Ao entrar na recepção da editora, Sarah me olhou com cara de cachorro que havia comido o chinelo e me estendeu o meu café. Entrei na minha personagem de malvadona e fechei a cara.
- Não fica brava comigo, por favor.- disse usando toda a sua fofura forçada. Peguei o meu café, a encarei e subi. Quando chegasse na minha sala, deixaria uma mensagem pra ela. Mas queria dar um susto primeiro. Não teve problema passar o meu número pro Bruno, no fundo eu até gostei mas, no geral, eu não gosto que tenham o meu número pessoal.
Foquei nas minhas revisões e reuniões online com alguns autores. Alguns eram muito legais comigo enquanto uma minoria tinha o ego maior que o talento e não aceitavam bem as minhas considerações em suas obras. E olha que eu era bem tranquila com as minhas observações.
Quando olhei para o relógio já passava das duas. Eu ainda não havia almoçado e me xinguei mentalmente por isso. Eu não poderia me descuidar da alimentação de jeito nenhum. Fiz uma pausa e fui para o refeitório esquentar a minha comida. Pra minha infelicidade, todo mundo estava com o almoço atrasado e a fila do micro-ondas estava enorme. Que ódio! Respirei fundo e resolvi aguardar a minha vez com paciência e resignação. O que eu mais odiava em filas era ter que ouvir a conversa alheia. Isso acabava com a minha energia porque, na maioria das vezes, eram assuntos desnecessários pra mim. Tipo agora quando a Natália do RH contava pra Débora do financeiro como tinha sido o seu date sensacional com o cara que ela conheceu na fila do cinema. Pra alguns a fila funciona. Cadê a Sarah nessas horas? Agora ela iria me distrair.
Quando chegou a minha vez, já estava verde de fome e nunca, três minutos passaram tão devagar. As mesas estavam lotadas também e eu nem percebi quando saí em direção ao parque que havia no final da rua, pra tentar ter um almoço tranquilo e silencioso. Sarah estava em uma ligação e nem me viu passar por ela com a minha marmitinha na mão. Eu tinha duas horas pra relaxar.
Caminhei normalmente e nem me dei conta de que estava próxima ao café que era no final da rua, em frente ao parque. Quando ia atravessando a rua ouvi uma voz me chamar e minhas pernas tremeram um pouco.
- Tá perdida? - brincou Bruno descendo alguns degraus de sua cafeteria e vindo até mim. Fiquei sem saber onde colocar a marmita que havia se tornado um acessório completamente desnecessário naquele momento, apesar da fome. Sorri sem jeito.
- Tô indo almoçar no parque. - ele olhou para o relógio e fez uma careta.
- Mas tá na hora de tomar café e não almoçar. - rimos junto.
- Fala isso para os meus autores. Bom, vou nessa senão esfria. - apontei sem jeito pra marmita e ele sorriu. Atravessei a rua é procurei um banco perto do lago pra comer. Estava quase desmaiando. Ali tinha uma sombra gostosa e hoje o sol estava bem forte. Sol era outro problema pra mim depois que fiz radioterapia. As queimaduras estavam sumindo mas ainda me lembravam do que eu passei. Vivia entupida de protetor solar. Comi bastante e tirei minha sandália pra poder ficar mais relaxada no banco. Eu odiava salto mas hoje acabei optando por usar. Cruzei as pernas no banco e respirei buscando sentir o ar mais ou menos puro do parque invadir os meus pulmões.
Quando abri os olhos, senti um arrepio gostoso e como se um imã puxasse os meus olhos, me virei para a direita e lá estava ele. Bruno caminhava de forma tranquila e despretensiosa em minha direção e eu somente pedia a Deus pra que não agisse de forma estranha com ele. Eu não queria que a minha luta interna pra vê-lo apenas como um cara gentil não me fizesse agir feito uma maluca perto dele. Então eu sorri.
-Está perdido? - ele riu se aproximando.
- Não tô. Vim fazer um delivery. - só aí notei a caixinha em sua mão.
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Sophia 📚☕️
RomanceSophia nunca foi um grande exemplo de vida. Assim ela pensava. Passaria despercebida facilmente em qualquer lugar. Mas quem a vê em sua discrição e simplicidade não imagina a mulher que ela precisou se tornar para vencer um câncer e sair de um relac...