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Era um dia chuvoso na cidade maravilhosa.  Stênio havia acabado de pegar um táxi no aeroporto do Galeão, o clima o fez recordar dois anos atrás quando foi embora pensando em não voltar tão cedo — tristeza, medo, impotência — sentimentos ignorados que parecem aflorar a medida que observa através da janela com pequenas gotas de chuva o movimento da cidade.

A sensação é que nada mudou nesse período que esteve em Portugal, as pessoas continuaram a vida enquanto parece que a dele estagnou.

- Nada mudou. — sussurrou.

- Senhor?

- Não, apenas divagando aqui. — respondeu ao taxista que não precisava saber a tempestade que se passava em sua própria cabeça.

- Chegamos! Quer ajuda com as malas?

- Não obrigado, consigo me virar. — A chuva já havia passado, também do aeroporto até o Recreio é uma eternidade, ainda mais depois de uma chuva o trânsito fica uma bagunça.

Até isso não mudou.

Coloca as duas malas ao lado da porta ao adentrar no apartamento. Estava cansado demais da viagem pra se preocupar em arrumar suas roupas, queria apenas tomar um banho e dormir um pouco.

Da entrada da porta deu uma leve olhada no apartamento mobiliado.

Era um ambiente aconchegante, com a sala e cozinha separadas apenas por um balcão lembraria de agradecer a Laís por deixar tudo preparado para sua chegada.

Seguiu em direção ao quarto já tirando a gravata e desabotoando a camisa verde turquesa, chegou olhando o ambiente que dormiria todas as noites daqui pra frente indo em direção ao banheiro tomar logo uma ducha.

A água estava quentinha, tudo que precisava no momento, passou a mão nos cabelos grisalhos pra tirar o excesso de água, o fazendo lembrar que esqueceu de pegar os produtos de cabelo, acabaria cortando ele, é muito trabalhoso manter sempre apresentável, pensaria nisso depois, pegou o sabonete e passou pelo abdômen definido.

Depois de um ano e meio de academia poderia considerar-se satisfeito com o corpo atual. Sempre se achou um homem vaidoso, após o segundo divórcio de Helô a atividade física não só deixou seu corpo malhado como também o ajudou a reorganizar os pensamentos e emoções.

De banho tomado caminhou pelo quarto com uma toalha na cintura e outra enxugando o cabelo, de repente travou ao lado da cama. Precisava pegar uma roupa na mala. Até certo ponto caminhou em direção a sala mas deteve os passos. Iria dormir assim mesmo, como se alguém fosse olhar pra alguma coisa que não deveria, divagou sozinho, então retornou se jogando ao lado esquerdo da cama. Porque o direito era dela.

Nessas horas que inconscientemente ela continuava presente na vida dele. Não demorou muito pra pegar no sono, bastou ligar o ar-condicionado e se cobrir com o edredom pra apagar, precisava renovar as energias.

*

Stênio se espantou com um barulho irritante, como estava sonolento não conseguiu diferenciar se era o toque do alarme ou alguma ligação.

Tateou a mesa de cabeceira procurando o aparelho e conseguiu localizar no momento que o som cessou, abriu os olhos lentamente por conta da claridade logo vendo que tinha uma chamada perdida da sua sócia.

O celular voltou a tocar sendo de imediato atendido.

- Laíss! A que devo a honra dessa ligação? — fala com a voz um pouco rouca.

- Stênio, meu amigo, já tava preocupada você não comunicou que já tinha chegado em casa.

- Foi mal Laís, é que cheguei exausto só deu pra tomar um banho e apagar. — respondeu, culpado.

- Sem problemas, o importante é que chegou bem vou te deixar descansando agora. Te vejo amanhã.

- Até e obrigado pelo apartamento.

- Não foi nada, amigos são pra isso. — disse finalizando a ligação.

O celular mostrava que já se passavam das 16h precisava levantar e organizar sua permanência na cidade. Era uma longa lista mas começaria pelo básico, abastecer a geladeira.

Quando retornou pra casa Stênio só conseguia imaginar a reação da Drika ao saber que ele iria voltar a morar no Brasil. A saudade dela e das crianças foi o motivo crucial na sua decisão, a cada dia ficava impossível viver longe deles, ainda mais nessa fase da Maria com quatro e Filipe com sete anos. É nessa idade que as lembranças ficam eternizadas e ele queria presenciar e contribuir com as melhores recordações de seus netos. Amanhã ligaria pra ela, vai ficar doida com a notícia. Riu fraco imaginando a reação da filha.

*

- Paizinho, parece que o senhor leu meus pensamentos. — atendeu Drika animada.

- Oi meu amor, qual motivo de tanta animação? — respondeu curioso.

- Cê nem sabe quem voltou pro Rio.

- Quem mais voltou?

- Como assim quem mais voltou que não tô sabendo?

- Depois Drika, depois... fiquei curioso agora.

- A Creusa pai, até agora tô sem acreditar, a mamãe resolveu chamar ela de volta. — revelou sem saber que aquela notícia havia mexido com ele. Aliás os três estavam na mesma cidade, como antigamente.

Felicidade e angústia conflitam nesse momento em Stênio.

- Uau, que coincidência. — diz atordoado.

- Porque pai? — responde confusa.

- Eu liguei justamente pra dar a mesma notícia, tô de volta. — fala calmo.

- NÃOO? Pepeu corre aqui, rápido. — grita do outro lado da ligação. — O que foi amorzinho? — escuta a voz distante do genro. — O papai voltou a morar aqui, não é o máximo? — disse eufórica fazendo com que Stênio afastasse o aparelho do ouvido.

- Filha! Presta atenção aqui. Liguei pra convidar vocês pra um jantar aqui em casa, quero os quatro hoje a noite pra comemorar meu retorno. O que me diz?

- Claro paizinho, os meninos vão amar a notícia a gente tava morrendo de saudade.

- Digo o mesmo filha, por incrível que pareça do Pepeu também. — responde bem humorado.

- Então combinado paizinho. Há que horas é pra tá aí?

- Às 19h é um bom horário não atrapalha o sono das crianças. Quando desligar mando a localização, um beijo.

- Um beijo pai, até mais tarde.

- Até Drika. — se despediu desligando a chamada.

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