Capítulo 30: Flocos De Esperança

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Saímos imediatamente do parque aquático, abandonando a festa. Não precisamos justificar nossa saída repentina para ninguém, pois André fez isto por nós.

O vagão de tratamento de agua ficava na Terceira Classe, no vagão oito mil quatrocentos e doze, para ser mais preciso. Graças ao bondinho, chegamos lá antes das vinte e duas horas.

O lugar era interessante, com várias tubulações passando de um lugar a outro. Parecia uma fábrica antiga, com bombas a pistão e eletromecânicas conectando os filtros de água aos teques de armazenamento. Próximo à porta, o painel de controle principal informava o estado atual das máquinas, ele continha inúmeros medidores e indicadores. Rebeca os conhecia muito bem e sabia a função exata de cada um; eu, não entendi absolutamente nada.

Rebeca analisou minuciosamente cada um daqueles indicadores, reviu os manuais e as fichas de parâmetros para entender o motivo pelo qual a água do trem estava com gosto estranho. Suas principais suspeitas eram que os produtos usados no tratamento da agua estavam na dosagem errada, ou que algum fluído que que não faz parte do tratamento tenha entrado no sistema por meio de vazamento ou falha humana.

— Isso é muito estranho... Tudo indica que os sistemas estão funcionando normalmente e que a contaminação veio do exterior do trem! — Disse Rebeca, intrigada.

— Rebeca, como isso pode ser possível? Como algo do exterior pode ter afetado o trem? — Perguntei curioso.

— Muito simples, George. Toda a água do Expresso Frostcruiser vem da captação da neve na lateral dos trilhos. Uma peça chamada brânquia, parecida com um conjunto de pás na lateral externa do trem coleta a neve jogada para fora dos trilhos pelas rodas, e um sistema de canos coleta essa neve e a envia para cá. A neve é aquecida para que se torne água, e depois é filtrada várias vezes. Assim, temos um fornecimento perpétuo de agua potável. — Explicou Rebeca.

— Fantástico! Mas, já houve uma contaminação assim?

— Nunca! Há alguma coisa diferente na neve, agora. Vamos analisa-la melhor no laboratório do trem.

Assim, levamos uma garrafa de água para o laboratório, no vagão seguinte. Este, dispensava apresentações. Era exatamente como um laboratório de pesquisas, nem parecia que estava dentro de um vagão de trem.

Chegando lá, Rebeca pegou um pouco da agua com uma seringa e pingou cinco gotas em uma lâmina, então inseriu a lâmina em um aparelho, semelhante a um microscópio eletrônico. Esperamos alguns segundos enquanto o resultado aparecia pouco a pouco no monitor; linha por linha. Rebeca aos poucos decifrava o mistério. Primeiro, pensei que além de tudo, Rebeca também era uma cientista. Mas percebi que tal conhecimento era desnecessário, pois o monitor já forneceu os resultados prontos.

Quando a última linha de análise foi exposta, Rebeca perdeu o equilíbrio, quase caiu no chão, se apoiando em uma cadeira. Colocou a mão na boca para esconder seu grito. Ela estava eufórica, como se não acreditasse no que lera.

— Eu não acredito! — Gritou com um largo sorriso no rosto, enquanto retomava os sentidos. E continuou: — A água contém cloreto de bário e amônia! Em grande quantidade!

— Isso deveria significar alguma coisa para mim? — Perguntei à Rebeca, pois não tinha ideia do que era isto.

— Essa é a fórmula do NH3! O NH3 lançado na atmosfera começou a se dissolver e está caindo junto com a neve. Por isso a agua está com gosto estranho, está nevando NH3. — Explicou ela.

— E isso é bom?

— É Maravilhoso! Significa que algum ponto na Terra está descongelando! Existe uma chance real de sairmos do trem!



Nota do Autor: Fim da Parte 3

Frostcruiser: - O Expresso Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora