𝑃𝑅𝐸𝑁𝑈́𝑁𝐶𝐼𝑂 | 𝑂 𝑅𝑖𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑆𝑎𝑛𝑔𝑢𝑒

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Quando o mundo voltou a se solidificar à sua volta, Gwyn não se importou em olhar ao redor. Não se importou em olhar para as casas de pedra cinza, para a grama escura e a terra pisoteada abaixo dos seus pés. Não se importou em checar se alguém tinha notado sua presença. Não se importou com a ânsia de vômito quase se apoderando dela nem o frio que tinha tomado todo o seu corpo. Ela apenas bateu na porta de madeira à sua frente, se concentrando em firmar os pés no chão e continuar respirando.

Por Nestha, lembrou a si mesma.

A porta se abriu, revelando Emerie, mas a visão da Illyria ficou em segundo plano quando notou a Archeron mais atrás, os olhos e bochechas manchados de lágrimas, magoados, e agora parecendo surpresos e confusos ao mesmo tempo.

Gwyn apenas jogou os braços ao redor dela, a apertando contra si.

— Ouvi dizer que você pode precisar de nós — ela disse.

Nestha, apesar de parecer não acreditar no que estava acontecendo, a abraçou com força.

E ficou assim por alguns segundos, até começar a desfazer o abraço. A Archeron secou as lágrimas, ainda sem conseguir dizer nada, e olhou em direção a porta, onde viram Mor acenar — parecendo um tanto preocupada — e, logo depois, sumir.

Emerie veio para seu lado, parecendo meio abismada ao dizer:

— Não acredito que você saiu da biblioteca.

Gwyn acariciou os cabelos de Nestha. Lembrando-se que, quando Catrin fazia aquilo, uma parte dela sempre se sentia melhor.

— Algumas coisas são mais importantes do que o medo — Ela pigarrou. — Mas, por favor, não me lembre muito. Estou tão nervosa que vou vomitar.

Ela não estava brincando, mas ficou feliz ao ver que Emerie riu e até Nesta sorriu para aquilo.

A sacerdotisa pegou uma das mãos de sua amiga, soltou um suspiro e perguntou:

— E então? Quer conversar?

Emerie já tinha puxado duas cadeiras, deixando-as de frente para a de Nestha, junto à mesa da cozinha. As duas sentaram lá, enquanto a Illyria fazia chocolate quente e a Archeron tentava organizar os próprios pensamentos para poder falar. Quando a morena se juntou a elas, Nestha deu um gole longo e suspirou, depois disso, começou a falar.

Ela contou tudo, sobre como havia se sentido ao voar com Cassian, sobre como a sensação tinha mudado quando pousaram nas ruas de Velaris e se viu no meio de tanta gente. Sobre como a briga tinha começado.

E, é claro, Azriel não tinha lhe contado as coisas daquele jeito.

Nestha admitiu o medo que sentiu, que ainda sentia. E pareceu se segurar para não chorar de novo quando falou que Cassian tinha dito que estava acorrentado a ela. Sobre como quase tinha perdido o controle e sobre como o havia mandado ir embora.

Então, depois que ela terminou de falar, as duas assumiram seus papéis de amiga e a confortaram. Falaram que os dois iriam se resolver, que só precisavam de tempo para se acalmarem e poder conversar de novo. Nestha apenas assentiu e pediu para que mudassem de assunto. Assim, as três passaram a noite naquela cozinha, jantaram, comeram sobremesa e falaram sobre suas leituras e assuntos banais.

Passaram a noite inteira conversando sobre tudo e nada.

Durante aquele tempo com elas, Gwyn se sentiu tão em casa que quase se esqueceu que estava longe das proteções da Biblioteca na Montanha. No entanto, quando Nestha parecia se esforçar muito apenas para manter os olhos abertos, elas resolveram subir para os três quartos que haviam acima da loja.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝐸𝑠𝑡𝑒𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora