🫶 É preciso coragem 🫶

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Seguir em frente... Renascer com um passado tenebroso nas costas. Não é como um bebê que começa a vida com o placar zerado ou um jovem que está iniciando a vida acadêmica, amorosa, cheio de energia pra enfrentar os desafios que a vida arremessa na cara. Apesar de que, no caso dos bebês, algumas doutrinas religiosas acreditam que eles não venham com o placar zerado pois já possuem um karma para cumprir. Mas a eles é dado a dádiva do esquecimento do seu passado e eles podem viver como se nunca tivessem existido antes. Ao contrário de mim, que estou há dez minutos com o aplicativo do carro aberto em busca de um motorista que não ache a minha corrida não compensatória para ele em um dia de chuva pesada. Nisso que dá não saber dirigir! Sempre fui medrosa e ansiosa demais pra encarar o trânsito de uma metrópole como esta. Lugar onde, quase ninguém tem honra, princípios, educação e seta. Mas hoje eu me arrependia de não ter essa audácia pra direção já que era o meu primeiro dia de volta ao trabalho e eu já estava começando a me atrasar.

Levantei bem mais cedo, fiz o meu café com calma, tomei um banho morninho mas quando fui escolher a minha roupa travei ao me olhar no espelho. Mais especificamente pra minha cabeça semi nua. Olhei para a coleção de lenços, turbantes e duas perucas jogadas no fundo do guarda roupas e fiz uma careta. Não queria voltar a usar aquilo porque me lembrava da doença. Por outro lado, o meu cabelo ainda estava nascendo e eu sabia que isso chamava a atenção das pessoas. No fundo, eu só queria voltar a ser mais uma revisora numa sala minúscula e sem graça que ninguém notava. Não a menina que teve câncer e está voltando hoje. Mas eu sabia que nada mais seria como antes. Não adiantava querer ser a Sophia de um ano atrás. Eu não era mais. Vou careca mesmo!

Já estava quase desistindo do carro e correndo pro metrô, mesmo me ensopado de chuva, quando o motorista a menos de dois minutos de mim, me aceitou. Quase gritei! Essas pequenas alegrias têm me ajudado bastante no processo. Cheguei na editora ainda com cinco minutos a meu favor. Claro que pude notar alguns olhares de curiosidade misturada a piedade. Pessoas que nunca haviam me olhado antes. Estranhei a Sarah não estar na recepção, ela sempre era uma das primeiras a chegar. Sempre que eu chegava, Sarah já estava lá com o seu café e o meu que ela fazia questão de comprar todo dia. Segundo ela não custava nada, mesmo eu sempre dando bronca nela. Chamei o elevador e digitei uma mensagem pra ela, colocando o celular novamente na mochila. As portas do elevador se abriram no meu andar da revisão e vi que o hall que normalmente estava cheio nesse horário estava vazio. Estranhei novamente. Que diabos estava acontecendo? Era ponto facultativo e ninguém me avisou? Enfim... Fui para o corredor onde ficavam as salinhas dos revisores já experientes e entrei na sala 4, a minha.

Quase caí para traz com o susto que eu levei ao ver a Sarah, o Sr Marcelo e pelo menos mais umas dez pessoas que trabalhavam comigo ali aglomeradas em meio a balões e cupcakes. A minha amiga veio me abraçando e me entregando o meu café e um cupcake que estava com uma cara ótima.

- Bem vinda novamente, amiga! - disse me abraçando emocionada. - Não me mata!

- Não vou te matar! Você não existe mesmo! - disse tentando não me emocionar muito. Ultimamente, eu estava cultivando uma casca para proteger as minhas emoções. Logo veio o Sr Marcelo me abraçar também desejar as boas vindas.

- Quase enlouqueci sem você aqui. Que bom que está de volta conosco. Os seus romances chatos estão todos acumulados, só você mesmo pra dar conta deles. - eu ri do seu jeito fofo de dizer "você tem trabalho até para as suas próximas três gerações".

-Obrigada, senti falta deles também. E de vocês. - disse ampliando o meu olhar para os outros que me olhavam curiosos. Abracei a todos rapidamente que logo já pegaram seus cupcakes e cafés e saíram apressados.

- Os bolinhos foram feitos pela Olga que te mandou um milhão de abraços e disse que assim que conseguir, passa aqui pra te ver. - Olga era a esposa do Sr Marcelo. Uma senhora elegante e fofa que sempre trazia alguma quitandinha para tomarmos café. Todos aqui gostavam muito dela.

Sophia 📚☕️Onde histórias criam vida. Descubra agora