Sophia nunca foi um grande exemplo de vida. Assim ela pensava. Passaria despercebida facilmente em qualquer lugar. Mas quem a vê em sua discrição e simplicidade não imagina a mulher que ela precisou se tornar para vencer um câncer e sair de um relac...
Às vezes, eu me arrependia de morar naquele prédio antigo, sem elevador. Subir três lances de escada, carregada de sacolas não tem charme nenhum. Pior ainda era encontrar as chaves de casa dentro da mochila. Parece que elas brincavam de pique esconde comigo mesmo eu tendo certeza de onde eu as coloquei. Talvez eu que estivesse mal humorada por alguma outra razão. Voltar a trabalhar estava sendo ótimo pra mim mas conviver novamente em sociedade e retomar a minha vida nem tanto. Tinha dois dias que eu havia tomado aquele café e conhecido o Bruno. E não voltei lá mais. Não por ele mas pelas palavras da Sarah sobre o fato de nem todo homem ser tão filho da mula quanto o meu ex. Também pelo fato de concordar com ela que, pelo menos à primeira vista, o Bruno era muito o meu número. E isso me encheu de medo, principalmente quando senti a pedra de gelo no estômago ao ver o sorriso dele pela primeira vez. Eu sabia o que aquilo significava pra mim e eu sempre, desde a adolescência, me apaixonei muito fácil e sempre dava errado. A minha carência era tão grande que eu não conseguia ficar sozinha. Até agora porque hoje eu sei o quanto eu preciso aprender a ficar sozinha e me amar. Eu não posso colocar ninguém na minha vida de novo. Se eu fosse uma pessoa que apenas ficasse casualmente e não me apegasse, seria mais fácil. Mas eu sou do tipo que já imagina um futuro, uma relação séria e acabo me deixando de lado pra viver pela outra pessoa. E isso quase me matou da última vez! Não, não! O Bruno parece ser um fofo, lindo de morrer mas não. E antes que meu estômago gele novamente eu prefiro ficar um tempo sem ir tomar o seu café delicioso até me colocar de novo dentro da casinha. Uma pessoa machucada, quando entra em um relacionamento sem se curar, machuca a outra pessoa mesmo sem querer. E ele não merece isso. Olha eu já achando que o interesse é mútuo! Ele apenas foi educado e gentil com a sua cliente. Eita, Sophia! Ao invés de romances, você deveria revisar ficção científica pra ficar uma pessoa mais fria ou suspense talvez.
Coloquei as sacolas na mesa da cozinha e me sentei no sofá com o Pitico já pulando no meu colo, lambendo o meu braço. Peguei meu celular e vi duas mensagens da minha mãe. A minha energia sucumbiu na mesma hora. Eu não tinha uma relação próxima com ela há algum tempo. Meu pai morreu quando eu tinha seis anos e eu era filha única. A minha mãe é uma pessoa narcisista e isso influenciou mais da metade dos medos que eu tenho hoje, junto com a baixa autoestima e carência afetiva. Quando eu fiz 18 anos, vim para a capital estudar e trabalhar e nossa relação que já era bastante fria, praticamente acabou. Ela soube do câncer e me ligava pra saber se eu precisava de alguma coisa mas nunca veio me ver. O alguma coisa dela é sempre dinheiro e eu nunca aceitei. Sempre me virei sozinha. Quando conheci o Felipe, depositei nele essa expectativa de família e como ele não tinha obrigação moral nenhuma disso, não correspondeu. Foi uma das lições que aprendi com ele, não deposite expectativa, principalmente afetiva, em ninguém. Gostar, amar não deve ser uma obrigação. Li as mensagens e respondi que estava tudo bem e joguei o celular de lado.
Tomei um banho demorado, vesti meu pijama de bichinhos, calcei minha pantufa e fui pra cozinha preparar alguma coisa pra comer e pra levar de almoço pro trabalho no dia seguinte. Eu não era a melhor cozinheira do mundo mas me virava. Fiz uma comidinha bem caseira, sem frituras e um suco de laranja que era o meu favorito. Jantei, arrumei a cozinha e fui assistir um filme na cama com o Pitico. Estava quase dormindo quando o meu celular apitou. Ou era a Sarah ou a operadora me oferecendo alguma "vantagem imperdível". Olhei e vi que era um número estranho. Suspirei entediada até começar a ler a mensagem:
"Sophia, me perdoe pela ousadia e pelo horário. Pedi o seu número pra Sarah que me passou morrendo de medo de você não gostar. Não a culpe, eu que insisti. Você não voltou à cafeteria e isso me preocupou. Foi aquilo que eu disse sobre você tentar parecer fria? Se sim, não foi minha intenção mas peço perdão se te magoei. Apenas quis fazer um elogio à impressão que tive de você mas não sou bom nisso. Enfim, fica o meu convite para voltar ao café. Adorei te conhecer! Uma noite tranquila e de descanso pra você. Bruno"
Era quase uma carta e eu fiquei admirada com isso. Quem manda mensagem longa hoje em dia? O Bruno, claro! E a Sarah me paga. Por isso ela estava estranha hoje o dia todo. E agora? Eu respondo? Óbvio, Sophia! Desde quando ficou mal educada? Eu tentava a todo custo ignorar o coração acelerado. Não posso ser emocionada! Vamos lá, você consegue. Digitei umas quatro mensagens e apaguei. Não queria ser objetiva e nem emocionada. A mensagem dele teve alma, tempo dedicado e aff... Respirei fundo e respondi.
" Boa noite, Bruno! Imagina, não se preocupe pois você foi muito gentil e eu amei tudo na sua cafeteria. Apenas o meu tempo está um pouco corrido pois estou com muito trabalho acumulado. Respondendo à sua pergunta daquele dia, não é só trabalho pra mim. A leitura me humaniza e me faz esquecer um pouco das minhas batalhas. É muito mais que um trabalho. Assim como você deixou transparecer que você ama o que faz e faz muito bem. Prometo que irei voltar. Uma ótima noite e bom descanso pra você também!"
Meu coração estava disparado e eu não poderia, em hipótese nenhuma, me deixar levar pela sensação gostosa de sentir aquilo novamente. Pra mim era como uma armadilha e eu ainda não estava preparada pra me defender. O celular apitou novamente e cogitei não olhar mas eu não conseguiria.
" Essa resposta não me surpreende. Você faz parte do mesmo time que eu, que coloca a sua alma em tudo o que faz. Entendo as suas defesas porque também sei das consequências de ser inteiro e intenso em tudo. Mas espero que a vida não te endureça."
Não consegui responder porque os meus olhos estavam embaçados e eu me xinguei por isso. Bruno era muito perigoso porque sabia encontrar brechas no muro que eu mesma criei em torno de mim. Respirei fundo algumas vezes esperando que o remédio que eu havia tomado para dormir fizesse efeito logo e desligasse a minha mente tão confusa e medrosa.
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Olá, meus amores!
Me contem depois se gostaram do Bruno e da Sarah, pessoas que serão anjos na vida de Sophia.