capítulo 3

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Rebecca

- Você pode descrever o que vê?

Estávamos no pátio da escola, Freen tinha aula de matemática de novo e eu... nem sei o que eu tinha, o fato é que eu nem me importava. Minhas melhores aulas eram olhar para ela, observar o quanto ela era preciosa e explicar tudo o que eu sabia para ela. Aquelas eram as melhores maneiras de aprender, de abrir sua mente, de adquirir conhecimento, sem ficar presa entre quatro paredes que não te permitiam expandir seu mundo.

- Mmh... estamos no jardim da frente da escola. - eu disse, cruzando as pernas. Estávamos sentadas em uma mesa fixada na parede, então de lá podíamos ver tudo. - Há um menino lendo um pouco mais a frente.

- Nerd. Quero dizer a paisagem, a rua, tudo. Claro que você pode fazer isso, quando você descreve... você faz isso muito bem. - eu sorri, encolhendo um pouco os ombros mesmo que ela não pudesse ver.

- Bem... a rua é ladeada por árvores de folha caduca* nas laterais, que caíram durante o dia, formando um tapete laranja em cima da pequena neve derretida no chão. A calçada é uma sequência de blocos de concreto, não são quadradas como nas outras ruas, aqui são retangulares. O pátio da escola tem um caminho de ladrilhos cinzentos, calcário preto que se estende até à entrada, e este caminho é rodeado por um relvado verde profundo, molhado de neve derretida da qual ainda existem vestígios em algumas partes. Então você e eu estamos sentadas à mesa. Seus olhos são... lindos, castanhos, com cílios longos que os deixam ainda mais bonitos. - Freen estava sorrindo, abaixando a cabeça envergonhada. - E o seu cabelo brilha, parece macio, ondulado nos ombros. Seus lábios são lindos, rosados, um tanto grande, mas sem exageros, escondendo dentes que te fazem ter um lindo sorriso. -ela balançou a cabeça, totalmente corada, e me virei para frente.

(N/T: Com o frio, as folhas caem todas e as árvores ficam despidas. Chamam-se de folha caduca, é um mecanismo de proteção.)

- Você faz isso muito bem. - ela me disse, e eu balancei a cabeça negando.

- Não. - acabei dizendo.

- Pense assim, você fez com que uma pessoa que não enxerga recriar em sua mente uma paisagem que nunca viu. Que eu sinta o frio dessa paisagem. Você acha que isso não tem mérito? Você acha que isso não é arte? Você pinta quadros com suas palavras, Rebecca. - ela me fez sorrir da forma mais sincera de todas, do tipo que você não consegue apagar da cara e fica com uma cara de idiota, aquele sorriso que você não quer que ninguém veja porque vão começar a perguntar de quem você gosta.

- Você quer ir para casa agora? - perguntei enquanto colocava a mão em seu joelho.

- Sim, está começando a esfriar. - eu me levantei primeiro e peguei-a nos braços sem nenhum problema.

- Quer que eu te carregue? Hoje eu trouxe meu carro. - sem dizer nada, eu a carreguei nos braços porque era a maneira mais rápida de andar com Freen, por mais que doesse dizer isso.

- Se você não se cansar de me carregar no caminho. - ela deu uma risada suave quando cheguei ao carro. Tive que colocá-la no chão para abrir a porta, levando-a pela mão para que ela entrasse no carro, coloquei a minha mão sobre a cabeça dela para que não batesse e coloquei o cinto. - Muito obrigada, Rebecca.

- Não é nada, é para sua segurança. - eu disse, dando a volta no carro para me sentar ao seu lado.

- Não foi por isso, por me levar. - liguei o carro e balancei a cabeça, olhando pelo retrovisor.

- Não há de que. Ei, eu estive pensando e... talvez, apenas talvez, se você quiser, não quero que você pense que eu estou te forçando ou algo assim...

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