🎶 Respiros 🎶

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Era Sábado e acordei com o sol invadindo a minha cama. Cogitei me levantar pra fechar a cortina mas, quando olhei as horas pelo celular, vi que já estava fazendo hora extra no meu sono. Me rastejei até o banheiro ouvindo o Pitico se espreguiçar também. Dormimos juntos porque isso me fazia bem, me sentia menos sozinha. E ele tinha o mesmo mal humor matinal meu. Lavei meu rosto e essa era uma das piores horas do dia pra mim, porque eu meio que era obrigada a me olhar no espelho sem maquiagem, com o rosto inchado e da forma mais natural e humana que alguém pode ser. Eu estava me odiando tanto e nem eu me achava justa comigo mesma. Olhei as minhas unhas que estavam somente com uma base porque não tinha ânimo pra fazê-las e nem disposição para encarar um salão no momento. Pelo menos estavam limpas, pensei comigo. Após escovar os dentes e tomar um banho, fui fazer o meu café e dar um giro pelas notícias no meu celular. Só coisa ruim, o mundo está uma desgraça mesmo. Nada inovador, muita tecnologia sendo gasta em coisas fúteis e desnecessárias. Talvez até tenham boas notícias, mas essas não dão likes.

As minhas redes sociais estavam abandonadas também. Estava com muita preguiça de entrar nelas e ver sempre o mesmo tipo de publicação das pessoas. Todo mundo mostrando uma vida perfeita, com suas casas perfeitas, seus corpos maravilhosos e suas viagens incríveis. As mulheres todas iguais com os seus procedimentos estéticos, os coaches de sucesso te ensinando a fazer o seu primeiro milhão em um mês, as pessoas criando conteúdos polêmicos para viralizarem. Ah não... Eu não estava com paciência para aquilo nesse momento. Eu era a prova de que a vida era mais subterrânea que aquilo. De vez em quando, muito de vez em quando mesmo, eu postava alguma foto do Pitico brincando ou do por do sol que eu amo mas quase ninguém via. Demorou pra minha ficha cair que ninguém ligava pra vida de ninguém nas redes, somente queriam mostrar a sua.

Estava no meu segundo caneco de café quando recebi uma chamada de vídeo da Sarah. Ela amava esse tipo de chamada e eu tinha horror. Ainda mais pela manhã. Só atendia as dela mesmo.

- Bom dia, amigaaaa!

- Bom dia! Beleza?

- Eu tô ótima! E vc? Acordando agora né?

- Como adivinhou?

- É porque você ainda tá rosnando. Miga, é o seguinte: o Miguel e eu vamos sair hoje. Barzinho com música ao vivo, super de boa. Daí nós queríamos muito que você fosse também, pra distrair um pouquinho.

- De vela pra você e o Miguel? Obrigada, amiga, mas passo.

- Aff, Sophia, que mané vela? Você sabe que eu e o Miguel não somos grudentos assim. E você precisa sair desse museu aí.

- Respeita a minha casa! Ah, não, Sarah. Vou acabar estragando o rolê de vocês porque a minha bateria social tá em 5%. Deixa pra próxima tá. Mas obrigada! Vou ver um filme, ler, comer, até dar sono. - ela ficou me encarando com um silêncio mortal até suspirar.

- Olha, eu só queria te ajudar a viver de novo, sair, se divertir um pouco mas eu entendo a sua vibe. Só não acho que vá conseguir viver mais por muito tempo assim sem entrar em uma depressão. E eu tenho muito medo disso. - fiquei encarando o meu café tentando não pensar em como ela estava certa. - vou fazer o seguinte: vou te mandar o endereço do bar por mensagem e se você quiser ir, vamos estar lá a partir das dez. Pensa com carinho tá. Agora eu preciso levar a minha mãe no mercado porque senão ela fica a semana inteira me chamando de ingrata e me mandando indireta.

- Vai lá. Tenho que dar banho no Pitico e ajeitar algumas coisas aqui também. Bom final de semana!

- Pra você também, amiga! Beijo!

Desligamos e, em seguida, ela me mandou mensagem com o endereço do barzinho. Não era muito longe de casa e parecia ser bem legal. Mas não... Ter que me arrumar, socializar e ainda ficar segurando vela não estava nos meus planos. Decidi ir cumprir as obrigações do dia e nem me dei conta de que já era de tardezinha.

Sophia 📚☕️Onde histórias criam vida. Descubra agora