🍀 Sorte🍀

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Reuniões depois do almoço minavam a minha energia que já nem estava lá essas coisas. Principalmente, quando elas poderiam lindamente ser um e-mail. Acho que o meu corpo ainda estava se adaptando à volta ao trabalho e qualquer coisinha ele entendia como uma ameaça à sua recuperação. Hoje, particularmente, estava sendo complicado pra ele. A minha mente estava vagando e nada trazia ela pra mesa de reuniões onde o Sr Marcelo não parava de falar. Meu Deus, como ele fala... Aliás, a minha mente ainda estava tomando o café do Bruno e comendo os bolinhos da Milena.

Que idiota eu fui!

Quando vi os dois conversando tão intimamente no balcão já imaginei que fosse algum rolo dele. Esses sentimentos são claramente um resquício doloroso de um relacionamento tóxico que eu tive. Não sei se o Felipe chegou a me trair, nunca soube de nada mas a insegurança que ele me deixava ficou comigo mesmo após o fim. E quando eu vi a Milena tão linda, vendendo saúde já vi que havia perdido o Bruno. Perdido o que não era meu! Por que eu tô agindo assim? Por que eu não posso só ir lá, tomar o meu café e vir embora com o coração em paz? Eu tinha decidido não voltar para me proteger e proteger ele também mas a Sarah disse que ele sempre mandava dizer que sentia a minha falta lá e eu sou carente, infelizmente. Também estava sentindo falta dele. A voz dele me acalma, eu gosto de ouvir a voz dele. Então eu fui.

Mas o que aconteceu hoje só serviu pra me mostrar o quanto eu ainda sou doente, quebrada e insegura. Proibida de me relacionar ainda. Notei que todos me observavam na mesa e o Sr Marcelo me olhava com a sobrancelha arqueada.

- O que acha, Sophia? - Era a pior pergunta que ele poderia me fazer porque eu não tinha ideia do assunto sobre o qual eu deveria dar a minha opinião.

- Eu? - ele me olhou confuso

- Sim, falta a sua opinião sobre realizar ou não o café mensal com nossos autores. - ufa! Era isso então. Salva pelo universo.

- Eu acho uma excelente ideia. Traz proximidade conosco e troca de experiência entre eles. Além de sair um pouco da nossa rotina.

Ele se mostrou satisfeito com a resposta e seguiu com o planejamento. Voltei para a minha sala e fui trabalhar. Quando olhei para o relógio era seis e meia e já estava estressada pensando em pegar o metrô lotado nesse horário. Normalmente, eu saía às cinco horas e ainda estava vazio. Selecionei uma playlist de pop internacional e coloquei o meu fone. Saí da editora em direção à estação quando senti um carro encostando, próximo a mim. Eu era meio neurada com assalto então apertei o passo sem olhar pro lado. Vi que ele me seguia ainda então decidi olhar. O máximo que me aconteceria era perder o celular com mochila e tudo. Mas pra minha surpresa quem estava no carro estava longe de ser um bandido. Tirei os fones e sorri.

- Eu gritei mas acho que você não me ouviu. - ele ria.

- Nossa, desculpa eu tava ouvindo música. - Bruno me olhava tranquilo e aquilo era um bálsamo pro meu cansaço de final de turno.

- Tá indo pra casa?

- É, vou pegar o metrô. E você?

- Também encerrei por hoje. Quer carona?

Tá bom. Seria uma grosseria recusar mas me sentiria meio folgada se aceitasse, fazendo com que ele desviasse a sua rota apenas pra me deixar em casa. Fora o fato de que estaria muito próxima dele e ele saberia onde eu moro, aumentando a nossa intimidade que eu não quero estender. E agora?

- Ah, não se preocupe. Obrigada mesmo mas o metrô tá pertinho... não precisa se incomodar.

- Sophia... Não me incomodo! Mesmo! Entra aí, deve tá cansada pra encarar o metrô lotado. - ah quer saber, entrei no carro e realmente seria bem melhor ir pra casa sem tá espremida. Era um carro confortável e o som estava ligado baixinho. Coloquei o cinto e ele arrancou. - coloca o seu endereço no maps por favor. - peguei o celular que ele me entregou e joguei meu endereço. Ele sorriu. - Você mora bem, sei onde fica essa rua é bem tranquila.

- Gosto demais de lá, apesar de ter pouco tempo que me mudei. É um prédio mais antigo mas bem conservado e com tudo perto.

- Praticidade, né? Também moro em um bairro assim.

- Você mora com a sua avó e a Milena? - tive medo de parecer uma intrusa no mesmo momento em que perguntei.

- Sim, e o Gordo o meu gato.

- Mentira que você tem um gato? - olhei pra ele já me simpatizando ainda mais com a sua figura acolhedora.

- Tenho. Sabe o Garfield? Idêntico!

- Nossa, sou apaixonada por bichinhos. Eles melhoram a nossa vida em mil porcento.

- Com certeza! O Gordo é mais na dele, por ser gato, mas é muito carinhoso quando tá carente ou com fome. - ri imaginando a cena. Gato era muito antissocial mesmo. Tão diferente do Pitico. - e você, tem algum bichinho?

- Eu tenho o Pitico, meu filho de quatro patas. É um bebê ainda mas é muito fofo. Um cachorrinho.

- Que demais! Tem raça ou é indefinida?

- É um pinscher. - sempre havia uma pausa dramática quando eu falava pra alguém a raça do meu cachorro porque, normalmente, as pessoas tinham um preconceito por serem nervosos e barulhentos. Mas pra minha surpresa, Bruno gargalhou.

- Nossa, eu imaginava qualquer outra raça menos que fosse um pinscher. - já estava armada até os dentes pra defender meu cachorro quando ele complementou. - acho que sofrem um preconceito enorme por terem a personalidade forte. Mas pelo que eu sei, eles morrem de amores pelo dono.

- É verdade, o Pitico é bastante carinhoso. Mas com relação aos outros ele tem algumas ressalvas. Não sou muito de receber visitas mas quando saio com ele pra passear sempre tem um estresse.

- Entendi. - Bruno ficou um instante em silêncio para fazer uma conversão e pude perceber o quanto ele ficava mais lindo ainda dirigindo. Não demorou muito até que chegássemos em minha rua e então ele estacionou. Ficou um silêncio meio chato enquanto tocava baixinho no som do carro alguma música dos Beatles. Eu precisava urgentemente quebrar o clima e sair logo do carro antes que as coisas fugissem do nosso controle.

- Obrigada pela carona, Bruno! Espero não ter desviado muito a sua rota.

- Foi um prazer, Sophia! Espero ter aliviado um pouco o seu final de dia.

- Nossa, você nem imagina! Obrigada mesmo.

- Não tem de que! Bom descanso pra você.

- Pra você também! - abri a porta do carro e acenei me despedindo. Ele arrancou depois que entrei no prédio. Era um Lord. No fundo eu fiquei meio decepcionada porque eu sei do interesse dele em mim e, mesmo assim, ele me trouxe apenas como amigo. Sem me cantar, sem pedir pra conhecer o meu apartamento. Isso deveria me mostrar o quanto ele era diferente de um macho escroto mas acho que eu precisava aprender a lidar com esse novo tipo de homem que ele era. Gentil, educado, agradável e prestativo.

Subi sorrindo e me deparei com a vizinha mau humorada do 201 na porta. Cumprimentei e já ia subindo quando ela disse com sua voz de cigarro.

- O seu cachorrinho latiu a tarde inteira. - me virei assustada pra ela. Normalmente, o Pitico dormia a tarde toda mas senti um tom desnecessário na voz dela.

- Obrigada por avisar. Vou ver se está tudo bem porque normalmente ele é bem tranquilo quando fica sozinho.

- Tomara que esteja tudo bem mesmo. - disse entrando em seu apartamento. Credo! Que conversa estranha a dela. Vou me lembrar de pedir proteção a Deus pra mim e pro meu doguinho.
Quando entrei, ele estava mesmo agitado. Veio balançando o rabinho e pedindo colo. Peguei ele, tirei o tênis e fiquei preocupada. Mas quando olhei pra janela da sala vi o motivo de tanto sofrimento. Era uma esperança ou louva Deus como alguns conhecem. Levei ele até lá, tremendo o coitadinho, e expliquei como se ele fosse mesmo me entender que era apenas um bichinho.

- Não precisa ter medo, filho! Ele não faz mal e é bem menor do que você. Ele normalmente traz sorte pra gente. - abri a janela e ele saiu, deixando o meu cachorrinho mais calmo. O coloquei no chão e olhei pela janela. Será mesmo que essa visita inesperada traria sorte pra dentro da minha casa? Estava precisando.

Sophia 📚☕️Onde histórias criam vida. Descubra agora