capítulo 33

377 88 43
                                    

Rebecca

Minha vontade de vomitar era infinita. Meu estômago estava na garganta, eu sentia o gosto da bile toda vez que pensava que Freen provavelmente não sairia viva daquela operação.

As horas se passaram.

Na primeira hora. Sentei-me na cadeira do corredor na sala de espera. Alejandro e Nun nem queriam estar ali, preferiam estar no carro ou no refeitório onde não havia ninguém para chorar baixinho. Eu, porém, permaneci no corredor agarrada à ideia de que Freen ainda apareceria correndo para os meus braços. Haha. Como eu estava delirando. Meu irmão me mandava mensagens constantemente sobre como tudo estava indo, mas eu não respondi, não tinha forças nem para me levantar do chão.

Mas eu me levantei.

Entrei no quarto na segunda hora de operação. Entre as coisas dela, na bolsa, vi o seu celular. Nele, Freen tinha colado um pedaço de papel com "Rebecca" escrito nele. Supus que havia pedido a sua mãe. Isso quebrou minha alma.

Abri o celular e havia um arquivo nele, uma pasta que dizia "Rebecca". Era um áudio.

"Lamento que essa não seja uma carta escrita por mim ou algo assim... Você foi comer um sanduíche e essa é a única vez que tenho para dizer todas as coisas que quero te dizer. Me perdoa por eu estar sendo egoísta. Estou te privando de mim, e te dando mais um golpe na vida. Estou ciente de que estou te afundando e que provavelmente você sentirá um rancor dentro de você. Mas espero que você me entenda. Espero que você entenda que... tenho uma chance de sair desse pesadelo, de ver a luz, de ver o mundo. Poder sonhar à noite, poder pensar em você como uma pessoa e não como uma voz. - Freen começou a soluçar, com a garganta apertada. - E... eu te amo, Rebecca. Obrigada por tudo que você fez por mim, obrigada por me fazer sentir, obrigada por despertar aquele lado da minha vida que eu tinha adormecido. Sabe... você foi aquela luzinha dentro da escuridão que me fez sentir as coisas que uma pessoa normal sente. E você não merece tudo isso, você não merece sofrer por alguém como eu. Você não merece estar ancorada em mim, você não merece estar mal porque eu não consigo enxergar. Isso, por menor que seja a probabilidade, também é uma oportunidade para você. Que você finalmente seja feliz. Se eu não sair da sala de cirurgia, só peço que não fique estagnada. Quero que você seja aquela grande fotógrafa que todos dizem que você é, quero que você realize seu sonho. E se eu sair e finalmente puder ver... Quero ver suas fotos para poder dizer que você é uma ótima fotógrafa. Eu te amo e... - escutei a porta. - Vou ao banheiro. - era a minha voz. Minha maldita voz. - Eu tenho que ir porque você chegou, você não parece querer falar comigo, mas... eu te amo." - começou a chorar de novo, arrancando meu coração.

A batida do meu punho contra a parede quebrou os ossos dos meus dedos, várias vezes, mas eu não me importei. A voz de Freen se repetia na minha cabeça, e provavelmente aquele "eu te amo" seria a última coisa que eu ouviria dela.

Coloquei o celular dela no bolso, agora era meu.

Caminhei até o final do corredor, estava escuro, havia uma pequena capela ali. Minha avó sempre dizia que, mesmo que não fosse crente, Deus sempre foi um prego ardente para todos agarrarem.

Tinha cerca de três bancos e tudo estava rodeado de velas. Ao fundo, em cima de um pequeno altar, presidia uma imagem do Cristo crucificado, rodeado de flores.

Sentei-me nos bancos e olhei para minhas mãos trêmulas, cansadas, sofridas por aquela situação. Eu não sabia o que dizer, estava tão desesperada que poderia rezar um rosário inteiro sem saber por onde começar.

- Eu não sei se tem alguém aí em cima, sabe. - apertei meus olhos molhados, estavam inchados de tanto chorar. - Mas se existir, não sei. Você não deve deixar essas coisas acontecerem, não... - apertei os lábios reprimindo as lágrimas, balançando a cabeça. - Ela só tem 18 anos, é só uma garota... - entrelacei as mãos na altura do rosto, apertando fortemente as pálpebras. - Se tiver que matar alguém, que me mate. - deixei escapar uma risada irônica, colocando minhas mãos cruzadas sobre minha boca. - Ela pode salvar vidas simplesmente existindo, eu não sou nada. - minha voz falhou quando eu disse aquilo. A imagem daquele Cristo tornou-se turva pelas lágrimas que se acumulavam em meus olhos. - Eu sou um incômodo sem ela... - balancei-me suavemente no banco, apertando minhas mãos, meus olhos, meus lábios, como se fazendo mais força, pedindo mais, freei fosse se salvar.

🇨‌🇴‌🇱‌🇩‌Onde histórias criam vida. Descubra agora