𝑉𝐼𝑁𝑇𝐸

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      VINTE


Wuxian
— Estava começando a pensar que ia me deixar esperando — Wangji falou do fundo do barco. Ele agora vestia short e camiseta e estava descalço. Alguma coisa nele descalço me fez sorrir. Parecia muito atípico.
Mostrei a caixa branca de uma confeitaria.
— Estou morrendo de vontade de comer cheesecake. Parei para comprar um. Espera. Você gosta de cheesecake? Não sei se podemos continuar se não gostar.
Ele estendeu a mão para me ajudar a subir a escada e embarcar.
— Cheesecake é bom, apesar de eu não ser muito fanático por doce. — Depois que embarquei, Wangji continuou segurando minha mão e a usou para me puxar para perto. Com a outra mão, segurou minha nuca e me beijou. — A menos que você esteja no cardápio.
Meu corpo reagiu à intimidade com uma onda de calor. O beijo me deixou sem ar, literalmente. Quando os lábios de Wangji deslizaram até o meu pescoço, derrubei o cheesecake no chão.
A voz dele era tensa.
— Não é fácil ir com calma com você. Você traz um doce e só consigo pensar em espalhar o cheesecake no seu corpo e lamber.
Minha. Nossa.
Acabei de chegar e ele já me fez ficar duro.
Wangji devorava meu pescoço. Eu não sabia nem como ainda conseguia ficar em pé.
Em seguida, no entanto, o som próximo de vozes o fez recuar com um grunhido. Pessoas tinham saído do barco vizinho. Wangji passou a mão na cabeça.
— Porra. É melhor você ficar aqui enquanto vou buscar um vinho. Privacidade pode ser um risco para você.
Mordi o lábio.
— Ou... posso te ajudar lá dentro.
Os olhos dourados de Wangji ficaram escuros. Desceram por meu corpo e subiram novamente.
— Tem certeza?
Engoli em seco e assenti.
Wangji abaixou para pegar o cheesecake e riu.
— Vamos precisar disto.
Eram só alguns passos até a cabine do barco de Wangji, mas, no tempo que levei para ir da popa até a porta, todo o meu desejo se transformou em nervosismo. Wangji fechou a porta depois que entramos, e o mundo lá fora ficou silencioso.
Olhei em volta e notei que as persianas estavam fechadas. Ele tinha dito que eram dois tipos diferentes. Essas eram do tipo blecaute, com toda certeza, embora as luzes internas estivessem acesas.
Wangji notou que eu olhava para as janelas.
— Fechei as persianas antes de você chegar porque o sol da tarde aquece muito o interior do barco. Não tinha nenhuma intenção de trazer você para cá. Posso abrir se assim você se sentir mais confortável. O pôr do sol vai ser lindo.
Pensei no pôr do sol que tínhamos visto alguns dias antes. Foi espetacular. Mas, com toda franqueza, o que eu tinha agora diante dos olhos também era incrível. Dei alguns passos na direção de Wangji e agarrei sua camiseta com as duas mãos.
— Acho que agora prefiro privacidade.
Ele olhava para mim com as pupilas dilatadas.
— Ah, é?
Assenti.
Seus olhos oscilaram entre os meus, olhando para um e outro. Como se tivesse encontrado o que procurava, ele projetou o queixo na direção do sofá.
— Sente-se. Vamos comer doce.
Alguma coisa em seu tom de voz me dizia que ele não estava pensando em me servir uma fatia de cheesecake. Todo o meu corpo ansioso vibrou. Sentei-me no sofá e vi Wangji remover a fita vermelha da caixa e cortar duas fatias do cheesecake cremoso. Ele pôs as duas em um prato, pegou um garfo na gaveta e se aproximou de mim, oferecendo o doce.
— Um prato e um garfo... Vamos dividir ou trouxe os dois pedaços para mim?
Wangji não respondeu. Em vez disso, pegou o garfo do prato nas minhas mãos e cortou um pedaço generoso de uma das fatias. Ele aproximou o garfo da minha boca, e eu a abri.
O cheesecake estava delicioso, mas o jeito como Wangji olhava para mim me fazia prestar mais atenção a ele do que a qualquer outra coisa. Havia um brilho diabólico em seus olhos enquanto ele me via mastigar e engolir. Lambi os lábios, apesar de não ter nenhuma sujeira neles.
— Bom? — ele perguntou.
— Delicioso. Experimenta.
O sorriso dele era pervertido. Ele deixou o garfo no prato e usou dois dedos para pegar um pouco da segunda fatia. Lentamente, aproximou a mão da minha boca, mas, quando afastei os lábios para engolir, ele balançou a cabeça.
— Não seja gulosa. Você já comeu um pouco. — Ele passou o cheesecake no meu pescoço, traçando uma linha lenta até a garganta, descendo em direção ao peito e entrando no meu colo.
Arfei quando sua boca desceu lambendo o doce cremoso. Ele não tinha pressa. Começou no pescoço e foi lambendo e chupando enquanto descia bem devagar em direção ao meu peito. Quando encontrou meu esterno, ele moveu a língua. O movimento do meu peito subindo e descendo acelerou, acompanhando minha respiração ofegante.
Wangji olhou para mim com as pálpebras meio baixas.
— Tem razão. Uma delícia de doce.
De algum jeito, consegui me controlar e não puxei a cabeça dele de volta quando Wangji endireitou as costas e pegou o garfo. Esse era o jogo, e eu gostava de jogar. Wangji me deu mais um pedaço de cheesecake e, de novo, ficou olhando para mim enquanto eu mastigava e engolia. Seus olhos não desviavam dos meus lábios.
Quando terminei, ele deixou o garfo sobre o prato e pegou mais um pouco do creme com os dedos. Eu estava de pernas cruzadas, e ele usou a mão livre para segurar meu joelho e descruzá-las. Gentilmente, empurrou meu joelho para afastá-las.
Minha respiração acelerou quando ele espalhou cheesecake na parte interna de uma coxa, logo acima do joelho, subindo pela região sensível até quase encontrar meu short. Ele olhou para mim com o sorriso mais sexy do mundo e se inclinou para lamber o doce.
Dessa vez, não foi tão suave quanto tinha sido em meu pescoço. Ele chupava, lambia e mordia de leve. Cada mordidinha disparava um raio na direção do meu pênis. Quando ele subiu até a barra do meu short, eu me contorcia no sofá. Queria segurar sua cabeça e puxá-la para o meio das minhas pernas.
O sorriso safado em seu rosto quando levantou a cabeça era a prova de que ele sabia exatamente o que estava fazendo comigo.
Soltei o ar devagar.
— Você é um provocador. Nunca imaginei.
— Provocador é quem oferece uma coisa que não pretende entregar. Eu terei o maior prazer de entregar tudo que você quiser. — Ele inclinou a cabeça. — Fala o que você quer, Wuxian.
Um milhão de coisas passaram por minha cabeça. Eu queria que ele não parasse . Queria que mordesse meu mamilo como fez com a parte interna da minha coxa. Queria que chupasse meu pau como fez com meu pescoço.
— Eu... não quero que você pare.
Ele sorriu e tirou o prato de bolo da minha mão.
— Deita e apoia o quadril na beirada do sofá.
Wangji se ajoelhou na minha frente. Com o polegar, massageou meu pênis através do short.
— Vamos tirar isso.
Minhas mãos tremiam quando soltei o botão e abaixei o zíper do short. Ele sorriu.
— Levanta.
Levantei o quadril, e ele puxou o short e a cueca para baixo e os jogou para o lado. Sentado diante dele nu, de repente me senti exposto demais.
— Abre bem as pernas para mim.
Hesitei, e ele me encarou.
— Quero sentir seu gosto desde o minuto em que vi você pela primeira vez. — E olhou para baixo. — Abre mais, Wuxian.
Ignorando o impulso de fazer exatamente o contrário, abri as pernas tanto quanto podia. Wangji sorriu com uma mistura de vaidade e aprovação, e lambeu os lábios antes de colar a boca em mim. Ele me lambeu de um extremo ao outro e moveu a língua sobre meu pau em uma deliciosa tortura. A timidez que me induzia a unir os joelhos desapareceu quando ele me chupou. Meu quadril se projetou, e eu agarrei seus cabelos e puxei. Era tão bom que lágrimas começaram a brotar no canto dos meus olhos.
— Meu Deus. — Tive um espasmo quando Wangji enfiou meu pau todo na boca.
— Quero beber cada gotinha dessa umidade. Goza na minha língua, Wuxian.
A vibração das palavras na pele sensível fez meu corpo estremecer. Wangji lambeu de volta até a cabecinha e, de repente, me penetrou com dois dedos. Foi demais, foi muito rápido, e ele gemeu me pedindo mais uma vez para gozar em sua boca.
Quando levantei o quadril do sofá e enterrei as unhas em sua cabeça, Wangji me segurou no lugar. Flexionou os dedos dentro de mim e chupou com mais força.
— Ah... ah... isso... isso.
O orgasmo explodiu quase violento. Eu virava a cabeça de um lado para o outro, enquanto Wangji massageava e estimulava aquele pontinho dentro de mim até a última onda ter percorrido meu corpo. Quando passou, era como se eu não tivesse mais ossos, e fiquei ali ofegante, vendo estrelas com os olhos fechados.
Wangji se levantou e me tirou do sofá. Comigo nos braços, sentou-se onde eu estava antes. Apoiei a cabeça em seu peito, e um sorriso bobo distendeu meus lábios.
— Foi o melhor cheesecake do mundo.
Wangji riu e me beijou.
— Você é mais gostoso que qualquer doce.
Fiquei vermelho, apesar de a cabeça desse homem ter conhecido o lugar mais íntimo de meu corpo.
— Desculpa, no momento estou inútil. Só preciso de um minuto para me recuperar, e aí vou cuidar de você.
Wangji ficou sério.
— Não tem que ser toma lá dá cá, Wuxian.
— Eu sei... mas eu nem toquei em você.
Ele inclinou a cabeça para trás para olhar nos meus olhos.
— Está tudo bem. Eu tomo um banho demorado mais tarde. Mas, na primeira vez que eu gozar com você, vai ser dentro de você. Insisti um pouco para fazer o que acabamos de fazer aqui, mas não vou insistir para irmos até o fim. Quando estiver preparado, você me avisa.
Suspirei.
— Sinceramente, eu não teria pedido para você parar se a gente tivesse continuado.
— Seu corpo estava pronto. — Ele bateu com o indicador na minha têmpora. — Mas e aqui?
Queria dizer que ele estava errado, mas Wangji estava certíssimo. Meu corpo o queria, mas minha cabeça ainda não tinha chegado lá. O fato de ele se importar com o alinhamento entre os dois significava muito para mim.
Sorri.
— Obrigado.
— Pelo orgasmo ou por não insistir?
— Os dois.
Um pouco depois, Wangji foi ao banheiro e eu me levantei, me vesti e ergui as persianas para olhar para fora. O sol começava a se pôr. Ele assistia a entardeceres espetaculares na marina. Wangji voltou, enlaçou minha cintura e beijou meu ombro.
— Quer ir lá fora ver o pôr do sol? Vou cortar mais um pedaço de cheesecake e, dessa vez, vou deixar você comer tudo.
Sorri.
— Ok.
Sentamo-nos na proa do barco em um silêncio confortável. Wangji se encostou a uma das colunas do mastro com os joelhos flexionados, e eu me sentei entre suas pernas, encostado em seu peito. Bebíamos vinho e apontávamos coisas que víamos nas nuvens. Ainda não tínhamos falado sobre o nosso dia porque, assim que cheguei, nos dedicamos a extravasar um pouco da frustração acumulada, e eu estava curioso para saber mais sobre Leo – embora não quisesse dar a impressão de ser bisbilhoteira, agora que sabia que Lily era irmã dele. Então comecei com um tom mais divertido.
— Suas irmãs são ótimas.
Wangji suspirou.
— Elas são dominadoras e aproveitaram para acumular toda munição possível hoje.
Eu ri.
— Está falando de como sua irmã desconfiou de que a criação do comitê fosse só um truque para passarmos um tempo juntos?
Ele balançou a cabeça.
— Nunca vou superar essa. Honestamente, não sei onde estava com a cabeça quando pensei nisso.
— Está finalmente admitindo que inventou aquele comitê só para ter um motivo para ligar para mim?
— Não. Quando te liguei, ainda nem tinha pensado naquele comitê. Só queria falar com você. Achei que saber como tinha sido seu primeiro dia de volta ao trabalho fosse motivo suficiente. Mas você perguntou se eu ligava para outros funcionários para saber sobre o dia deles. Entrei em pânico e inventei aquela merda toda enquanto falávamos pelo telefone.
Olhei para ele e sorri.
— Abaixa a bola, Wuxian. Você é tão derretido por mim quanto eu sou por você. Só não uso isso contra você.
— Não me derreto por você.
— Não? Dá aqui essa boca. Vamos ver se me faz parar quando eu estiver te apalpando na frente de todos os vizinhos que estão do lado de fora vendo o pôr do sol.
— Você é um idiota.
— Talvez. Mas aposto este barco que, se a gente começasse a se beijar, você não ia me impedir de enfiar os dedos no seu short e tocar essa sua bunda gostosa.
Meu queixo caiu.
Wangji se inclinou e beijou meu queixo.
— Cuidado — ele cochichou no meu ouvido. — Se continuar com essa boca aberta por muito tempo, posso preencher o espaço.
Eu queria dizer que ele era maluco, mas, de verdade, só de ouvi-lo falar em “tocar essa bunda gostosa” fez minhas pernas formigarem de novo. Portanto, ele não estava tão doido assim. Em vez de desafiá-lo, apoiei a cabeça em seu peito e olhei para a frente.
— Você e Leo têm uma relação interessante.
— O novo hobby do garoto é ser um pé no meu saco.
Dei risada.
— Ele disse que você é o Mais Velho dele há muito tempo.
Wangji ficou quieto por um momento.
— Ele é meio-irmão da minha ex-esposa. Os dois são filhos da mesma mãe mentalmente instável. Ele nasceu no hospital onde a mãe era paciente na ala psiquiátrica. O pai é um cara que ela conheceu quando os dois viviam em um hospital de transição. Ela parou com a medicação durante a gravidez e acabou voltando para o hospital psiquiátrico. O garoto foi posto no sistema de acolhimento com três dias de vida.
— Que pesado. E ele ainda está no sistema de acolhimento?
— Ele mora com uma tia do pai. Ela tem a custódia temporária há alguns anos. Mas ela já tem certa idade, não está preparada para lidar com um adolescente. Tentei pedir a custódia alguns anos atrás, quando ele foi pego roubando, mas a vara de família não aprova um sujeito solteiro, que nem é da família, mora em um barco e trabalha sessenta horas por semana.
Eu gostava de como ele era honesto comigo, de não ter que ficar cutucando para ele me contar as coisas, como era no início. Mas o que realmente adorava era ele ser o tipo de homem que tentava conseguir a custódia de uma criança problemática que era irmão de sua ex-esposa. Virei para trás, olhei nos olhos dele e beijei sua boca.
— O que foi? — ele perguntou.
Dei de ombros.
— Eu gosto de você. Quanto mais te conheço, mais motivos tenho para gostar.
Wangji desviou o olhar por um momento.
— Você disse que nem sempre vê as coisas com muita clareza quando começa a sair com um cara, e que tem o hábito de escolher babacas.
— É verdade.
Ele me encarou.
— Está repetindo esse padrão.
Franzi a testa.
— Como assim?
— Os contos de fadas têm um príncipe encantado e um homem mau. A vida não é assim, em preto e branco. Às vezes o príncipe encantado é os dois.
— Eu... não estou entendendo.
Wangji balançou a cabeça.
— Não quero que se decepcione.
— Mas por que eu me decepcionaria?
— Wuxian, eu sou o tipo de homem que leva mulheres  e homens para um apartamento onde não mora para transar com eles.
Fiquei um pouco confuso.
— Sim... você me contou isso. Mas eu estou aqui agora. E você sabe que poderia ter insistido e transado comigo quando estávamos lá embaixo. Mas não insistiu.
Ele continuou me encarando.
— Não quero te magoar, Wuxian.
— Tudo bem. Eu acredito em você. Mas sou adulto. Se me magoar, eu vou sobreviver. Não precisa ficar tentando me alertar.
Wangji fechou os olhos. Depois de um minuto, ele os abriu e assentiu.
— Ok.
O clima mudou depois dessa conversa. Eu tinha que acordar cedo para ir trabalhar no dia seguinte, então, quando a noite caiu por completo, avisei que precisava ir embora.
Wangji me acompanhou até o carro.
— Obrigado por ter ido à festa hoje — ele disse.
— Foi divertido. Você viaja amanhã, não é?
— Sim. Meu voo é às sete da manhã.
— Então nós dois vamos acordar antes do nascer do sol. — Sorri.
Ele se inclinou e beijou minha boca de leve.
— A gente se fala durante a semana.
— Certo.
Durante todo o trajeto até em casa, pensei em tudo que tinha acontecido naquele dia. Uma tarde perfeita, seguida por um orgasmo de enlouquecer e um pôr de sol espetacular. Mas Wangji não podia ter deixado as coisas como estavam. Precisava me dizer que era um homem mau, embora tudo que eu tivesse visto até agora, durante o tempo que passei com ele, me mostrasse justamente o contrário. Continuei pensando em tudo, analisando minuciosamente cada detalhe, tentando entender onde as coisas tinham mudado, e encontrei uma ocorrência comum. Toda vez que eu falava sobre a ex-mulher de Wangji, ele dava um passo para trás.
Devia haver uma peça nesse quebra-cabeça que eu ainda não tinha encontrado.

(.....)

𝑻𝑶𝑻𝑨𝑳𝑴𝑬𝑵𝑻𝑬 𝑰𝑵𝑨𝑫𝑬𝑸𝑼𝑨𝑫𝑶Onde histórias criam vida. Descubra agora