𝑃𝑅𝐸𝑁𝑈́𝑁𝐶𝐼𝑂 | 𝐴 𝑄𝑢𝑒𝑏𝑟𝑎

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Ela mal havia dormido. Os poucos momentos em que se permitiu tentar resultaram em estados meio entorpecidos, naquele estágio em que não é possível dizer se está acordada ou dormindo. Sendo assim, passou a maior parte da noite focada em sua respiração, em fazer o sangue circular em suas veias e descansar ao máximo seu corpo dolorido. A boa notícia é que sua perna não havia infeccionado.

Gwyn olhou para a encosta preta e cinza à frente. Bem no alto, parecendo longe demais, ficava seu pico com a pedra negra sagrada.

Três estrelas brilhavam acima da montanha: Arktos e Oristes à esquerda e à direita; Carynth as coroando. Sua luz brilhou e diminuiu, como se fosse um convite e um desafio e Gwyneth sentiu um arrepio descer por sua coluna.

— Cassian me disse que apenas doze chegaram até aqui — Nestha murmurou — Já conquistamos o título de oristianas só por estarmos aqui.

Emerie se mexeu, como se contemplasse a ideia, e disse:

— Podemos ficar aqui hoje, esperar durante a noite e terminar ao amanhecer. Para o inferno com quaisquer títulos.

Seria a coisa certa a fazer. A coisa segura a fazer. Então por que diabos tudo nela era contra a ideia?

— Esse caminho — disse Nestha, apontando para um pequeno ao longo da base de Ramiel. — Também pode nos levar para o sul. Ninguém iria por ali, porque isso levaria você para longe da montanha.

Antes que se desse conta, se ouviu falando, a voz rouca?

— Então, viemos até aqui e, agora, apenas nos escondemos?

— Você está ferida. — Nestha rebateu. Sim, ela estava — E essa é uma montanha à nossa frente.

Pelo visto estavam apontando coisas óbvias, mas não comentou aquilo, apenas exigiu:

— Então, ao invés de tentar e falhar. Você quer tomar o caminho seguro?

— Nós viveríamos. — Emerie disse cuidadosamente. — Eu adoraria nada mais do que limpar os sorrisos dos homens da minha aldeia, mas não a esse custo. Não se isso nos custar você, Gwyn. Precisamos de você para viver.

E eu preciso começar a viver, berrou por dentro, mas engoliu as palavras junto ao nó em sua garganta.

— Mas isso é viver? Para pegar o caminho seguro?

Ela estudou a encosta íngreme e implacável de Ramiel. Não havia muita neve nas laterais. Como se o vento tivesse varrido tudo. Ou como se as tempestades evitassem totalmente seu pico.

— Você é aquela que está em uma biblioteca há dois anos. — Emerie falou.

Sabia disso, havia se trancado lá nos últimos dois anos. E, antes disso, estava contida a Sangravah, tentando sua vida inteira ser o que esperavam que fosse, ser impecável e não decepcionar ninguém. Sem pressa ao fador de cumprir todos os seus deveres. Sempre fazendo a coisa certa. Sempre se mantendo em segurança porque era o que deveria ser feito... Ela estava tão malditamente cansada de se esconder e baixar a cabeça e deixar sua vida passar. Por isso, não vacilou ao dizer:

— Eu sei. E estou cansada disso. — examinou o couro encharcado de sangue ao longo de sua coxa, o ferimento que ainda queimava. — Não quero seguir o caminho seguro. — Ela apontou para a montanha, para o caminho estreito para cima. — Eu quero seguir por esse caminho. — Sua voz engrossou. — Eu quero pegar a estrada que ninguém ousa viajar, e eu quero viajar com vocês duas. Não importa o que aconteça conosco. Não faremos isso como Illyrianas, não por títulos, mas como algo novo. Para provar a eles, a todos, que algo novo e diferente pode triunfar sobre suas regras e restrições.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝐸𝑠𝑡𝑒𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora