capítulo 24

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Rebecca

Nunca me importei como eu me vestia, mas isso estava chegando a um ponto extremo. Olhei na gaveta das minhas roupas e quase não tinha nada. Algumas camisas, uma delas rasgada pelo meu pai, e as outras eram apenas largas, pretas ou brancas, despojadas e gastas de tanto usar. Eu só tinha dois jeans, um preto e outro azul claro, rasgados nos joelhos, mas de tanto usá-los, quase completamente rasgados. Eu sempre usava botas pretas que tinham a sola descolada do sapato. Era horrível. O que eu ia vestir? Eu basicamente não podia sair.

Desci para a cozinha, onde minha mãe preparava o jantar para aquela noite. Cheirava a brócolis, como sempre ficava quando eu estava lá. Quando eu ia embora, de repente, vinham com a excelente ideia de fazer macarrão, comprar pizza ou coisas assim.

- Mãe, eu preciso de uma roupa nova. - eu disse ficando atrás dela, que jogava um punhado de sal na panela onde cozinhava o brócolis.

- Roupa nova? - ela riu baixinho, dissolvendo a pimenta na água fervente. - Seu irmão precisa de um capacete novo e sua irmā vai fazer intercâmbio em Londres. Você realmente acha que podemos comprar roupas novas? Você acha que o dinheiro cresce em nossos bolsos? - ela negou com um suspiro. - Peça a Taylor para ver se ela pode te emprestar algo.

E subi as escadas, cansada daquelas respostas que me marcavam. Aquelas respostas que sem contexto pareciam bobas, mas aos poucos e ano após ano foram me afundando.

- Taylor, eu posso entrar? - minha irmã bufou, virando-se na cadeira e revirando os olhos.

- O que você quer, Rebecca? - ela respondeu com relutância, sem encontrar meus olhos porque estava muito ocupada com seu celular.

- Mãe disse para te perguntar se você pode me emprestar alguma roupa. - nesse momento, ele tirou os olhos do telefone.

- Uf. - ela resmungou se levantando e abriu o armário. Estava cheio de camisetas, calças, casacos, sapatos que na maioria das vezes ela não usava. - Posso te emprestar algo, mas vai ficar pequeno. - jogou uma camiseta em meus braços, virando-se. - Além disso, não sei se vai ficar bom em você muito porque do jeito que você é... - ficou em silêncio me olhando por um segundo. - Já sabe, lésbica.

- Eu sei me virar sozinha. - larguei a camisa na cama e fechei a porta do quarto dela, reprimindo a vontade de socar a madeira.

{-}

- Mmh... isso está muito bom. - olhei para o curry de frango na mesa e peguei meu garfo, misturando-o lentamente no arroz. Meu irmão parecia adorar. - Prova, Rebecca.

- Estou sem muita fome. - eu respondi em negação, deixando escapar um leve suspiro cansado. Meu pai olhou para mim, colocando o garfo no prato.

- Você deveria fazer uma dieta e entrar em uma academia, sabia? - cerrei minha mandíbula, abaixando minha cabeça quando o ouvi. - Você deveria comer de forma mais saudável. - supondo que eu não comia, e que o pouco que eu comia era preparado pela minha mãe, o que ele estava falando era realmente estúpido.

- Não, obrigada. - recusei aquela 'oferta', voltando a mexer o curry.

- Não é algo que você possa decidir. - ele respondeu, sempre era assim. Ele sempre era o mesmo, eu estava farta. Que merda ele estava dizendo? Eu tinha vinte anos, eu era absolutamente responsável por minhas decisões e escolhas, e talvez se não fosse por ele, eu não estaria tão insegura com meu maldito corpo. Se não fosse por ele, eu não teria nojo de me olhar no espelho, nem teria medo de dormir com minha namorada cega. Cega, ela nem consegue me ver.

- Agora você tem que decidir por mim. - respondi retirando o prato.

- Vai me responder outra vez? Você é uma pirralha imatura que não sabe o que quer ou o que vai fazer da vida. Então sim, eu tenho que decidir por você. - ele apontou o dedo para mim com um olhar nojento de desprezo.

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