo ou se levantar na hora de comer. - olhei para minha mãe sem entender nada, passando uma mão no meu rosto.

- É sábado. - respondi, apoiando-me com os cotovelos na cama.

- Sim, e seu pai trabalha. - pisquei por um momento, inclinando a cabeça para o lado, porque não conseguia entender o objetivo dela.

- Sim, mas eu não tenho aula. - minha mãe virou-se na porta.

- Rebecca, comece a estudar de uma vez! - batendo a porta com força. apontou para a mesa.

E assim eram os meus finais de semana.

{-}

- Mãe, você tem que assinar isso para eu ir a uma excursão de Francês. - entrei na cozinha e coloquei o papel no balcão, observando minha mãe virar-se para observar o papel e logo voltou a ler a revista que estava sobre a mesa.

- Você não vai. - ela disse, mas voltou a virar-se, talvez eu poderia ter esperanças. - E quem lhe disse que você pode sair do seu quarto?

Voltei para o quarto, deixando-me cair na cama, porque eu não tinha mais nada para fazer. Alguma vez você já pensou em situações que nunca aconteceriam, mas só de pensar te deixa feliz?

Esse era o meu caso todos os dias, porque eu sonhava acordada com Freen. Eu só queria beijá-la, devagar e profundamente. E sentir como pequenos suspiros saiam pelos seus lábios e chocavam-se contra os meus. Eu queria fazê-la sentir, queria fazê-la derreter-se nas minhas mãos enquanto eu a beijava. Eu queria que ela me quisesse, que me abraçasse, mas... Na realidade, não era assim.

{-}

Em uma quarta-feira qualquer de Dezembro, eu caminhava pelo corredor com o livro de literatura na mão. "O Senhor das Moscas", eu tinha relido mil vezes até decorar as frases. Estava rasgado, com as folhas amareladas, as pontas estavam dobradas e a capa estava pregada com uma fita para não se dividirem.

E eu a vi, estava de costas, tateando o armário com suas mãos até chegar no cadeado. Em suas mãos, ela segurava a chave, mas não alcançava para encaixá-la. Estava ficando nervosa e o cadeado estava escorregando entre suas mãos. Freen se frustrava, porque não conseguia ver, porque não conseguia colocar uma maldita chave como uma pessoa normal.

Aproximei-me dela sem dizer nada e peguei a chave, abrindo o armário e guardando seus livros em total silêncio. Freen olhava para o chão, desconcertada e, então, colocou suas mãos nos meus pulsos e, de lá, subiram até meus ombros e me abraçando bruscamente. Ela me abraçou fortemente pelo pescoço, eu não fiquei parada, porque eu tinha sentido muito a falta dela. Sentia falta dela todos os dias, porque não pude vê-la, porque não pude falar com ela, porque não pude fazê-la sentir as coisas que não podia ver.

- Senti sua falta. - sussurrou ao separar-se de mim, olhando para o chão com um gesto de dor, seus olhos estavam fechados firmemente.

- Eu sinto muito, muito mesmo. - coloquei uma mão em sua bochecha, acariciando-a com o polegar. Sua pele era terna, e pude ver seus olhos movendo-se de um lado para o outro, até fechá-los.

- Você não fez nada de mal, Rebecca. Você não fez nada. - peguei sua mão, dando um beijo tímido em seu rosto, o que a tranquilizou um pouco.

- Vamos deixar minha mãe de lado e vamos aproveitar o tempo que podemos ficar juntas na escola.

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