um

1.8K 83 22
                                    

Trabalhar para um time grande sempre foi meu sonho e o que me motivou a iniciar a faculdade de fisioterapia. Mas trabalhar para o meu time de coração era de longe a melhor coisa que havia acontecido na minha vida. Consegui um estágio no Corinthians assim que entrei no segundo ano da faculdade e agora, depois de formada, fui promovida a fisioterapeuta oficial do time.
Em geral, os caras do profissional não me dão trabalho algum, o time vem tendo um avanço e poucas lesões aconteceram. Mas o castigo do monstro acontece quando preciso atender a molecada do sub-20, o que, diga-se de passagem, não acontecia com frequência, porém, quando acontece, é deverás de tirar meu sono e minha paz. O timãozinho, como apelidamos carinhosamente os meninos da base, não são muito obedientes em relação a recomendações médicas, o que dobrava meu trabalho em todas as vezes que eu precisava cobrir Rafael, o fisioterapeuta oficial da base e, para minha grande felicidade, hoje seria um dos dias do ano em que eu trabalharia exclusivamente pra um bando de adolescentes cheios de hormônios que só querem jogar bola sem se preocupar com consequências lesionais.

Entrei no CT Dr. Joaquim Grava por volta das 7 horas da manhã, caminhei diretamente para minha sala de atendimento, arrumando metodicamente meus equipamentos de trabalho. Assim que organizei todo o espaço, me dirigi a cozinha para tomar café da manhã. A melhor parte de trabalhar aqui sem dúvidas era o tratamento que os funcionários recebiam, nunca mais precisei me preocupar em cozinhar de manhã ou se teria que comer um miojo durante o almoço porque sou muito bem alimentada neste lugar.

Ao me aproximar da cozinha já pude ouvir o funk tremendo todas as janelas do lugar, o que me dava certeza de que Higor, um dos jogadores, havia acordado de muito bom humor.

– Bom dia, meninos! Higor, dá pra abaixar isso? Gostaria de manter minha audição intacta até o final do dia - Brinco enquanto adentro o local, pegando uma xícara de café em seguida.

– Se eu soubesse que seríamos abençoados com esta bela vista logo de manhã cedo teria penteado meu cabelo - Felipe murmura mais pra si mesmo do que para os colegas - Por que ninguém me avisou que ela estaria aqui hoje? Traíras.

– Você sabe que a gente tem acesso a escala de funcionários bem ali naquele quadro, né? - Arthur responde, apontando para o quadro ao longo da imensa parede branca do ambiente.

– Por favor, não comecem a agir como pré adolescentes, não são nem oito da manhã - Ryan resmunga.

– Ok meninos, terminem logo esse café porque eu tenho uma lista cheia de nomes pra passar na minha sala ainda hoje - Avisei enquanto caminhava até a porta com um pão na chapa em uma das mãos e um café na outra - E eu não quero saber de desculpinhas de novo.

– Se você for fazer aquela massagem na minha perna de novo eu mesmo me ofereço pra ser o primeiro - Kayke sorri.

– Não, o exercício de hoje é bem mais divertido - Sorrio de volta, fazendo com que eles notem que meu significado de diversão provavelmente era bem diferente do deles - E só pela gracinha você vai mesmo ser o primeiro, bora, levanta essa bunda dai.

A sala explode em risos e zoações, digamos que eu não seja tão boazinha quanto Rafael na questão de exercícios para memória muscular e isso faz com que os meninos fujam constantemente de seus horários marcados comigo quando estou responsável por eles no dia.

– Foi cutucar a onça com vara curta e se fudeu - Léo zomba do amigo, rindo descontroladamente.

– Leonardo, você é o próximo.

– Mas o que foi que eu te fiz mano? - O garoto me olha chocado.

– Acho que você deveria ser menos linguarudo - Breno exclama com um sorrisinho de canto.

PILANTRA - Kayke FerrariOnde histórias criam vida. Descubra agora