onze

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Ao acordar na manhã seguinte, sinto um vazio no ambiente. Abro os olhos, esfregando-os ao sentar no sofá. Olho para os lados, buscando pela figura de Kayke.

Nada.

– Kayke?

Nenhuma resposta.

Fico chateada ao notar que o jogador foi embora sem quaisquer avisos. Me sinto sozinha na sala, as lembranças da noite anterior ainda ecoando em minha mente. Um misto de confusão e desapontamento se instala, enquanto tento encontrar uma explicação para a partida repentina do garoto. A sensação de abandono se mistura com a incerteza do que aconteceu, deixando um gosto amargo no ar.

Prometi a mim mesma que nunca mais me abalaria por nenhuma ação vinda de um homem, por isso, me levanto, seguindo em direção ao banheiro para tomar um banho antes de ir trabalhar.

O caminho para o CT Dr. Joaquim Grava é silencioso, estou com um mau humor tão grande que até o som do rádio me irritou nesta manhã. Entro no estacionamento, fechando o carro enquanto caminho em direção a minha sala, a expressão de poucos amigos no meu rosto indica que não é seguro se aproximar antes que eu tome café da manhã, e talvez nem depois.

– Meu deus, que cara é essa? - Yuri questiona se aproximando para deixar um beijo no topo da minha cabeça.

– Acordei com o pé esquerdo aparentemente - Resmungo.

Entramos juntos na sala de refeições, pego um prato, colocando ovo mexido, torradas e patê de atum. Alcanço um pote com salada de frutas e encho uma xícara generosa de café. Equilíbro tudo isso nas mãos e me sento a mesa, cumprimentando com um meio sorriso os meninos presentes.

– Tá com fome hoje, ein? Deus abençoe - Léo zoa.

– Se eu fosse você não cutucaria ela hoje - Yuri alerta.

– Ih, o leão acordou atacado hoje?

– Matheus! - Repreende.

– Que foi? - O garoto pergunta, confuso.

Continuo comendo e fingindo que eles não estão falando de mim como se eu não estivesse aqui, mas meus olhos desviam do prato assim que Kayke adentra o local, conversando alto ao telefone.

Presto atenção na conversa, revirando os olhos em seguida. Primeiro ele vai embora no meio da noite como um amante, agora, entra aqui falando com uma mulher como se eu não pudesse ouvir o tom de flerte em sua voz.

– Se você tivesse poderes a cabeça dele já teria explodido, para de encarar - Yuri sussurra ao meu lado - Agora entendi o mau humor, o que ele fez?

– Me largou no meio da noite - Sussurro de volta, emburrada.

– Depois de transar? Que babaca.

– Pior, nem ganhei a transa, só o abandono mesmo - Bufo.

– É, definitivamente babaca - Concorda.

Enquanto continuo minha refeição, tento ignorar a presença de Kayke, mas é difícil não me sentir incomodada com sua atitude. Observo-o de relance, vendo-o rir e conversar animadamente ao telefone, como se nada tivesse acontecido entre nós.

O restante do café da manhã passa em um clima pesado para mim. Após terminar de comer, levanto-me silenciosamente e decido me retirar da mesa, sem trocar muitas palavras com os outros jogadores.

Caminho em direção à minha sala, tentando afastar os pensamentos sobre Kayke. Decido focar no trabalho e nos preparativos para o treinamento do dia, mas a sensação de desconforto persiste.

Revejo a escala com a seleção de jogadores que Mano Menezes me enviou por e-mail, pedindo para que os avaliasse hoje. Suspiro em alívio vendo que aquele nome não está presente na lista.

Atendo um a um, deixando os mais novinhos, e mais trabalhosos, por último. Ao final do dia, no último jogador, Higor entra na sala animado.

– E aí, doutora - Cumprimenta, sentando - se na cadeira à minha frente.

– Oi, Higor - Sorrio - O que te trouxe até aqui hoje?

– Vim admirar sua beleza de perto - Brinca - E talvez eu tenha sentido um incômodo na panturrilha.

– Certo, senta ali pra eu checar - Aponto para a maca e o jogador obedece, se dirigindo para a mesma.
Enquanto Higor se deita na maca, começo a examinar sua panturrilha, aplicando uma leve pressão em alguns pontos para avaliar qualquer desconforto ou tensão.

– Parece que você tem um pouco de tensão aqui. Como foi o treino hoje? - Pergunto enquanto realizo o exame.

– Foi tranquilo, mas acho que forcei um pouco mais do que devia. Estava tentando impressionar o treinador, sabe como é - Ele responde com um sorriso leve.

– Sei como é, mas é importante não exagerar, principalmente quando sente algum desconforto. Vou fazer uma pequena massagem aqui para relaxar os músculos, tudo bem?

Ele assente e eu começo a trabalhar na panturrilha, aplicando movimentos suaves para aliviar a tensão. Enquanto trabalho, aproveito para mudar de assunto, desviando sua atenção do incômodo que minhas mãos causam na área.

– Como se sente agora que subiu pro profissional?

– Ah mano, pra ser sincero é bem gratificante chegar onde eu cheguei, mesmo que as vezes eu fique preocupado em ser descartado por ser reserva - Desabafa.

– Higor, falo de coração mesmo, Mano  seria muito burro de descartar você, com 21 anos você joga mais futebol que muito jogador mais experiente por aí.

– Você acha? - O garoto sorri tímido.

– Acho que só em estar no banco de reservas já prova que seu treinador concorda comigo - Sorrio de volta - Ainda ta incomodando?

– Se eu falar que não você vai tirar as mãos de mim? - Levanta as sobrancelhas.

– Vou.

– Então ainda tá doendo pra caramba.

Rio, parando a massagem e liberando o garoto para se levantar.

– Malu?

Chama antes de se retirar da sala.

– Sim?

– Eu não te abandonaria no meio da noite - Higor diz, piscando um olho de maneira charmosa antes de fechar a porta atrás de si.

Com um sorriso divertido, observo Higor sair da sala, deixando uma sensação de leveza no ar. É, eles definitivamente fofocam bastante no vestiário.

Enquanto reviso os relatórios e anoto as observações sobre os jogadores, tento manter a mente ocupada. À medida que o dia chega ao fim, sinto uma sensação de realização ao concluir minhas tarefas.

Guardo meus pertences, desligo as luzes da sala e me preparo para deixar o CT. Enquanto caminho pelo estacionamento, percebo que o céu está tingido de tons dourados do pôr do sol, trazendo um sentimento de tranquilidade e aconchego.

Ao entrar no carro, respiro fundo, deixando para trás as preocupações do dia. Amanhã é dia de jogo, definitivamente meu dia preferido da semana, e já me preparo para observar o desempenho de alguns jogadores que estou avaliando de perto.







NA:

é gente, kaykinho vacilou legal, é homem né

definitivamente há problemas no paraíso 👀

ceis acham que a malu gosta do jogadorzinho mequetrefe dela ou só ta com ego ferido?

PILANTRA - Kayke FerrariOnde histórias criam vida. Descubra agora