capítulo 27

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Rebecca

Ninguém me acordou naquela manhã e pareceu muito estranho. Ainda nevava lá fora, tinha sido assim a noite toda, mas eu adorava o frio. Senti o cheirinho do chocolate da minha avó e mesmo não gostando, me lembrou como era estar em casa, em família.

Assim que me levantei da cama e coloquei os pés no chão, sabia que tinha que me agasalhar para descer, por mais que a lareira estivesse acesa, estava frio. Eu aprendi bem a lição porque no Canadá o frio penetrava até os ossos.

Vesti o pouco que tinha, jeans preto e um suéter azul, depois desci e ouvi o murmúrio na sala. Na ponta da mesa estavam meu pai, minha mãe e meus dois irmãos tomando café da manhã, depois todos os meus tios, meus avós e o lugar que estava livre era para mim. Eu realmente gostei de estar longe deles por um tempo..

- Mas olha quem acordou. - minha tia Elizabeth cutucou minha barriga, me fazendo encolher com um leve sorriso.

- Veja o que acontece se você não acordá-la? Ela fica dormindo até tarde. - disse meu pai balançando a cabeça, enquanto cortava uma panqueca. Sentei-me na cadeira abaixando a cabeça

- Qual é, não tem problema em dormir. Além disso, são apenas dez da manhã. - minha avó disse, colocando uma xícara de café e uma pilha de torradas com manteiga na minha frente. - Dormiu bem?

- Muito. - eu respondi com um sorriso, pegando um pedaço de pão entre os dedos.

Lembrei da minha infância, quando ia na casa da minha avó comer pão com manteiga e café. Minha mãe não queria que eu bebesse, mas minha avó respondeu com "deixa a menina, ela tem que tomar café", e ela me dava café às escondidas, sussurrando para eu não contar a minha mãe, e eu nunca contei.

Devorei a primeira torrada como se não fosse nada, tomar café e comer pedaços de pão com manteiga, era o paraíso. A verdade é que não sei se era pela marca da manteiga, pelo pão, ou pela quantidade abundante de açúcar que a minha avó colocou no meu café. Ela estava acostumada a fazer isso desde que eu era pequena para não notar o amargor que aquele café que fazia, e para mim se tornou uma das minhas coisas favoritas da vida.

- A propósito, você já tem vinte anos! - meu tio Stephen bagunçou meu cabelo, me fazendo sorrir enquanto comia. - O que te deram no seu aniversário? - enquanto minha avó limpava meus lábios do óleo da torrada.

- Mmh... - engoli em seco, pegando a xícara de café de novo, dando os ombros. - Nada. Bom, minha namorada me deu um mp3, uma jaqueta e um perfume. - vi minha mãe virar-se para meu pai, quase lhe dando um tapa no braço, arregalando os olhos.

Para terminar o café da manhã, tomei meu café e me levantei da mesa, levando meu prato e copo para a cozinha, onde meu avô estava lavando as mãos com sua cara fechada de sempre.

- Rebecca, não se desespere. Tempos melhores sempre chegam. - esbocei um meio sorriso; ele sabia do que falava.

- Você, lá pra cima. - meu pai apontou e depois olhou para as escadas. Suspirei e fui para o meu quarto, onde meu pai e minha mãe se trancaram comigo. Eles estavam muito bravos, mas eu nem tinha feito nada.

- Se continuar falando essas coisas, você vai ver. - minha mãe apontou o dedo para mim cerrando o maxilar.

- Eu não disse nada. - disse, olhando para o meu pai com uma careta.

- Você não disse nada? Você acabou de dizer que não lembramos do seu aniversário e ontem disse que quase não ganhou nada no Natal. - ele me atacou levantando a voz, mas não me intimidei.

- Sim, e eu disse a verdade. Vocês não se lembraram do meu aniversário. Mentir é muito pior do que dizer a verdade.

- Eles não precisam saber disso. - culpou minha mãe, balancei a cabeça com cara de decepção.

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