Capítulo 35: Velhos Problemas

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— Atenção, passageiros! A temperatura externa é de cento e setenta e dois graus abaixo de zero. Estamos entrando no território de Manitoba, Canadá. — Começamos o dia com uma boa notícia, depois de três dias, chegamos ao nosso ponto de coleta de dados no Canadá.

Começar o dia é apenas uma força de expressão, pois já é quase meio dia. O anúncio apenas marcou nossa chegada a uma nova cidade.

Rebeca, estava feliz como a muito tempo eu não via, e para comemorar nossa conquista, me convidou para almoçarmos no vagão-restaurante. Este lugar não me trazia boas recordações; foi lá que a Sra. Martinez surtou ao me ver com Rebeca. Mas já que dessa vez a Sra. Martínez não está aqui para incomodar, não vi motivos para recusar o convite. E juntos, Rebeca e eu, seguimos para o restaurante.

— Rebeca, não acha que o Expresso está estranhamente calmo nestes últimos três dias?

— Sim, é muito bom saber que o Sr. Santana não está nos causando problemas.

Conversávamos na porta do restaurante antes de abri-la. Porém, assim que apertamos o botão e a porta automática se abriu, tivemos uma surpresa nada agradável: uma briga estava ocorrendo no local! Os clientes estavam jogando seus pratos sobre os cozinheiros e o Sr. Santana em pé sobre uma mesa incentivava o tumulto. Não sabíamos o motivo da briga, apenas escutávamos gritos.

Assim que o Sr. Santana percebeu a nossa presença, nos olhou fixamente e nos apontou um dedo, gritando:

— Tenho certeza que esses dois têm algo a ver com isto!

Todos pararam e também nos olharam com o mesmo olhar fixo.

Temendo o pior, tomei a frente e pedi para que todos se acalmassem, e antes de fazer algo indevido, me explicassem a causa de toda aquela agitação.

De imediato, um dos clientes se aproximou e me entregou um prato de salada, com verduras horríveis, dizendo:

— Estes seres, que pensam que são cozinheiros, se atreveram a nos servir comida neste estado, se é que podemos chamar isto de comida!

O cozinheiro, ex-membro da Primeira Classe, ouviu tudo e se defendeu:

— A culpa não é nossa! Os agricultores nos entregaram isto hoje de manhã.

— Ótimo! Vou ter que olhar o que está acontecendo nos vagões agrícola. — Disse Rebeca, em frustração.

E assim, deixando para trás a felicidade que sentíamos a poucos minutos, Rebeca e eu, seguimos para o setor de agricultura do trem. Enquanto isso, sistemas de coleta de dados, programados por Rebeca, analisavam a neve e o ambiente hostil por onde as rodas do Expresso passavam.

Entramos nos vagões agrícolas. Nós não entendíamos absolutamente nada de botânica, então estávamos acompanhados por Clara, uma bióloga contatada pela maquinista.

Clara pegou um pequeno pé de alface, com suas luvas cirúrgicas, olhou-o atentamente com sua lente de aumento de alta resolução; colocou um fragmento da folha em um refratômetro; e realizou análises em vários vagões, com seu microscópio de bolso. Mas as folhas de várias das últimas plantas da Terra estavam murchas, mortas e em um estranho estado de aparentarem de decompor, apesar de vivas.

Clara Retirou seus óculos e sua máscara de proteção e disse algo com uma expressão tão séria que antes mesmo de ela falar, nós já ficamos assustados:

— É uma epidemia! Uma bactéria, a qual eu ainda não pude identificar, está se espalhando e matando as plantas do trem. Provavelmente já está em dezenas, se não centenas de vagões! Vou fazer análises mais precisas no meu laboratório, mas isso pode levar dias, já que trabalho sozinha... O Sr. Nylton não se preocupou em salvar muitos cientistas, e os poucos que temos a bordo se recusam a trabalhar com você no comando.

A cientista se retirou, e nós, passamos a refletir, preocupados:

— Quando os agricultores se rebelaram na Revolta da Terra, ainda tínhamos as plantas intactas, porém inacessíveis, já que eles trancaram a Terceira Classe. Agora, elas estão ao nosso lado, porém morrendo. — Disse eu.

— Isso é horrível! Quase tão ruim quanto uma possível parada do motor eterno do trem. Sem as plantas, morreremos de fome! E diferentemente da hipótese da Terra voltar à vida, este problema na agricultura é algo que não poderemos esconder. É só uma questão de tempo até que o trem inteiro fique sabendo...

Rebeca e eu estávamos pensando em como uma nova bactéria poderia surgir depois de nove anos sem grandes problemas. Isto é.... Não é a primeira vez que acontece, mas enquanto o trem realizava sua quarta volta ao mundo, um fundo atacou as lavouras, mas, isto não foi nada comparado com o que estava acontecendo agora. Depois de refletir um pouco, nos veio à mente um pensamento perturbador: nos lembramos que tanto eu, quanto outros clandestinos retirados do vagão dez mil e um, durante o sistema do Sr. Nylton, usávamos uniformes com a inscrição atrás "Risco Biológico" . Além disso, antes de sair do fundo, recebíamos um forte sistema de desinfecção. Porém, quando libertamos os clandestinos, não tivemos nenhuma preocupação com possíveis contaminações.

O Sr. Nylton nos manteve trancados em um vagão escuro e sem a menor higiene durante nove anos. Logicamente, algumas bactérias se reproduziram e se modificaram lá dentro.

— Foram os clandestinos que contaminaram as plantações! — Exclamou, Rebeca.

Enquanto eu a acalmava, ouvimos passos se afastando de nós: Alguém escutou nossa conversa!

Frostcruiser: - O Expresso Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora