capítulo 7

442 88 33
                                    

Rebecca

Por mais que eu quisesse, minha gripe não cedeu e os poucos dias que restavam do Natal eu passei de cama, quase sem conseguir me mexer. Felizmente eu ganhei alguns pijamas dos meus tios, e dos meus pais... uma colônia, um livro, cinquenta dólares e um cachecol, enquanto eu olhava para o novo celular que deram ao meu irmão, assim como alguns sapatos que custavam mais de cem dólares e muita roupa. Também encheram o armário de minha irmã com roupas novas, outro celular e dinheiro suficiente para comprar mais dois dos mais caros.

Mas mesmo que essas coisas me fizessem sentir uma merda, eu decidi que estava bem. Então, mesmo com febre e resfriada, eu resolvi sair coberta por um casaco, gorro e luvas, só meus olhos podiam ser vistos.

Eu desci a rua fria e deserta, nevada e branca, que se alongava ao andar. Caminhei por dez minutos e parei, olhando para a porta do refeitório. Lá estava Irin, e eu me aproximei, ela sorriu de longe quando me viu, levantando-se do chão congelado pela neve.

- Feliz Natal, Rebecca. - apesar da situação, ela mantinha aquele sorriso. Tirei uma sacola com presentes de dentro da minha mochila, entregando a ela.

- Feliz Natal, Irin. - eu funguei um pouco enquanto dizia, e ela congelou. - Vamos, pegue, ninguém deve ficar sem presentes de natal.

E ela me abraçou, e embora eu estivesse tonta com todo o movimento repentino, eu também a abracei.

Para o meu bem, decidi ir ao refeitório com ela e Irin abriu a bolsa. Pedi dois cafés, fariam bem para aquela dor de garganta terrível que me impossibilitava de falar.

- Sério? Isso é para mim? - Irin pegou o cachecol verde e o enrolou no pescoço, e eu assenti com a cabeça, pegando a colônia e cheirando.

- Claro, sinta o cheiro, é muito bom. - a loira pegou a garrafa enquanto eu assoava o nariz com um lenço de papel e se recostava na cadeira, olhando para ela.

- São seus presentes, não é? - eu assenti com a cabeça, esfregando minha têmpora com meus dedos e ela olhou para mim. - Não posso aceitá-los, são seus presentes de Natal.

- Eu estou usando um cachecol, tenho muitas colônias em casa e eu já li esse livro na biblioteca da escola. Eu adoraria poder te dar, não sei, algo que realmente te ajudasse. Eu gostaria de te ajudar. - a garota enroscou o dedo no cachecol e ficou olhando, pressionando um pouco o tecido sobre o nariz para cheirá-lo.

- Você nao precisava fazer isso, e muito mais do que eu esperava este ano, sobre o que é o livro? - a garçonete serviu dois bolos de abóbora junto com um café que eu tinha pedido, e coloquei minhas mãos em volta da xícara.

- Se passa em 1850, uma enfermeira é assassinada em um hospital. É ótimo, li em um dia. - ela passou a mão pela capa. eu funguei com um sorriso.

- É estranho. - Irin disse, pegando uma colher para cortar o bolo, colocando-o na boca.

- O que é estranho? - passei o lenço pelo nariz com os lábios entreabertos para poder respirar.

- Eu sempre acreditei que famílias normais davam coisas melhores, não sei. É isso que sempre espero para o Natal, mas eu nunca ganho um presente. - eu sorri um pouco, comendo um pedaço do bolo.

- Se isso te consolar, meus irmãos receberam essas coisas que você pensa. - mexi o café com a colher, dando de ombros. - Eu sou como Harry Potter na casa dos Dursley. Sou como um zero à esquerda, então não importa.

- Eu sinto muito. Isso deve ser horrível. - fiz uma careta, balançando a cabeça, umedecendo os lábios para tirar o açúcar de confeiteiro que tinha no bolo.

🇨‌🇴‌🇱‌🇩‌Onde histórias criam vida. Descubra agora