- Não quero você circulando pelo porto de Raviera. - Baltazar disse com irritação. Estava sentado em seu escritório e havia uma pilha de documentos na sua frente.
Fazia quatro anos que não vínhamos ao reino de Raviera. Foi nas águas da capital que o capitão me encontrou e me acolheu e não entendia porque não podia circular.
Gostava do navio e do mar, mas também queria visitar tavernas, dançar, beber e ouvir música. Já tinha dezenove nessa altura e experimentei várias situações intensas quando navegamos em águas perigosas e aquele homem que fazia bem seu papel de pai nunca havia me proibido de nada.- Ah, você quer que fique enfurnado por um mês nesse navio até a gente ir embora de novo? - Revirei meus olhos petulante. Odiava receber ordens que não fazia sentindo. Finalmente o capitão levantou o olhar na minha direção. Estava jogado na cadeira com os pés em cima da mesa enquanto cortava uma maçã despretensiosamente.
- Você não fez questão de ficar com a gente? Vai obedecer minhas ordens, porra. - Baltazar bateu na mesa como se isso fosse me intimidar. Se tinha algo que aprendi durante esses anos é que o velho só tinha capa de intimidador, não passava de um coração mole que salvava órfãos e colocava no navio mesmo que as pessoas tivessem procedências suspeitas. E isso trouxe alguns problemas mais tarde. O capitão sempre dava um jeito de jogar na minha cara minhas escolhas e continuava sem nenhum arrependimento.
- Tá, claro, pai. - Sorri na sua direção como se realmente fosse ficar enfurnado por um mês inteiro. Estava acontecendo um festival maravilhoso na cidade, com direito a barracas de comida, danças, teatro de rua, festas e muita bebida, nem pensar que ficaria enclausurado. Baltazar sempre reagia a palavra "pai" ficando desconsertado. Quando comecei a chamar Baltazar assim, foi totalmente pego de surpresa, mas nunca disse que não podia, pelo contrário, me mimava bastante, fazendo minhas vontades e protegendo minha integridade.
Nunca esqueceria de que há dois anos atrás um mercador misterioso embarcou no navio com uma carga suspeita, pagando uma pequena fortuna a Baltazar para lhe atravessar até às águas da tormenta do outro lado do continente. Porém, uma noite tempestuosa, o homem invadiu meu quarto e tentou ferir minha honra me tomando em seus braços. O chutei até estar no chão do navio. E ao me xingar de vários nomes, levou um tiro na cabeça, findando sua vida. Ninguém mexia comigo. Quem executou foi o próprio capitão sem nenhum remorso.
A carga foi lançada ao mar junto com o corpo e nunca verificada. Sabia que podia contar com cada membro da tripulação. Eram piratas leais e os novos membros que entravam sabiam disso. Sempre existia alguém tentando desafiar as regras que acabava virando refeição de tubarão. Não me importava. Podia me defender sozinho. Mas, sempre era bom saber o quão amado poderia ser pelos meus companheiros.
Lembro da primeira vez que chamei Baltazar de pai. Foi em uma festa, alguns meses depois da minha entrada oficial para tripulação. Estava levemente alcoolizado. O chamei de pai e nunca vi o homem mais vermelho do que naquela noite e todos ficaram admirados com a situação. Bagunçou meus cabelos e se recolheu aos seus aposentos, mas sabia que podia amaciar seus sentimentos com frases simples.
- Não adianta me chamar assim. Você não vai sair. - Baltazar tossiu suavemente e fez um aceno com a mão na minha direção. - Apenas seja um bom garoto dessa vez e deixo que escolha nosso próximo destino de férias, sim?
Revirei meus olhos, mas mesmo assim o abracei e dei um beijinho em sua testa. Saindo em seguida. Nunca que ficaria no navio em dia de festival. Nosso barco estava ancorado distante do porto da cidade, mas podia ver as luzes bonitas durante a noite. Os brilhos e a cantoria das festividades. Não podia só ficar morfando com tantos alfas lindos naquela festa.
Minha diversão era ter um amante em cada porto. Sempre era bom ser beijado e acariciado, mimado e ovacionado. Minha beleza era notoria. E as vezes tinha a sorte de agradar algum burguês que me dava vários presentes. Mas, nunca ficava o suficiente para me envolver emocionalmente com qualquer um destes homens. Minha vida era mais divertida quando estava farreando na terra e vivendo livremente no mar.
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Piratas E Castelos - a honra Rebelde
FantasiaNão posso lembrar da minha vida antes de pisar em um temido navio pirata. Eles viraram minha família, as pessoas mais importantes com as quais poderia contar. E anos depois um amor inesperado surge me trazendo lembranças de um passado que nunca fiz...