capítulo 44

433 80 5
                                    


Rebecca


Freen estava dormindo ao meu lado com a camisa enrolada
no corpo e os braços em volta da minha cintura. Sua cabeça estava no meu peito que subia e descia. Eram apenas seis da manhã e pelas janelas do terraço pude ver como o céu começava a clarear e aquele azul intenso, escuro e preto se dissipou, dando lugar a um azul mais claro.

Saí da cama e coloquei os pés no chão de madeira, estava frio. Sentei-me e abri a janela que dava para aquela pequena varanda, aquele pequeno terraço de grades redondas de alumínio cinza.

Acendi um cigarro, levando-o aos lábios, perdendo-me a vista panorâmica do mar. Olhei para baixo e a água estava quase abaixo de mim, calma e azul. Um barco passava por baixo da ponte, que paz.

Nunca me senti assim, calma, feliz. Acho que era assim que todos se sentiram, menos eu.

Dei uma tragada, deixando a fumaça escapar por entre meus lábios, nublando a imagem do amanhecer, que começava a pintar brilhos rosados no céu. O cigarro estava entre meus dedos, na ponta deles, trazendo-o de volta aos meus lábios para chupá-lo. O ar estava fresco, mas não frio. Pelo menos não para mim, porque o frio já tinha passado.

Senti as mãos de Freen envolverem minha cintura, enquanto eu dava outra tragada no cigarro com meus antebraços apoiados na grade.

- Bom dia. - eu disse com a voz rouca, e Freen não olhou para mim, olhou para o nascer do sol que misturava rosa, laranja e azul.

- Você não tirou a foto? - sorri com fumaça saindo de meus lábios, balançando levemente a cabeça.

- Às vezes você não consegue capturar momentos e perder tempo atrás de uma câmera, basta vivê-los. Que fique só para nós e ninguém mais descubra. - virei minha cabeça para olhá-la com um sorriso, e Freen estava olhando para mim com os lábios entreabertos com o que eu tinha dito.

Mas era verdade. Muitas vezes valia a pena guardar lembranças para nós mesmos, para termos o privilégio de ser apenas nós que vivenciamos isso; como o primeiro amanhecer no novo apartamento. Ou talvez fosse apenas uma metáfora de como seria uma nova vida. Muitas vezes bastava olhar, porque o céu mudava em minutos, um desfile passava em segundos e não valia a pena ficar atrás de uma câmera.

- Às vezes você parece um livro. - seu braço passou pela minha cintura, descansando contra meu peito enquanto observamos o nascer do sol. - Não acredito que não pude ver isto durante todos estes anos.

- Bem, agora você pode aproveitar. - dei um beijo em sua cabeça, ficando com o nariz enterrado em seus cabelos, abraçando-a contra meu peito.

- Não muito, tenho que ir. - franzi a testa quando ela se virou e pegou minhas mãos, embora antes de me beijar, eu inclinei a cabeça.. - Tenho aula, lembra?

- Aaaah, é verdade, você ainda está no ensino médio. - belisquei sua bochecha e ela se debateu, tentando morder minha mão como se fosse um cachorrinho brincando comigo.

- Me deixa. Eu tenho que ir agora. - ela fez bico enquanto se afastava, e virei-me para voltar para o quarto com ela. - Nos vemos mais tarde?

- Até mais tarde.

Dormi até o meio da manhã, quando o sol já batia no meu rosto e eu estava no meio da cama. Tinha dormido melhor do que nunca e sem os gritos da minha mãe me acordando para fazer alguma coisa, para estudar ou para procurar emprego.

Me movi entre os lençóis, deitando de bruços e com os olhos fechados, aproveitando o calor que entrava pela janela e atingia meu corpo. Era tão relaxante que eu poderia ter dormido de novo, mas o celular tocou.

🇨‌🇴‌🇱‌🇩‌Onde histórias criam vida. Descubra agora