dezessete

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Assim que o ônibus estaciona no CT Dr. Joaquim Grava, agradeço a Deus por poder sentir minhas pernas de novo. São quase uma da tarde e estou faminta, por isto, assim que descemos do ônibus corro até a cozinha, delirando com o cheiro maravilhoso de comida.

Não demora muito para que todo o time venha pro mesmo lugar, quase 2 horas dentro de um ônibus de viagem fez com que parecesse que estávamos sem comer há dias.

– Nossa, Malu, vai deixar nada pra nois não? - Léo arregala os olhos ao ver meu prato.

– Eu preciso me alimentar, Leonardo, me deixa em paz - Reclamo.

Ao meu lado, Kayke sussurra:

– Achei que eu tinha te alimentado o suficiente ontem a noite.

– Não matou nem metade da minha fome - Sussurro de volta, dando de ombros.

– Maria Luiza, se eu te pego sozinha….

– Vai fazer o que? - Arqueio as sobrancelhas.

Não dá tempo para que ele responda porque somos interrompidos por Carlos Miguel ligando sua JBL no último volume em um funk que fala mais palavrões do que eu consigo processar.

– Ai sim em, Miguelito - Higor ri.

– Eu queria comer em silêncio - Mano resmunga.

Enquanto todos se acomodam ao redor da mesa, o burburinho da conversa animada preenche o espaço. Saboreio cada garfada e não consigo deixar de pensar como sou grata por fazer parte desse time, por ter a oportunidade de viver momentos como esse, cercada de pessoas incríveis que entendem não apenas a importância do trabalho árduo, mas também a necessidade de momentos de descontração e união.

Após a última garfada, olho ao redor da mesa e sorrio, sabendo que, apesar das diferenças e dos desafios que enfrentamos juntos, somos uma verdadeira família, unida não apenas pelo esporte, mas também por laços de amizade e companheirismo que transcendem as quatro linhas do campo.

Quando termino de comer, me dirijo até minha sala para terminar algumas evoluções de prontuários dos jogadores que vou liberar essa semana. Ao final do turno, me levantei decidida a conversar com Kayke como adultos. Guardo minhas coisas, procurando o garoto com os olhos por todo o CT. Pergunto para alguns dos jogadores se o viram e quando cada um responde uma coisa, decido esperá-lo em frente a seu carro.

Não demora mais que cinco minutos para que o jogador apareça.

– Oi, Malu - Ele parece surpreso ao me ver - Achei que cê tinha ido embora.

– Eu ainda tinha alguns prontuários pra liberar - Dou de ombros - Será que a gente pode conversar?

– Pode, mas aqui?

– Quer ir lá pra casa? - Questiono.

Kayke sorri malicioso.

– Claro.

Dou um tapa em seu braço, dando a volta no carro até chegar no banco do carona.

– Para de ser canalha, não foi pra isso que eu te convidei - Bufo, me jogando no banco em seguida.

Ele gargalha, se juntando a mim dentro do carro quentinho.

O caminho é preenchido por um silêncio confortável, escutamos música no volume baixo e Kayke apoia sua mão em minha coxa. Ao chegar no apartamento, convido-o para sentar-se no sofá, oferecendo algo para beber, que o garoto prontamente nega.

Me sento ao seu lado, respirando fundo antes de começar:

– Eu ouvi sua conversa com o Higor hoje de manhã - Falo baixinho.

PILANTRA - Kayke FerrariOnde histórias criam vida. Descubra agora