Capítulo 26: Para Lá e Para Cá

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Enquanto estávamos no salão, um pequeno alarme tocou. Era um pausado 'bip', que tocava não muito alto. Preocupado, perguntei à Rebeca:

— Precisamos nos preocupar com esse alarme?

— Não, George. Ele apenas significa que o piloto automático está se desligando, e preciso voltar à locomotiva. — respondeu Rebeca.

Estava escurecendo. Ficamos muito tempo discutindo, e agora, já está anoitecendo. Como o trem estava um caos, Rebeca permitiu que eu passasse a noite em um dos vagões da área restrita, entre a locomotiva e o vagão cinquenta. Dormi no vagão número trinta; este, não era muito diferente do vagão da falecida Sra. Martinez, apenas um pouco maior.

Este vagão já tinha um habitante: Um dos engenheiros. Mas como este passaria a noite consertando uma falha na locomotiva, pude dormir tranquilamente.

Na manhã seguinte, acordei com mais um anuncio automático:

— Atenção, todos a bordo! A temperatura externa é de cento e oitenta e dois graus a baixo de zero. Estamos percorrendo o território de Colorado, Estados Unidos da América. As Industrias Nylton lhes deseja um bom dia.

Levantei da cama e fui para a cozinha, o engenheiro que vivia no vagão estava lá. Rebeca não havia avisado para ele que eu estaria em sua casa, então, para evitar confusões desnecessárias, sai do vagão sem ser notado.

Depois de sair do vagão trinta, fui imediatamente ao encontro de Rebeca. Ela estava na locomotiva, e esta, era de livre acesso para mim. Quando entrei vi Rebeca na cadeira do Sr. Nylton, de frente para o para-brisas dianteiro. Em seu colo, havia um caderno e uma caneta. No caderno, várias anotações.

Ela percebeu minha presença, então perguntei a ela sorridente:

— Bom dia Rebeca! Como acordou o Expresso Frostcruiser, esta manhã?

— Péssimo! Todas as classes estão caóticas! Talvez trocar os passageiros de lugar, não tenha sido uma boa ideia. São mais de cinco mil pessoas passando de um lugar a outro do trem. Passageiros da Primeira Classe tirados à força de seus vagões e enviados para a Terceira Classe. Já os dá terceira estão indo felizes para a frente do trem. Ver isto, deixa as pessoas da Primeira Classe ainda mais furiosas! Entretanto, há algo de bom nisto: a Terceira Classe precisa descansar um pouco, e a Primeira Classe precisa aprender a trabalhar no trem. — Disse Rebeca, pensativa, enquanto balançava a caneta no ar.

— Bem, Rebeca... Podemos colocar os passageiros da Primeira Classe na Terceira... Mas não podemos convence-los a trabalhar."

— Eles precisam trabalhar! Caso contrário, o que será da agricultura? Todos morreremos de fome!

Deixei Rebeca refletindo na locomotiva e, enquanto isso, fui ver como estava o resto do trem.

A Primeira Classe estava caótica! Tal qual Rebeca mencionou. O prestígio e o luxo foram deixados de lado, pois os passageiros gritavam de tal forma que o lugar parecia um zoológico. Pessoas eram tiradas de seus vagões e levadas contra sua vontade para a Terceira Classe e para o fundo. É lógico que o bondinho não tinha capacidade para tantas pessoas simultaneamente, portanto todos faziam esse percurso a pé. Ao mesmo tempo, famílias da Terceira Classe e do fundo, que agora fundiram-se em uma única classe, eram trazidas, felizes, para ocupar aqueles vagões.

A Segunda Classe não foi muito afetada, pois eles eram um meio-termo perfeito entre a Primeira e a Terceira Classe. Todavia, alguns, escolhidos aleatoriamente, por meio de um sorteio, foram trocados de lugar com a Terceira Classe.

Enquanto a Terceira Classe, aos pouco migrava para a frente, encontrei meu amigo Vítor, que nos ajudou a sair do vagão dez mil e um. Ele estava confuso e ao mesmo tempo maravilhado, assim como todos os outros clandestinos, ao descobrir que o Expresso Frostcruiser é muito mais além da deprimente, fria e escura caixa de ferro onde vivemos por nove anos, na cauda do trem.

Assim que me viu, correu em minha direção, surpreso em me ver.

— George, este trem é maravilhoso! Você está aqui na frente a mais tempo, pode me mostrar alguns lugares? — Disse ele, empolgado para conhecer o trem.

— Você não prefere colocar suas coisas em seu novo vagão, primeiro?

— Que coisas? Esqueceu o quanto foi difícil embarcar neste trem? Tudo que tenho é esta velha mochila que sempre carrego comigo. Como pode ver, não temos impedimento! Mostre-me o Expresso Fim do Mundo! — Concluiu.

Conhecendo bem meu amigo, sei de um lugar que ele adoraria conhecer, embora eu mesmo nunca tenha ido lá: o vagão-zoológico!

Assim, seguimos juntos para este vagão, próximo ao final da Primeira Classe. Para tal, usamos o bondinho, já que Rebeca me deu um cartão de acesso a ele, e mesmo com uma movimentação enorme de pessoas de uma ponta à outra do Frostcruiser, pudemos usar o bondinho sem restrições.

Seria bom ver que mesmo em um planeta destruído pelo frio extremo, ainda existiam animais vivos dentro de um vagão de trem. Não apenas para consumo, como as vacas e as galinhas no setor de agricultura, mas animais que estavam lá para serem admirados. O que pode ser mais prazeroso do que contemplar magníficos animais vivendo harmoniosamente?

Frostcruiser: - O Expresso Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora