🌚 A hora do Pesadelo 🌚

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Bruno

O primeiro de todo o resto dos meus anos ao lado da mulher da minha vida foi comemorado com um jantar na cafeteria. Como eu queria me dedicar totalmente a ela nesse dia, encomendei um jantar de uma cantina italiana de um amigo.

Após fechar as portas para os clientes, corri pra casa pra tomar um banho e buscá-la em casa. Eu ainda não conseguia entender como, em ocasiões especiais, Sophia conseguia ficar ainda mais deslumbrante do que comumente já era de jeans, camiseta e tênis ou com seus vestidos coloridos que eu tanto amava. Ela era linda acordando, estressada com o trabalho, brincando com o Pitico, chegando suada e descabelada da caminhada no parque. Eu amava todas as versões dessa mulher. Mulher que eu queria pra mim oficialmente. De todas as vezes que toquei nesse assunto ela demonstrou uma certa cautela e eu conseguia entender.

Sophia tinha muito medo de planejar o futuro por causa de todas as suas dores e eu estava disposto a ir no tempo dela. Mesmo sonhando em dormir e acordar todos os dias junto. Sonhava com a nossa casa, com a nossa cara, lugar para os nossos bichos, plantas, amigos e família. Eu sabia que o fato de não poder ser mãe também a incomodava muito e deveria doer demais e isso, com toda a certeza do mundo, era fator determinante para que ela tivesse medo de se unir a alguém.

Eu a observava dormir e acho que nunca me cansaria disso. Apesar de tudo o que passou, Sophia conseguia ser divertida e leve e isso tornava o nosso relacionamento incrível. Não havia um só dia em que não dávamos ótimas gargalhadas ou, nos dias mais cansativos, nos acalentávamos um no colo do outro. Éramos amigos e isso contava muitos pontos a nosso favor. Adormeci sonhando com o dia que ela me aceitasse no futuro dela também.

Sophia

Bruno me deixou na editora e seguiu para o trabalho. Após um ano, ele ficava comigo em casa pelo menos umas três vezes na semana. Já havia roupas dele no meu armário, coisas que ele esquecia e isso nem de longe me incomodava. Eu sabia que ele não era daqueles caras folgados que iam pra casa de suas namoradas pra que elas cozinhassem, levassem suas roupas e ficassem a disposição deles.

Bem longe disso, quem cuidava de mim era ele e eu sentia falta dele nos dias que ia dormir em sua casa. Mas sabia que não poderia privá-lo de sua família também. De vez em quando surge o assunto "futuro" mas eu ainda tenho medo. Eu nunca poderei dar uma família pro Bruno e isso me dilacera. Ele nunca me cobrou nada mas eu sei que seria maravilhoso se o destino não tivesse sido tão filho da mãe comigo.

Eu estava atolada em trabalho e já era a minha quarta xícara de café do dia. Mesmo me policiando quanto à dieta, ninguém ousaria em tirar o meu café. Ele me dava coragem e energia mas eu tentava controlar a dosagem. Todavia, em dias como o de hoje, onde os prazos estavam explodindo na minha mesa e precisei ser um pouco mais enérgica com alguns revisores, eu perdia o controle na quantidade que consumia. Parei sentindo uma dor estranha, uma espécie de cólica. Nada muito forte mas incômoda. Não era menstruação uma vez que eu não mais ovulava, devido ao tratamento. E nem poderia de forma alguma. Caso minha menstruação descesse seria um problema, pois era sinal de que meu corpo estaria produzindo hormônio ainda.

Hormônio era risco do câncer voltar. Sacudi a cabeça tentando esquecer isso e voltar ao trabalho. Com certeza era a quantidade de café que eu tomei. Alguma dor no estômago ou intestino e eu estava confundindo tudo com as minhas paranoias.

- Tá estranha, amiga! Que cara é essa? Nem tocou na comida. - ressaltou Sarah enquanto almoçávamos no refeitório.

- Nada demais, só estresse mesmo. O dia hoje não tá legal e ainda tem a parte da tarde. - escondi a informação da dor pra que ela não surtasse, ligasse pro Bruno e os dois me levassem pra emergência. Eu conhecia bem eles e já bastava eu nervosa hoje.

- Tenta relaxar, você não pode ficar nervosa! Agora come pelo menos essa salada ou eu mando uma mensagem pro Bruno contando como foi nosso almoço. - ameaçou me fazendo revirar os olhos.

- Bruxa fofoqueira! - coloquei um monte de salada na boca mesmo sem vontade nenhuma. - tá bom assim pra você? - perguntei Após mastigar.

- Ainda não. Toma o suquinho de maracujá também. Vai te acalmar e é nutritivo. Anda! - exigiu quase que colocando o copo na minha boca. Tomei dela antes que o vexame fosse grande. No fundo, eu era muito grata por saber que mesmo sendo chatos as vezes, eu tinha quem se preocupasse de verdade comigo. Sorri.

- Tá rindo agora? Tô falando, tá ficando doida mesmo!

- Te amo! - disse rindo e jogando um guardanapo nela.

Tomei um banho de banheira demorado pra tentar relaxar. Bruno estava na cozinha preparando o jantar e mesmo achando que ele também deveria descansar, eu estava grata por ele ter ficado aqui hoje comigo. Não comentei nada com ele do meu estresse e da dor que ainda não havia passado mas ele percebeu que eu não estava tranquila. Me prometi a marcar uma consulta com meu médico pra ter certeza que era somente paranoia minha. Tinha que ser!
Jantamos, assistimos a um documentário sobre o John Kennedy e então apaguei.

Era muito sangue, para todos os lados que eu olhava havia o composto vermelho e o cheiro dele. Não havia mais uma gota de sangue no meu corpo, não era possível que houvesse. Olhei pra camisa branca do Bruno toda ensanguentada também, pois ele me carregou no colo até os paramédicos chegarem. O meu vestido branco agora estava manchado. E eu amava tanto ele, era uma pena. Precisava pedir ao Bruno pra colocar toda a minha roupa de cama na máquina hoje ainda para não perder também meus lençóis novos. Olhei pra cara de desespero dele e sorri. Sorri porque não havia mais o que fazer e era até engraçado que terminasse assim. Eu era uma piada pra Deus, só poderia!

Sarah chegou gritando enquanto minha visão ficava mais turva e uma dor insuperável no peito tomou conta de mim.

-Parada cardíaca! - ouvi uma voz gritando. Deve ser o paramédico por causa do macacão que vestia. Sarah gritava, Bruno olhava tudo em choque
e a única coisa que eu queria gritar antes de ir é que tudo ficaria bem.

- Não me deixa, meu amor! Pelo amor de Deus, alguém faz alguma coisa! - ele por fim gritou enquanto um desfribilador era colocado em mim. Uma luz se abriu na minha frente e então eu gritei.

Bruno

- EU NÃO QUERO IR! EU NÃO QUERO! BRUNO! NÃO ME DEIXA IR! - acordei com os gritos de Sophia ao meu lado. Ela se debatia e acendi a luz do abajour para tentar acalmá-la. Ela ainda dormia e estava tendo um pesadelo.

- Eu tô aqui, meu amor! Eu tô aqui! Sophia! Sophia! - eu acariciava o seu rosto até que ela, por fim, abriu os olhos. Ela estava muito assustada e olhava para a cama, para o quarto, para ela mesmo e finalmente para mim. - Calma, respira! Foi um pesadelo, acabou. Eu tô aqui!

- Eu tô viva! E não tem sangue. Tá tudo limpo.

- Sim, tá tudo bem. Vou pegar água pra você.

- Não, espera! Não me deixa sozinha aqui. - a abracei forte e a coloquei deitada no meu peito.

- Não vou sair. Tô aqui com você. Foi só um pesadelo.

- Eu não quero morrer, Bruno! - ela chorava e, por um lado, era bom ela colocar pra fora.

- Ninguém vai morrer! Você tá bem, acabou. Acabou, meu amor!

- Eu não tô bem. - ela me olhou, tentando se controlar. - eu senti algumas cólicas hoje e eu sei que não é normal.

- E não me contou nada? Poderíamos ter ido no hospital, Sophia! - controlei o tom de voz para não assustá-la mais ainda. Não era hora de cobrar nada dela mas o desespero era nítido dentro de mim também. - Vamos ao hospital.

- Não, Bruno! Não quero ir pra emergência. Por favor! Amanhã eu marco uma consulta com meu médico.

- Sem falta! Eu quero ir junto. Não vai ser nada. Você tá nervosa e o estresse causa muita coisa no nosso corpo. Agora tenta relaxar, tô aqui com você e nada de ruim vai te acontecer.

Ela ainda chorou um pouco até voltar a dormir. Eu não consegui mais desligar.

Olá, meus amores!

Todo mundo com o coração na mão?😱

Ótimo! 😅

Fortes emoções vindo por aí.🫣

Beijos e boa leitura! 🫶😘

Sophia 📚☕️Onde histórias criam vida. Descubra agora