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À medida que o dia avança e as atividades no centro de treinamento se desenrolam, uma sensação de desconforto paira sobre mim. Kayke parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo, sempre encontrando uma desculpa para se aproximar e trocar algumas palavras. Seus sorrisos sugestivos e olhares insinuantes deixam claro que ele não desistiu da ideia de me conquistar.

Apesar de tentar manter uma postura profissional e distante, é difícil ignorar a atração que ele exerce sobre mim. Seus gestos simples e seu charme envolvente começam a minar minha determinação. Em momentos de fraqueza, me pego questionando se não estaria sendo muito dura ao resistir às investidas do garoto.

No entanto, uma voz interior persistente me lembra dos limites que estabeleci para manter a integridade do meu trabalho e da minha posição no clube. Ceder aos avanços de Kayke significaria comprometer não apenas minha ética profissional, mas também minha reputação e credibilidade como fisioterapeuta.

Enquanto a tarde se transforma em noite e o CT se esvazia lentamente, sinto um nó se formando no meu estômago. Kayke se aproxima mais uma vez, seu sorriso radiante iluminando o ambiente.

– E aí, Malu, mudou de ideia? — Ele pergunta, com um brilho provocador nos olhos.

Respiro fundo, reunindo toda a minha determinação para responder.

– Kayke, eu... — Antes que eu possa terminar minha frase, sou interrompida pela voz de Yuri Alberto chamando por nós.

– Maluzinha, Kayke, nós vamos lá pra casa comer uma pizza, vamo? - Ele nos chama da porta do vestiário.

Troco um olhar rápido com Kayke, percebendo a frustração refletida em seus olhos. Por um instante, sinto uma pontada de alívio por ser salva pela intervenção do jogador.

Caminhamos juntos em direção ao vestiário, deixando para trás a tensão não resolvida que pairava entre nós.

O clima na casa de Yuri era descontraído, com o aroma tentador de pizza pairando no ar. Sentamo-nos ao redor da mesa, deixando a conversa fluir naturalmente. Os jogadores mais velhos não estavam presentes, então os assuntos conversados na mesa eram as mais variadas baboseiras de adolescentes.

Yuri era sempre o animador do grupo, contava histórias engraçadas sobre os bastidores dos treinos, fazendo-nos rir até que nossos estômagos doessem. Virei amiga do garoto logo que entrei no Corinthians, nos demos bem de cara e até apresentei minha melhor amiga, Isabella, para ele, o que acabou se transformando em um namoro lindo de se acompanhar. O que? Não é porque meu relacionamento foi fracassado que eu seria uma péssima cupido.

Enquanto a noite avançava e as risadas preenchiam o ambiente, um mix de emoções tumultuavam dentro de mim. O dilema entre seguir meus instintos e manter minha integridade profissional continuava a me atormentar, mas por enquanto, escolho me desligar de quaisquer assuntos que rondavam minha cabeça.

– Tá legal gente, preciso mesmo ir embora agora - Digo, olhando as horas no relógio de pulso.

01h27.

Definitivamente já tinha dado minha hora.

– Eu te levo - Kayke oferece.

– Não, relaxa, vou pedir um uber, eu nem moro tão longe assim.

– Não é seguro pegar uber essa hora e sozinha ainda, anda Malu, eu te levo - Insiste, levantando-se e pegando as chaves do carro.

Isabella, que havia chego há mais ou menos uma hora atrás, me lança um sorriso encorajador, instigando-me a aceitar a carona do garoto que eu fugi o dia todo.

– Ok, obrigada.

Me despeço de todos presentes na sala, deixando minha melhor amiga por último e, assim que fico perto o suficiente, sussurro em seu ouvido.

PILANTRA - Kayke FerrariOnde histórias criam vida. Descubra agora