Capítulo 51: A Todo Vapor Para A Vida!

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Começamos a nos mover na espiral. Os colonos tentaram parar o trem, arremessando ferramentas nos trilhos, mas felizmente já estávamos rápidos de mais para eles nos alcançarem, e também enquanto mais subíamos em direção à superfície, mais distantes ficávamos deles. Até que finalmente alcançamos a última volta da espiral, que dava para a saída do bunker. A temperatura caia mais e mais a cada quilometro. E mudou aos pouco de suaves vinte graus positivos para cento e dezoito graus abaixo de zero. O aquecedor estava desligado e tivemos e reativa-lo quando estávamos subindo.

Rebeca adiou a ativação do aquecedor o máximo possível, pois cada fração da eletricidade do trem deveria ser usada para mante o motor funcionado enquanto acelerávamos.

A energia transmitida pelas rodas, abriu a porta do bunker quando nos aproximamos dela. Porém, mesmo com a porta aberta, o caminho ainda estava bloqueado por um grande monte de neve do lado de fora da caverna. Esse monte de neve, apesar de grande e denso, não era páreo para a fortaleza de aço, e a locomotiva o destruiu com um simples toque, arremessando grandes blocos de neve para todos os lados.

Agora, estávamos livres daquele lugar. Infelizmente, não podíamos disfrutar deste alívio com André, e mais alguns que estavam nos últimos vagões.

Demorou bastante para que todo o restante do trem saísse daquela caverna. Mesmo perdendo quatro mil seiscentos e oitenta e nove vagões, o trem ainda tinha cerca de oitenta quilômetros de comprimento! Mas os colonos não podiam fazer nada, além de observar enfurecidos o trem indo embora. Bem, não foi tudo perdido, algumas plantas ainda estavam naqueles vagões, então os colonos ainda terão uma chance de sobreviver. Pelo ao menos é isso que eu espero, porque apesar de quase terem destruído nosso trem, eles só fizeram isso porque estavam desesperados; como os clandestinos, antes de se juntarem à Terceira Classe.

Estávamos a uns sete mil quilômetros da Etiópia, portanto só chegaremos lá em três dias, aproximadamente.

O motor não era mais o mesmo depois de ter parado pela primeira vez. Ele já vinha se desgastando desde a partida, e aquela parada piorou a sua condição. Só conseguimos prosseguir a toda velocidade por causa do peso a menos.

Três dias de viajem que passaram rápido. Mais rápido do que eu gostaria, para falar a verdade. O trem estava calmo. Tão calmo que parecia morto! Os passageiros ainda estavam se recuperando de tamanha emoção. Não havia brigas na Primeira Classe, mesmo com uma centena de animais espalhados pelo trem. Acho que todos só queriam que aquela viajem eterna pelo deserto congelado chegasse ao fim. Ninguém se importava com o fato de viverem em um trem, porque não havia outro lugar para viver. Agora que descobriram outros mundos, não querem mais ficar a bordo.

Os corredores estavam vazios. Os únicos lugares ocupados eram os jardins da primeira classe, o zoológico e as praças de alimentação. Acredito que todos queiram se sentir mais próximos da natureza, pois é assim que será o Novo Éden.

Em dois dias e meio, chegamos ao Egito. Ainda estava cheio de neve, mas Rebeca ficou feliz ao vez a temperatura:

—Atenção passageiros! A temperatura exterior é de setenta e dois graus negativos. Chegaremos na Etiópia em algumas horas.

Foi uma emoção sem igual, conforme nos aproximamos da Etiópia. Finalmente, Rebeca desacelerou o trem, cada vez mais devagar, enquanto víamos a neve diminuir, expondo pedras e terra.

Estava vigiando o termômetro, sem tirar os olhos dele. A temperatura subia cerca de um grau a cada dois quilômetros. As vezes um pouco mais, as vezes um pouco menos. As nuvens cinzas iam se dissipando dando lugar aos tímidos raios de sol. Rebeca estava sentada na cadeira do Sr. Nylton, anestesiada pela emoção.

A temperatura subiu ainda mais e já estava em trinta graus abaixo de zero. Logo estava em vinte negativos... Dez negativos.

O trem começou a superaquecer e os aquecedores foram desligados aos poucos. Quando nos demos conta, não havia mais neve próxima aos trilhos, ao invés disso, pedras e terra árida. Haviam poucas nuvens no céu, e o Sol brilhava.

Finalmente, a locomotiva começou a fazer barulhos estranhos, e descobrimos que esses barulhos eram causados pela falta de neve nos trilhos, que faziam as rodas rangerem de forma diferente.

Chegamos à capital da Etiópia, onde a temperatura estava tão alta que fritou os sistemas do motor, fazendo o Frostcruiser desacelerar até parar lentamente...

— Isso é real mesmo? — Perguntei à Rebeca.

— É, George! É real, sim!

Rabeca desligou o trem por completo e fomos até o vagão com a porta mais próxima. Rebeca apertou um botão especial que fez com que todas as outras portas se abrissem também. — incluindo as portas do vagão zoológico.

—Atenção passageiros, a temperatura externa é de vinte e três graus positivos... Bem vindos ao Novo Éden! —Disse Rebeca.

Os passageiros estavam incrédulos que as portas realmente foram abertas. E demoraram um pouco mais para sair do que eu esperava. Gostaria de descrever em detalhes a emoção que senti, mas era tanta que mal pude andar até a porta. Rebeca foi quem me ajudou a alcança-la.

Saímos juntos do Expresso Frostcruiser. Foi incrível sentir abrisa suaves batendo no rosto; encher os pulmões com ar fresco. Mal podiaacreditar nisso! Agora, a grande maquina podia descansar em paz, pois acabou este capítulo da história da humanidade. Rebeca segurou minha mão, e olhando para frente, vimos uma pequena planta brotar do chão. Andamos em direção a ela, deixando o trem para traz. Caímos de joelhos no chão ao lado da plantinha germinando e com um pequeno botão de flor branca quase se abrindo.

Estava difícil respirar de tanta emoção. Olhando para trás, vimos a locomotiva eterna, agora parada de uma vez por todas. Ela cumpriu seu papel de resguardar a vida na Terra, até que seus esforços foram recompensados. O grande trem, agora será história para as próximas gerações, de como um homem chamado Nylton destruiu o mundo, de como um jardineiro libertou centenas, de como uma maquinista mudou o mundo, e de como a humanidade sobreviveu por nove anos a bordo de um trem de dez mil e um vagões.

Este capitulo acabou, agora quero começar um novo, ao lado de Rebeca. A humanidade vai começar um novo capitulo. A vida vai começar uma nova história.

Então, saindo do vagão zoológico, um pássaro alçou voo. Uma pomba passou voando sobre nossas cabeças, em direção ao horizonte.

FIM

Frostcruiser: - O Expresso Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora