Sophia 📚☕️

💞 O retorno 💞

Bruno

Eu era um cara abençoado! Muito abençoado! Disse pra mim mesmo observando o movimento da cafeteria nesta segunda-feira. Era gente apressada pegando o café pra viagem, era gente feliz com uma turma de amigos ou apaixonada vindo de casal. Pessoas solitárias em busca de um bom livro depois do café. E eu proporcionava esse momento a elas. Havia feito a escolha certa! Na cafeteria era apenas eu, três atendentes e uma moça no caixa. Eu era uma espécie de coringa, indo pra onde demandava mais e dando atenção aos meus clientes também. Precisava urgentemente de mais alguém na cozinha comigo em dias de muito movimento como hoje. Precisei pedir ajuda pra Milena, que estava de férias da faculdade de gastronomia. Ela chegou em menos de meia hora, já tomando a frente dos bolinhos de chuva que tinham muita saída. Eu me orgulhava dela, muito! E me orgulhava de mim também, por ter conseguido criá-la tão bem e dar a educação que ela merecia ter. Não sei se consegui suprir a falta da mãe dela 100% mas eu via em seus olhos que ela era feliz com o que tinha. A Amanda, mãe dela, de vez em quando, quase que raramente, ligava pra ela pra saber notícias. Mas sentia um distanciamento enorme entre as duas.

Mas a Milena estava se tornando uma menina forte e corajosa, além de muito talentosa. Era a primeira da sua turma e havia optado por uma coisa que amava, a culinária. Ela cresceu vendo a nossa pequena família ganhando dinheiro com isso e tem como grande referência a vovó Mariana. De vez em quando, ela saía da cozinha pra dar uma força nos atendimentos e as pessoas gostavam dela. Olhei para a mesa do canto na janela, vazia, e imaginei se certa pessoa que estava claramente me evitando gostaria dela também. Não obtive retorno da mensagem que enviei a ela na madrugada de domingo. Espero que, pelo menos, ela tenha refletido sobre a força que apenas ela acredita não ter.

Qualquer pessoa que olhe pra Sophia enxerga que somente uma mulher muito forte consegue sobreviver a tudo o que ela passou. Uma doença tão cruel quanto o câncer, o medo que ela deve ter sentido de morrer, a solidão de um relacionamento abusivo tudo junto ao mesmo tempo. É de se entender a confusão que está a cabeça e o coração dela. Eu apenas queria que ela se visse como eu a vi quando bati os olhos nela na primeira vez. Parecia uma bonequinha de tão linda! Não consegui, de verdade, ver defeitos nela. Apenas o olhar melancólico me incomodou, pois não combinava com ela. A educação dela também me encantou, enquanto a amiga tentava fazer as perguntas que vi que ela também tinha interesse em saber as respostas, ela se envergonhava pela ousadia da ruiva. Eu não me importei em responder, gostava daquelas garotas. Sarah era muito divertida mas o sorriso tímido de Sophia me atraía feito um imã. Após a única visita dela ao café, fiquei tentando imaginar formas de fazê-la voltar. Ela havia gostado daqui, eu senti. Mas eu sabia os motivos do afastamento dela. Sophia estava machucada e eu, emocionado ao extremo, assustei ela demonstrando a minha atração. Burro! Não era o momento! Sarah vinha buscar os cafés, dela e de Sophia, todos os dias. E eu sempre dava um jeito de perguntar como ela estava. Hoje, mais cedo, soube que ela havia conseguido tirar a amiga de casa no sábado e fiquei feliz por saber que ela conseguiu se divertir.

Ainda estava sorrindo olhando pro nada quando senti meu olhar sendo puxado para a porta, vendo Sophia entrar sozinha. Ela me viu e sorriu. Imediatamente fui recebê-la.

- Eu poderia te pedir para me beliscar mas os outros clientes poderiam achar estranho. - disse sorrindo.

- E realmente é estranho. Tudo bem com você? - disse sorrindo e eu já estava completamente encantado. Ela vestia um vestido longo florido com uma jaquetinha jeans e um tênis branco, do tipo all star. Lembrei daquela música que o Nando Reis fez pra Cássia Eller. Ela havia me perguntado se eu estava bem e eu acabei esquecendo de responder apenas a observando.

- Eu estou ótimo, agora mais ainda! E você?

- Estou bem também! Resolvi trocar meu almoço pelo seu café maravilhoso hoje.