quatro

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O jogo estava uma merda.

O Corinthians até estava jogando bem, mas nada que nos levasse a marcar um gol. A cada segundo era uma falta cometida, os jogadores começaram a brigar entre si e comecei a cogitar a possibilidade de que eles de fato saíssem na porrada no meio do campo. Todo o desentendimento entre as duas equipes acabou causando um estrago entre os próprios colegas, o que levou a um gol do São Paulo. Ao som do apito indicando o fim do primeiro tempo, todos entramos direto para o vestiário, os jogadores cabisbaixos e Mano Menezes, puto da vida.

– Que porra foi essa? Vocês são crianças?

O silêncio predomina no ambiente.

– Estão se deixando cair na pilha e é exatamente isso que eles querem! Parem de aceitar provocações, nós estamos na nossa casa, eles não podem chegar aqui e fazer o que bem entenderem.

Entendo sua indignação, eles praticamente entregaram o jogo ao se deixarem levar pela infantilidade dos jogadores rivais.

– Eu vou fazer algumas substituições e, espero do fundo do meu coração que vocês levem mais a sério aquele jogo lá fora! Isso não é o interclasse, mostrem pra eles quem é o mandante dessa casa.

O silêncio permaneceu até que voltássemos do intervalo, Mano montou sua estratégia novamente, apresentando aos jogadores quais seriam as substituições e o que eles deveriam fazer para que conseguíssemos reverter o placar ao nosso favor, todos concordaram com as cabeças e entraram no campo com sangue nos olhos.

O juiz levanta as plaquinhas indicando as substituições feitas durante o intervalo, Yuri Alberto saiu para Arthur Sousa e Romero deu espaço a Kayke. Parece arriscado trocar jogadores experientes por dois meninos de base, mas funciona bem, nos primeiros minutos é possível notar a diferença de ritmo de jogo, mas nada faz com que o São Paulo pare de provocar os jogadores do time.

Aos 7 minutos do segundo tempo, Calleri e Caetano disputam acirradamente pela bola, ambos vem se bicando durante todo o jogo e, quando Calleri peita o outro, dizendo algo para que só ele ouvisse, Caetano perde completamente a linha, dando uma cotovelada que faz o mesmo cair no chão. O juiz aciona o VAR, conferindo a falta e, logo levanta o cartão vermelho, indicando a expulsão de nosso zagueiro. Não consigo mensurar o quanto Mano está bravo na beira do campo, penso que a qualquer momento ele pode esganar o juiz, ou Caetano, ambos haviam o estressado quase que igualmente. 

– Porra! Eu acabei de falar, caralho - Grita, seguindo o zagueiro até a entrada que liga o campo aos vestiários - Você é maluco, Caetano? Tá querendo fuder o time?

– Me desculpa, professor - O garoto pede, mal conseguindo olhar nos olhos do técnico. 

– Você vai precisar dizer isso aos seus colegas de equipe, é a eles a quem você deve desculpas - Aponta.

O jogo segue acirrado, o time do São Paulo possuía vantagem, não só pelo gol como pelo jogador a mais em campo. Mas, aos 23 minutos do segundo tempo, Hugo faz uma jogada perfeita, deixando a bola no ângulo para que Kayke pudesse acertá-la e no encaixe quase que divino para o toque de Arthur, que marca um belíssimo gol de bicicleta, digno de premiação. A fiel torcida vai a loucura e o banco de reservas explode em gritos e comemorações, Arthur desliza pelo campo, homenageando Yuri, este que corre loucamente para abraçar o garoto junto com o resto do time.

A energia do estádio neste momento é surreal, a torcida empurra cada vez mais o time, vibrando a cada passe de bola e isso parece motivar ainda mais os jogadores porque, aos 31 minutos, outro gol é feito. Léo, que havia entrado 5 minutos antes, toca a bola para Kayke dentro da área, este desliza, driblando a zaga São Paulina e encaixando a bola na gaveta. A fiel explode com a virada, fazendo com que o local entre em combustão, a noite fria esquenta cada vez mais e os jogadores do São Paulo aparentam cansaço, desacreditados da reversão impressionante do placar.

PILANTRA - Kayke FerrariOnde histórias criam vida. Descubra agora