⏳️ O tempo ⏳️

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Já se passara um mês desde o dia em que aquele louva Deus pousou na minha janela e as coisas estavam, pela primeira vez depois de algum tempo, fluindo na minha vida. Agora, me olhando no espelho eu começava a me reconhecer e me lembrar de quem eu era. A minha cabeça estava preenchida de cabelos novamente. Pareciam mais mudinhas de tão pequenos mas estavam lá, crescendo. Eu estava usando um remedinho liberado pelo meu médico que também estimulava o crescimento. Mas nem de longe pareciam os que as sessões de quimioterapia haviam me levado. A questão agora era tempo e paciência. Também houve um avanço significativo nas terapias e eu agora já conseguia lidar com mais calma comigo mesma, mas era um longo caminho ainda a se trilhar.

Estava trabalhando no evento que promoveríamos com os nossos autores mensalmente, um café onde haveriam debates, leituras e muita troca de experiência. Quando o Sr Marcelo pediu sugestões sobre lugares eu logo pensei no Bruno, ou melhor na cafeteria dele. Primeiro levei o Sr Marcelo para tomar um café lá e apresentei o Bruno. Ele ficou maravilhado com o lugar e com a simpatia do meu amigo e eu, nem um pouco surpresa com isso. Depois sugeri o lugar e conversei com o Bruno pra ver se ele toparia receber o nosso encontro. Ele topou na hora. Mesmo não sendo a minha responsabilidade, o Sr Marcelo me pediu para articular e acompanhar todos os passos desse projeto e isso acabou me aproximando muito do Bruno. Conversávamos todos os dias e a cada dia que passava ele me surpreendia mais. Apesar dessa proximidade, ele nunca ultrapassou a barreira que eu havia criado anteriormente. Sempre respeitou o meu espaço e com isso ganhou ainda mais a minha confiança. Quando saía do trabalho, passava na cafeteria para conversar com ele e acabava quase sempre pegando uma carona pra casa. Mesmo sabendo que os meus planos de sermos apenas bons amigos estava fluindo com bastante êxito eu me sentia frustrada dele não tentar nada comigo. E se ele tivesse perdido o interesse em mim ou pior, tivesse conhecido alguém mais interessante e disponível? Isso me deixava louca! Ele era muito bonzinho, encantador mas era homem. Não me esperaria pro resto da vida dele. Sempre que eu parava pra pensar nisso, entrava em parafuso. Precisava desabafar e então chamei a Sarah para passearmos com os cachorros no parque do centro da cidade. Ela ia levar a Fiona, uma buldogue da mãe dela pra exercitar um pouco pois, segundo a minha amiga, a cachorra estava preguiçosa e gorda. O Pitico era por causa do estresse mesmo. Era uma manhã linda de sábado e sentamos em um banco quando nossas pernas foram vencidas pelo cansaço. Estávamos com roupa de caminhada para ficar mais confortável.

- Nossa, eu to enferrujada! Meia horinha de caminhada e eu já tô quase chamando o samu.- brincou a minha amiga. Achei graça.

- Você nasceu emferrujada, amiga! - ri me referindo à nossa brincadeira por ela ser ruiva e com sardas. E ela sempre me chamava de branquela azeda por causa da minha pele clara. Não havia maldade em nenhuma de nós com isso.

- Vai te catar! Mas me conta como tá indo com o Bruno.

- Ah, ele é um fofo. Estamos trabalhando na organização do café e ele sempre muito atencioso e profissional e...

- E você tá pirando com isso né?

- Não sei explicar o que eu tô sentindo. Eu que coloquei limites entre a gente mas tô com medo dele tá realmente me vendo apenas como uma amiga.

- Você é confusa demais, Sophia! Só tem uma forma de saber.

- Hum... - perguntei curiosa.

- Testando ele.

- Como eu vou fazer isso?

- Ah, não sei. Agora eu não tenho ideia mas vou pensar em alguma coisa.

- Não sei se eu quero fazer isso.

- Você precisa se decidir!

Ficamos em silêncio quando ela me deu um cutucão na costela que me fez quase gritar.

Sophia 📚☕️Onde histórias criam vida. Descubra agora