🧟‍♀️ Sombras 🧟‍♀️

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Estava jogada no sofá da sala da casa de Sarah enquanto tia Vera, sua mãe, fritava batatas na cozinha. Eu era alucinada pelas batatinhas da tia Vera. A minha amiga estava jogada no tapete rolando o feed no celular e eu rolava os olhos, inquieta, por não estar conseguindo a atenção da minha amiga. Levantei de supetão e ameacei ir embora.

- Então tá. Vou desabafar com o Pitico lá em casa já que aqui eu tô falando para as cortinas. - ela me olhou e abriu um sorriso patético.

- O Miguel me chamou pra passar o final de semana em um hotel fazenda. Tô aqui dando uma olhada no perfil deles. É lindo, quer ver? - disse me puxando pro chão ao lado dela.

- Vocês sempre viajam para lugares lindos e eu nunca te vi empolgada desse jeito. - disse tomando o celular da mão dela e olhando as fotos do lugar. Era mesmo incrível!

- É que o tom do convite dele foi meio diferente, sabe? Ai, amiga, eu não quero me iludir mas eu acho que agora vai. - ela batia palminhas empolgada, com os olhos brilhando e aguardando o meu apoio no que ela estava cogitando.

- Você acha que...

- Claro! Pensa comigo: ele vem falando desse passeio há quase um mês, tá fazendo questão de pensar em cada detalhe e você sabe muito bem que o Miguel é largado de tudo. Sempre fui eu quem tomou iniciativa das coisas.

- Ai, amiga! Tomara! Já tô nervosa por você. - sorri a abraçando. - quero muito ver vocês dois felizes mas, me promete não se entupir de expectativas? Independente se acontecer ou não me promete que não vai criar um clima se não for o que você tá imaginando tá. Eu não quero ser a que torce contra e nem a que joga água no seu chope mas vai preparada pra um final de semana incrível, independente de qualquer coisa.

- Eu odeio a sua sensatez, sabia? Mas obrigada! - ela disse beijando o meu rosto enquanto a tia Vera trazia nossa porção de batata frita e refri. De vez em quando eu me permitia uma bobagem no meu organismo. - o que você tava dizendo antes que eu não tava prestando atenção? - disse com cara de gatinho assustado. Suspirei fundo e peguei uma batata.

- Tenho médico semana que vem. Vou mostrar os exames.

- Tá com medo?

- Ah, sabe como é né... Eu sei que esse acompanhamento é importante mas sempre dá um desespero daquela palavrinha.

- Para com isso! Como das outras vezes vai tá tudo bem. Você sempre surta e no final sai da sala do seu médico rindo. Quer que eu vá com você?

- O Bruno disse que iria comigo no meu próximo retorno mas eu ainda não tive coragem de falar sobre isso com ele.

- Tá, mas ele tá sabendo que você fez aquele monte de exames de novo né?

- Digamos que eu fui discreta...

- Ai, Sophia, nada a ver! Se ele se dispôs a ir com você é porque quer tá junto nisso, entender melhor, tirar as dúvidas junto com você. Liga pra ele!

- Agora? - disse me servindo de mais refri. Açúcar me acalmava.

- É! Ele precisa se programar também, não acha? Não é você quem diz que odeia compromisso de última hora?

- Odeio quando você tem razão!

Saí para a varanda da casa para ter mais privacidade. Ao segundo toque ele atendeu.

- Oi, meu amor! Que surpresa boa essa ligação! Achei que estivesse na Sarah. Aconteceu alguma coisa?

- Oi, amor! Não, tá tudo bem. É que...

- Fala de novo?

- O que?

- Fala o que você falou de novo, por favor? Como me chamou? - ri ficando vermelha igual a um tomate. Ainda bem que estava sozinha.

- Oi, amor! - ouvi um suspiro profundo do outro lado da linha e podia ver o sorriso dele se abrindo e formando covinhas. - Era isso?

- Você nem imagina o quanto é bom ser chamado assim por você.

- Então vá se acostumando. - houve um pequeno silêncio que eu quebrei respirando fundo. - bom, eu te liguei pra te fazer um convite meio chatinho.

- Eu duvido muito que qualquer coisa do seu lado seja chato mas vamos lá. É pra te ajudar a pendurar roupas no varal ou regar suas plantinhas?

- Palhaço! Não. - disse rindo. Não conseguia não ser leve conversando com ele. - é que eu tenho médico na próxima quarta. Como você disse...

- Maravilha! Que horas posso te pegar para irmos?

- Não tem nenhum outro compromisso? Eu super vou entender se não puder ir.

- Sophia, você se tornou uma prioridade minha. Qualquer outro compromisso pode perfeitamente esperar. Eu quero muito conversar com o seu médico. Já te disse isso antes.

- Obrigada! - disse com um bolo na garganta. Era muito boa a sensação de que existia alguém que se importava comigo, que eu era a prioridade na vida de alguém. - de verdade, seu apoio é muito importante pra mim. Você é muito importante pra mim.

- Tinha que tá do outro lado da linha pra me falar isso, né? Queria muito que estivesse dizendo cada uma dessas palavras olhando pra mim.

- Bruno...

- Fez todos os exames escondida, né? Queria ter te acompanhado neles também. Sei que deve dar medo.

- Tudo bem, foi tranquilo até. Nos próximos você vai, ok.

- Visão de futuro, eu gosto disso. Vai demorar aí ainda? Pensei em sair daqui e te buscar. Sei lá, só precisava te ver.

- Ainda vou demorar um pouquinho. A Sarah é meio possessiva quando eu venho pra cá. Ela se sente meio que a irmã mais velha me obrigando a brincar com ela, entende?

- Claro, eu não quero atrapalhar sua programação, meu amor. - disse rindo.- De qualquer forma, nos vemos neste final de semana.

- Vocês estão gravando um Podcast? - gritou a minha amiga da porta da sala.

- Desculpa por isso! Ela hoje tá meio fora da casinha. - disse rindo.

- E algum dia ela esteve dentro? Brincadeira, diz que tô mandando um abraço pra ela. Vai lá dar atenção pra ela. Quando chegar em casa, deixa mensagem pra eu saber que tá bem. E se quiser que eu te busque me liga.

- Ok então. Não se preocupe, vai descansar porque eu sei que hoje o movimento aí foi ótimo. Beijo e...

- Tô ouvindo. - fechei meus olhos pensando se deveria ou não dizer aquilo e optei por esperar.

- Nada. Bom descanso pra você!

- Pra você também, meu amor! Beijo!

Desliguei e fiquei encarando a tela do celular. Eu tinha tanto medo de me decepcionar de novo que não conseguia imaginar se isso tudo não fosse real ou se a vida me desse mais um golpe. Eu nunca tive longos períodos de paz e esse estava durando muito. Mas eu precisava acreditar que tudo continuaria nos trilhos.

Sophia 📚☕️Onde histórias criam vida. Descubra agora