XV.
"Voce está bravo comigo."
Qualquer parte da raiva de Voldemort que varreu a sala desapareceu agora. Ainda está presente, na dor surda em seu crânio, no vermelho dos olhos de Voldemort, na maneira como ele está sentado em frente a Harry, como se pudesse muito bem se levantar novamente e atacar a jugular.
A mesa está colocada entre eles, todas as horcruxes de Voldemort – ou, pelo menos, todas as que Harry encontrou – dispostas entre eles. Eles estão inquietos, como Voldemort, e Harry tem que lutar contra o desejo de recuperá-los com mãos gentis e sussurros suaves. Para acalmá-los, como ele fez tantas vezes antes.
Buscar a calma deles como um bálsamo para sua própria dor. Ainda há sangue secando na lateral do rosto.
"Não porque eu os tenha... estou vinculado, como você, a juramentos que não me permitem causar nenhum dano a eles." Harry acrescenta quando tudo o que Voldemort faz é olhar carrancudo, flexionando a mandíbula e os dedos cerrados. "Você está com raiva de mim porque pensou que eu não teria sucesso e odeia estar errado."
Voldemort enrijece ainda mais, mas ainda não fala. Há uma expressão em seus olhos e rosto que Harry interpreta como um cálculo frio. Algo com que Voldemort não olhou para ele desde aquele primeiro dia, no hotel trouxa, depois que Harry de alguma forma conseguiu virar o jogo a seu favor.
Como, talvez, ele esteja sendo avaliado. Ou reavaliado, por assim dizer.
"Você fez uma aposta e perdeu esta aposta em particular. Isso irrita. Eu sei porque posso sentir isso." Harry finalmente diz, apontando com a mão em direção à cicatriz, ainda queimando e vermelha, com as têmporas latejando. "Cada pequena emoção espinhosa, eu posso sentir. Sua raiva. Sua frustração. Até mesmo seu medo."
A boca de Voldemort se curva em um sorriso de escárnio que é muito pouco atraente em um rosto bonito. Uma projeção de quem ele poderia ter sido, e a fachada disso se enterra sob a pele de Harry.
Ele não está lidando com Lord Gaunt. Ele não está lidando com Tom Riddle. Ele está lidando com Voldemort.
"Você já me disse algumas vezes que não posso mentir para você." Harry diz, num tom tão agradável quanto possível, com um sorriso conciso. "Bem, o contrário é o mesmo. Eu conheço você, Lord Voldemort."
Há alguma coisa. Quase uma hesitação. Uma contração.
Algo inunda a conexão entre eles. Algo que Harry não consegue identificar ou nomear, tão estranho que é quase um tapa na cara, exceto pelo fato de ser incrivelmente quente. Praticamente queimando.
Harry franze a testa.
"Abandone o glamour", diz ele.
Ele nem precisa se mover. Como água parada ondulando ao primeiro toque, o glamour se dissipa. Derrete-se em nada, até que apenas Lord Voldemort permaneça.
Harry leva um momento – um momento verdadeiro e honesto – para olhar para ele. No salão de sua pele e no vermelho de seus olhos. Nas fendas serpentinas de seu nariz. Nas maçãs do rosto, ainda altas, e no queixo, ainda firme.
Antes dele não existe mais algum bicho-papão sobre o qual os pais alertam seus filhos. Nenhum pesadelo esquelético que emergiu das profundezas de um caldeirão. É apenas um homem que fez todas as escolhas erradas, cujo rosto mostra o preço que essas escolhas cobraram.
É Lorde Voldemort. É Tom Riddle.
Voldemort se mexe na cadeira, recostando-se e com uma perna cruzada sobre a outra. Tão afetado e adequado como sempre é. O mesmo idiota que Harry sabe que Tom Riddle era. Pomposo e arrogante e, talvez, um pouco inseguro.
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Draw me after you (let us run) TOMARRY
Fanfiction"Harry Potter", vem o silvo suave e sibilante de uma voz que ele ouve em seus sonhos, em seus pesadelos, em suas horas de vigília há anos. Lenta e cuidadosamente, Harry se vira e fica de joelhos. Ele fica lá, com a respiração curta embaçando-se na f...