𝑃𝑅𝐸𝑁𝑈́𝑁𝐶𝐼𝑂 | 𝐴 𝑓𝑖𝑡𝑎

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Azriel pousou na varanda da Casa do Vento, uma dor de cabeça insistente fazendo suas têmporas latejarem. Toda aquela história com a Rainha Mortal estava lhe dando muito mais trabalho do que gostaria, mas tinha que conseguir contornar aquilo, Rhys estava contando com ele. E, com todos os problemas que seu irmão tinha... Ele não queria preocupá-lo mais. Apesar dos desentendimentos que os dois vinham tendo desde o Solstício, Azriel ainda faria de tudo por Rhysand. Não por ele ser seu Grão-Senhor. Não por dever. Mas porque ele era família.

Um dia, seus irmãos o tinham escolhido e, depois disso, o encantador de sombras jurou a si mesmo que sempre escolheria a eles. E eles sequer precisariam pedir. Azriel escolheria eles acima de qualquer coisa.

Acima de seu orgulho. Acima de seu querer. Acima de seu desejo.

Az sabia que agora seus irmãos tinham alguém acima dele para escolherem, mas eles ainda eram sua primeira escolha. Ainda eram, e continuariam sendo, tudo o que verdadeiramente tinha.

O Illyriano fechou os olhos com força, estava tarde e pensar naquelas coisas não iria ajudar sua dor de cabeça diminuir. Caminhando para seu quarto, ele começou a retirar as lâminas presas em seu corpo, deixando que suas sombras as guardassem. Quando entrou no cômodo, passou a desfazer as amarras da armadura e jogou num canto, assim como fez com as botas. Assim que as tirou, sentou-se no colchão, soltou um suspiro, olhou para o quarto escuro, para sua cama fria e riu.

O que estava fazendo ali? Não queria passar a noite deixando a sua mente vagar para cenários do que poderia ter sido, coisas que poderiam ter acontecido. Não queria pensar em Elain. Não queria tentar entender o que estava sentindo. Muito menos deixar sua mente levar seus pensamentos para assuntos muito mais sombrios e que lhe tiravam o sono há muito mais tempo.

E ele sabia que não iria dormir.

Suas sombras esgueiram-se por seus ombros, sem concordar ou ordenar que ao menos tentasse, apenas o lembrando que estavam ali. Como sempre estiveram e permaneceriam. Azriel deu um sorriso torto para elas e estendeu o braço, vendo os filetes de fumaça negra se unirem-se em um só e rodopiar de seu ombro até sua mão como uma serpente. Ele fechou o punho, fazendo com que se dissipassem e tentou aliviar a tensão em seu corpo, mas sabia que só tinha forma de conseguir fazer isso: batendo em alguma coisa.

Por isso, como vinha fazendo há meses, ele subiu para o ringue.

O que o encantador de sombras não esperava era que, novamente, encontraria o lugar ocupado. E ficou dividido em ficar frustrado por isso ou agradecer aos Deuses que, pelo menos dessa vez, teve tempo de se misturar a suas sombras antes que sua presença fosse notada. Desde que ela havia lhe entregado o colar — "desde", no caso, era conhecido como a noite anterior —, eles não tinham se falado. Não diretamente.

O treinamento havia voltado naquela manhã e ele tinha assumido, pois Cassian estava em Illyria e parecia não querer voltar para casa por alguns dias. E Az tinha a impressão de que isso tinha algo a ver com Nestha e como as coisas haviam se desenrolado entre eles após o Solstício. Coisas que ele pensou que tinham sido boas e não conseguia entender o motivo do seu irmão estar se esquivando.

No entanto, há muito que não tentava mais entender a dinâmica insana daqueles dois. Por isso, quando seu irmão pediu que ele assumisse o treinamento, ele o fez como um favor. Quando tinha visto a ruiva no ringue pela manhã, ficou meio tenso e temeroso de que a situação ficasse esquisita, mas como ela apenas o ignorou, fez o mesmo. Exceto para passar as ordens dos exercícios.

Azriel estava pronto para dar meio volta quando suas sombras voltaram a atenção para Gwyneth, que estava em frente a fita amarrada ao tronco mais uma vez, e por isso, ele a observou também.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝐸𝑠𝑡𝑒𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora