Capítulo 33: Mudança de Curso

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Rebeca estava prestes a sair da do laboratório para ir à locomotiva. No entanto, o Sr. Santana a deteve:

— Espere um pouco, Rebeca. Eu tenho uma condição; não quero que os passageiros saibam de suas intenções. — Disse ele.

Nos entreolhamos intrigados, mas o Sr. Santana se recusou a dizer o motivo de tal exigência, apenas disse que tinha razões pessoais. Não queríamos causar uma nova confusão, afinal a situação já era delicada o suficiente. Portanto, concordamos com isso. Talvez, Santana apenas quisesse que sua amada Primeira Classe não soubesse que ele concordara com Rebeca em alguma coisa.

Todos se retiraram do laboratório, contendo-se para não revelar informações sigilosas. Rebeca e eu seguimos para a locomotiva. O bondinho facilitou este trajeto.

Seguimos a pé a partir do vagão cinquenta e em poucos minutos chegamos à locomotiva do Expresso Frostcruiser. Rebeca abriu uma gaveta com sete livros; cada um correspondia a um continente, e retirou o livro cuja capa apresentava a América do Norte. O livro tratava-se de um grande atlas geográfico, com os mapas da ferrovia, representando cada quilômetro de trilho do continente. A maioria dos trilhos foi construída pelas Indústrias do Sr. Nylton, alguns feitos especificamente para o Frostcruiser, mas outros já existiam antes.

Rebeca sentou-se na cadeira do maquinista e delicadamente reduziu a velocidade do trem para menos da metade do habitual, assim teria mais tempo para analisar os mapas antes de chegar à alguma bifurcação importante.

Ela posicionou o livro sobre o painel da locomotiva, à sua frente, e foleou as páginas com grande atenção. Depois de nove anos sem ninguém para fazer a manutenção dos satélites e sistemas de G.P.S, estes tornaram-se consideravelmente imprecisos, e portanto, os mapas de papel deixaram de ser um método de pesquisa arcaico e tornaram-se o principal modo de navegação. Todavia são muito pouco usados, visto que o trem alterou seu trajeto pouquíssimas vezes desde a nossa partida da Estação Niterói.

— "Eureka!" Descobri! — De repente exclamou, Rebeca. — Encontrei a bifurcação que segue para o norte. E na hora exata! Ela só está à dez quilômetros de nós.

Me aproximei de Rebeca e olhei através do para-brisas da locomotiva. Me esforcei para distinguir a linha dos trilhos dos flocos de neve lançados ao ar pela força do limpa-neves. Com um binóculos encontrei a bifurcação dos trilhos. Era fácil identifica-la: os trilhos seguiam em linha reta, até certo ponto onde havia uma curva para o norte, e ela ficava cada vez mais nítida a medida em que o Expresso Fim do Mundo se aproximava dela.

— Rebeca, não acha que essa curva é estranhamente fechada? — A curva estava perto o bastante para ser vista sem o binóculo.

— Realmente, George. Mas é a única.

Rebeca e eu estávamos tão concentrados em olhar o atlas, que mal percebemos que a curva ficava abaixo de uma decida, onde o trem entrou a poucos quilômetros. Assim nossa velocidade aumentou um pouco sem nós percebermos.

De repente, o computador de bordo deu um aviso:

— Alerta! Alerta! Curva fechada à frente! Risco de sair dos trilhos!

— Misericórdia! — Exclamou Rebeca! — a velocidade está muito alta.

Rebeca segurou firme a alavanca que controla a velocidade. Puxando-a para trás a fim de desacelerar o trem.

O velocímetro aos poucos mudou suas medidas. Caímos de cinquenta e seis quilômetros por hora para cinquenta e cinco virgula nove, cinquenta e cinco virgula sete... Vírgula cinco...

— É impossível parar dez mil e um vagões em poucos segundos. — Eu disse.

O computador de bordo deu outro alerta:

— Entrando na curva em três, dois, um...

Então, sentimos um forte impacto provindo do lado posto à curva. Não o impacto em si, mas a força da inércia quando o trem manobrou. As xícaras de café no pires se estraçalharam ao cair no chão. Rebeca se apoiou em sua cadeira; eu perdi o equilíbrio. Mas a maior surpresa foi o ranger das rodas da locomotiva levantando-se dos trilhos. Assim se manteve a máquina por poucos segundos, até voltar à sua posição original com um estrondo quando chegou aos trilhos retilíneos.

Não só a locomotiva, mas trinta outros vagões repetiram o movimento. Este impacto reduziu nossa velocidade em poucos segundos e o Expresso estava seguro novamente.

— Espero que ninguém tenha visto isso. — Disse Rebeca sem olhar para trás.

— Eu estou muito bem, Rebeca. Obrigado por perguntar. — Disse enquanto me levantava...

Frostcruiser: - O Expresso Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora