Dentro da casa do senhor Coelho.

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Han Jisung não era tão inteligente. Suas notas são medianas, nunca reprovou, mas isso não significava que era o primeiro da turma. Desde criança caçoavam de sua personalidade, do seu jeito de se assustar fácil, de acreditar em mentiras como se fossem verdades inabaláveis. Mas, por mais que não fosse um super gênio, sabia que há algo de errado com essa casa e tudo começou depois que Lee Minho chegou.

A princípio, achou que se não encostasse na calçada não veria nada, mas sua teoria foi dita como falsa no dia seguinte, quando Minho gritou seu nome enquanto estava indo pela rua. Por conseguinte, achou que quando seus olhos captavam Lee, assim como ele, tudo ao seu redor viravam fantasmas, até mesmo ele próprio. Mas, é impossível, quando chegou em casa seu irmão estava lá, e o tempo não parou.

Sua mais nova teoria é que Lee fazia algum truque para que as pessoas não esbarrassem consigo. Como se ele soubesse os próximos passos e as evitassem. Então, por que não o evita? Por que continua chamando sua atenção? Por que Han Jisung?

Sua mente borbulhava, e achava que sua sanidade tinha pegado o primeiro ônibus para bem longe e mais do que nunca queria segui-la, fugir para o mais distante possível. Mas não poderia deixar sua família. Na verdade, não podia deixar a cidade como um covarde que sempre fora apelidado. E, então, cá está Han mais uma vez. Se preparando para correr. Não viu nem a sombra de Minho, e mesmo se fosse chamado não iria, não poderia ir.

- Licença. - Uma pessoa nessa rua. Céus, como queria que Minho aparecesse repentinamente e mostrasse que era de carne e osso, não apenas uma alucinação. - Você pode pegar a bola que caiu logo ali? É que essa casa me assusta. - Ele apontou para o casarão e Han queria dizer que está mais assustado que a criança, a qual parecia ter dez anos.

- Não há nada, pode ir sem medo. - Tentou se desviar do trabalho de ir buscar e a criança negou freneticamente.

- Eu tenho certeza que o senhor Coelho está lá. - Han sentiu as pernas fraquejarem.

- Como você sabe? - Han começa a procurar pela bola, logo a avista, com sua cor azul marinho estava quase no fundo do terreno.

- Ele está esperando alguém. - Jisung queria que a criança calasse a boca, estava quase sofrendo outro ataque cardíaco.

- Espere aqui. - Queria demonstrar bravura na frente da criança, demonstrar que não é um covarde como todos diziam, e acima de tudo, protege-la. Se o senhor Coelho realmente estiver lá não queria o enviar para a morte.

Começou em passos lentos, mas depois chegou a conclusão que se fosse rápido, também voltaria rápido, praticamente corria até a maldita bola, a casa era maior do que pensava, seu comprimento era de quase uma mansão, quando se agachou para pegar a bola, ela sem vento algum, percorreu sozinha alguns metros. Como? Se assustou e olhou para trás, a criança ainda estava lá o olhando, não parecia ter visto a bola se mover consideravelmente. Correu novamente até chegar nos fundos da casa, já tinha chegado tão longe que não pode voltar de mãos vazias. Pegou a maldita bola antes que ela criasse vida e corresse atrás de si para o pegar, o que a essa altura ele não duvidaria que fosse possível.

Quando estava se encaminhando para ir embora a porta do quintal abriu, os olhos curiosos e atentos não conseguiram desviar, como se algo o puxasse para dentro, conseguia ouvir vozes o mandando entrar, conseguia ouvir tudo. Seria essa a maior prova de sua insanidade? A vontade avassaladora de querer espiar lá dentro, saber o quê deixou seus amigos daquele jeito. Seu pés se moveram, e passou a caminhar, mas não até o menino sem bola, mas até a soleira da porta, só uma espiada não vai o matar.

Não se atreveu a chegar muito perto, se tivesse alguém, deveria correr. Os olhos curiosos viram apenas uma cozinha velha, mas havia uma única xícara nova ali em cima da bancada, como se tivesse sido comprada recentemente. Lee Minho... pensou nele de uma vez, seria verdade sua estadia? Mas, ele está apenas reformando a casa, certo? Ouviu gritos, era o menino. O menino da bola. Se afastou e começou a correr até onde o deixou, mas ele não estava mais lá. Seu coração errou diversas batidas pensando que ele havia entrado na casa. Ainda segurava firme a bola na esperança que a criança tivesse apenas pregando uma peça. Mas, olhou de novo para o casarão e a porta da frente estava aberta. Ele entrou.

Seu corpo estava tenso e poderia infartar a qualquer momento, o que deveria fazer? Se arriscar e salva-lo? Chamar ajuda? Esperar Lee Minho? Ele vai vir, certo? Sendo um fantasma ou não, ele parece ser do bem. Deveria ir logo antes que seja tarde demais? Soltou a bola, deixou a mochila e começou a caminhar em passos pesados até a casa do senhor Coelho. Esperando que ele não estivesse lá. Estava escurecendo.

- Ei, menino. - Gritou da porta. - Você está aí? - Falava alto, sua voz parecia se perder dentre aqueles móveis velhos. Engoliu em seco, rezou e colocou o primeiro pé para dentro, entrando rapidamente. Pela primeira vez, estava na casa do senhor Coelho. A casa dos seus pesadelos. A casa da lenda urbana mais temida por crianças. Começou a caminhar de forma lenta, atento a tudo ao redor. Primeiro, a sala. Tinha um sofá velho, uma estante empoeirada, uma lareira e um rádio. Como a casa era velha, duvidava que teria televisão. É difícil adquirir quando é na década de noventa e mora em um bairro relativamente pobre. Por mais que a casa em si, seja gigantesca.

- Menino... - Olhou ao redor, não havia ninguém. Olhou a cozinha de mais cedo e depois olhou para o quintal, queria tanto ir embora... com passos lentos, subiu as escadas. A escada velha de madeira rangia e parecia que iria quebrar um degrau a qualquer momento e a última coisa que queria era ficar preso nessa casa misteriosa. Estava escuro. Não tinha lanterna e não achou nenhum interruptor. Assim que chegou ao andar de cima, não precisou de mais nada, havia um quarto com a luz acesa. A luz branca iluminava o corredor que dava para mais de cinco portas diferentes. Mas, apenas aquela estava com a luz acesa. Ficou em silêncio. É o senhor Coelho? Ou o menino? Ou...

Não tinha como não fazer barulho nessa casa velha e acabada. Chegou próximo a porta, caminhou mais um passo e olhou dentro, era um quarto que parecia novo. Tinha uma cama recém comprada e uma cadeira pintada de dourado. E uma mesa. Uma mesa repleta de doces. Não havia sinal do menino. Entrou no quarto o suficiente para a porta ser fechada, e lá estava. Impedindo a saída, estava o senhor Coelho.

mister rabbit •minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora