O verdadeiro senhor Coelho.

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Desde sempre imaginou o senhor Coelho como realmente o animal coelho, só que com fisionomia humana, podia correr rapidamente em duas pernas e tinha braços musculosos, de forma que conseguisse se passar por um humano para enganar as crianças em troca de doces saborosos. Mas nada conseguiria tirar sua cara de coelho, tinha orelhas grandes e um nariz pequeno, apenas os dentes que eram afiados para mastigar a carne das vítimas.

Mas, por tudo que imaginou, estava completamente diferente. Não tinha o corpo de um coelho, não tinha a pele coberta por pelos, não tinha patas, era apenas um humano. Só a máscara, usava a máscara de um coelho, que não durou um minuto quando a tirou. Era Lee Minho, mentalizou para que pudesse se acalmar, mas não conseguiu, sentia medo, pavor.

- Han Jisung. - Ouviu sua voz. - Perdeu o medo? - Ele retirou a máscara e os olhos pareciam vidrados.

- Eu e-estou procurando a-alguém. - Gaguejou repetidas vezes. Queria o empurrar e sair correndo, mas duvidava que teria forças. Mas, ainda assim, afastou-se três passos para trás.

- Quem? Algum outro adolescente que queria testar a lenda urbana? - Han queria perguntar quem seria, mas no fundo já sabia, seus amigos... - Eles não eram bem seus amigos, eram? - Han sentiu um arrepio, como se ele tivesse lido seus pensamentos.

- Eles são. - Quis parecer firme, Lee cruzou os braços e se escorou na porta, encarando Jisung.

- Amigos praticam bullying com você? - Ele pergunta e Han estremece. É verdade, eram eles. Eram eles o motivo que chegava em casa com aquelas manchas de cores variadas.

- Faz t-tempo, hoje somos amigos. - Engoliu em seco. Como ele sabia dessa informação?

- Duvido. - Ele sorri soprado. - Quando eles invadiram essa casa, começaram a falar como seria se você tivesse aqui dentro. - Ele começou. - Que poderiam bater em você que ninguém nunca escutaria, poderiam fazer o quê quisessem, que ninguém veria olhar dentro dessa casa. - Han tampou a boca com a mão escondendo sua expressão surpresa. Podia duvidar de tudo, menos da verdade dessas palavras.

- C-como? - Pergunta.

- Eu não sou surdo e muito menos burro. - Se desencostou da porta.

- Então, se foi você, o quê aconteceu com eles? - Minho gargalhou, finalmente Han estava começando a pensar.

- Apenas disse algumas palavras, exatamente como um adulto deveria educar adolescentes mal criados. - Se aproximava de Han, a medida que se aproximava o observava ir para trás até se encostar na parede velha, quase que caindo aos pedaços. - Eu disse que, eles deveriam sair daqui como se tivessem visto algo assustador, só assim, eu não seguiria com o plano de matar os dois e enterrar junto com o corpo do senhor Jung. - Minho nem ao menos sentiu quando Han Jisung correu antes que o encuralasse naquela parede. Ele saiu porta afora correndo como nunca, todos esses anos correndo por essa rua, serviram de algo.

Senhor Jung é o dono da loja de tintas que está temporariamente fechada. Não foi um coincidência. Minho sabia que Han o chamaria para aquela loja e matou o dono, para ter a desculpa de não o ver, mas, pra quê? Com que sentido? Tentou abrir a porta para sair mas estava trancada, como? Se ele estava lá no quarto, como diabos essa merda está fechada?

Correu até a porta da cozinha e estava do mesmo jeito, não conseguia abrir nem com toda sua força. Escutou o ranger dos degraus da escada alertando que Minho estava descendo e se escondeu debaixo da mesa velha da cozinha, tentando respirar controladamente para que não ficasse evidente que estava logo ali abaixo. Conseguia saber que seus pés se perambulavam pela sala, seguia movimentos aleatórios e altos pelo chão desgastado. Han o escutou mexer em algo, e quando a música começou a tocar, soube de primeira do que se tratava. Ouviu um chiado alto e logo o rádio da sala começou a tocar. Só conseguiu escutar em razão do máximo silêncio do ambiente.

- Coelhinho, coelhinho, vamos brincar, mas cuidado, mas cuidado, pois seu pé ele pode puxar! - Era a música. A música que impregnou em sua mente por anos. - Senhor Coelho, senhor Coelho, vamos brincar, uma brincadeira divertida para você não me pegar. - Escutou seus passos, o sapato pesado poderia quebrar o piso com apenas um pulo. Han tampou a boca e olhou apenas de seu calcanhar para baixo, ele estava apenas andando normalmente, sem sinal de desespero como Han estava, que por mais que tampasse a boca, poderia escutar o coração batendo alto, e pela primeira vez, agradeceu dessa música estar tocando.

- Hannie... - Esse apelido era o mesmo que era chamado quando estava no primário. Como ele sabe de tanta coisa relacionada a si? - Você lembra dessa música, certo? - Estava cada vez mais próximo.

- Coelhinho, coelhinho, irei te achar, e quando te encontrar, bem alto vou gritar. - Há uma pausa na música como sempre tivera e Han procura por aquele par de pés pesados, não os achando, nem escutando a madeira velha ranger. - TE PEGUEI! - A música voltou a tocar e foi na hora que Minho o puxou pelos pés, sentindo assim, seu corpo ser arrastado pelo chão empoeirado.

mister rabbit •minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora