𝑃𝑅𝐸𝑁𝑈́𝑁𝐶𝐼𝑂 | 𝐶𝑎𝑟𝑦𝑡ℎ𝑖𝑎𝑛𝑎

167 32 61
                                    

Ao meio-dia, Gwyn não estava mais andando, mas sim, se arrastando.

Emerie e Nestha ofegavam e elas tinham começado a racionar a água. Por mais alto que subissem, por mais rochas que limpassem ao longo do caminho estreito, o pico de Ramiel não se aproximava. Parecia que havia uma eternidade entre elas e o topo.

O lado bom daquilo era que não viram mais ninguém. Não ouviram mais ninguém.

Suas pernas vacilaram, o ferimento ali doendo, assim como todo o seu corpo. Além disso, tinha um incessante fluxo de pensamentos sombrios rondando sua mente, como se fossem abutres que se reuniam para se banquetear.

Gwyn só queria parar de pensar se tudo aquilo era um erro, se as tinha incentivado a ti Lara a morte. Queria parar de pensar no passado. Só queria desligar sua mente...

Era possível que a Quebra não fosse um desafio apenas físico, mas mental também? Que esta montanha, de alguma forma, desenterrasse cada pedaço de seu medo e sugasse profundamente sua mente para dentro disso?

Não obteve resposta e não ousou perguntar nada a suas irmãs, porque conseguia ver os olhos assombrados das duas. Elas também estavam sendo atormentadas por dúvidas, revivendo seus próprios horrores.

Nenhuma delas falou. Quando pararam para almoçar, se a água pudesse ser chamada de almoço, sua perna tinha voltado a sangrar.

As três descansaram por tanto tempo quanto ousaram e depois se moveram novamente. Continuaram subindo. Essa era a única maneira. Passo por passo.

— Parece que estamos a dois terços do caminho para cima — Emerie, à frente, quebrou o silêncio.

A noite já havia caído, a lua brilhava o suficiente para manter o caminho da Quebra iluminado. Para mostrar aquelas três estrelas acima do pico de Ramiel. Acenando. Esperando. A luz guiando o caminho.

Mesmo que, se elas chegassem até o amanhecer, fosse ser um milagre. Principalmente porque...

— Preciso descansar — admitiu, se odiando por aquilo. Mas, o sangue ainda estava escorrendo da ferida aberta. Seu pulso estava fraco, sua boca seca e sua visão ficava escura de tempos em tempos. Num intervalo muito curto, se fosse sincera — Só... só mais um minuto.

Emerie pareceu ficar dividida. Ela tinha tropeçado em uma pedra solta duas horas antes e torceu o tornozelo — agora mancava. E as três sabiam que estavam se movendo muito lentamente.

— O Passo de Enalius não está muito à frente — insistiu Emerie, as impulsionando, a ânsia de chegar até lá em cima em sua voz. Quase como uma necessidade — Se conseguirmos atravessar o arco, então é uma escalada limpa até o topo.

Nesse momento, tudo o que Gwyn viu foi borrões pretos e se segurou para não cair. Ela respirou fundo e admitiu:

— Não tenho certeza se eu consigo.

— Deixe-a descansar, Emerie — disse Nestha, sentando em uma pequena rocha ao seu lado.

O amanhecer estava próximo, pelo céu, que agora ela encarava, deveria chegar em quatro horas. Então, estaria tudo acabado. Importaria mesmo se elas já tivessem atingido o topo até lá? Se elas tivessem ganho? Elas já tinham chegado até ali... Mas Gwyn sabia que importava porque... Seus ouvidos captaram sons de movimento abaixo. Seus olhos instintivamente atraídos na direção, ela praguejou, chamando a atenção de Nestha enquanto perguntava:

— Como eles chegaram aqui?

Nestha parou, então os viu. Um macho de aparência familiar e outros seis subiam a montanha atrás delas. Uma boa distância para trás, mas se aproximando rápido.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝐸𝑠𝑡𝑒𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora