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                  TRINTA E DOIS



Wuxian


Dr. Rupert, o médico que cuidava de mim no pronto-socorro, era parecido com Penn, da dupla de ilusionistas Penn e Teller. Bom, eu achava que era o Penn, pois nunca conseguia lembrar quem era quem. De qualquer maneira, dr. Rupert tinha uma semelhança impressionante com o mais baixo, o mais velho. Como eu tinha certeza absoluta de que ele beirava os oitenta anos, achei que não o ofenderia se comentasse.
— Alguém já disse que você é parecido com uma pessoa famosa?
Ele sorriu, levou a mão ao interior da manga do jaleco e tirou dela um buquê de flores de plástico.
— Isso responde à sua pergunta?
Dei risada.
— Acho que sim.
Ele guardou as flores no bolso do jaleco.
— Não há nenhuma relação entre nós, mas os pacientes ficam desapontados quando digo isso a eles. O truque é uma espécie de prêmio de consolação.
Dr. Rupert pegou a prancheta pendurada no pé da cama e deu uma olhada em algumas páginas. Quando começou a falar, outro médico abriu a cortina, entrou e a fechou em seguida.
— Bem na hora. Este é o dr. Torres. Ele é ortopedista.
— Oi — eu disse.
— Normalmente não chamamos o ortopedista antes de fazer uma radiografia, mas queria que ele te examinasse agora, assim posso te dar todas as opções.
— Ok...
Dr. Rupert puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Ele tinha um jeito antigo, uma atitude que os médicos não têm mais. Atencioso, ele tocou meu braço.
— O motivo para pedirmos uma consulta com o ortopedista antes da radiografia é que encontramos uma coisa nos seus exames de sangue.
Sentei-me na cama. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi câncer. Alguma contagem de células devia estar aumentada, e eles não queriam me submeter a radiação desnecessária. Meu coração disparou.
— Que foi? Qual é o problema com meus exames de sangue?
Dr. Rupert afagou minha mão e sorriu.
— Nenhum. Como você deve saber um a cada cem homens nascem com aparelho reprodutor feminino,ou seja são capazes de gerar e diante do seu exame de sangue você é um desses cem homens. Você está grávido, sr. Wei.
Pisquei algumas vezes.
— O quê?
Ele assentiu.
— Sabia que a notícia podia ser um pouco chocante. Vi no prontuário de internação que na opção “mpreg” você colocou “não” então deduzi que você não faz idéia.
— Não pode ser. Tem certeza?
Ele confirmou com um movimento de cabeça.
— O exame de sangue pode registrar o hCG até seis ou oito dias depois da ovulação. Os exames de urina precisam de mais tempo.
O pânico me invadiu.
— Não pode ser. Isso deve estar errado.
O sorriso do dr. Rupert desapareceu.
— Está dizendo que uma gravidez não é fisicamente possível? Existem casos raros de falsos positivos em exames de sangue, como quando a paciente usa certos medicamentos para convulsão. — Ele franziu a testa.
— Está tomando algum remédio? Não vi nenhum no seu prontuário.
Balancei a cabeça rapidamente.
— Então é fisicamente possível que esteja grávido? Teve relações com um homem no último mês?
Levei a mão à garganta, que de repente parecia mais apertada.
— Sim. Mas usamos proteção. .
— Esqueceu de tomar usar alguma vez?
— Não. Definitivamente não.
— Tomou antibióticos ou teve episódios de vômito?
— Não.
O dr. Rupert suspirou.
— Bom, mesmo nas melhores circunstâncias, a eficiência é de 99,7%.
— Mas usamos preservativo !
— Bem, isso diminui ainda mais as chances de uma gravidez. Às vezes aparecem os nadadores teimosos. — Dr. Rupert bateu de leve no meu braço.
— Quer ficar sozinho por uns minutos antes de falarmos sobre a radiografia?
Queria que ele voltasse no tempo e recomeçasse dizendo que eu não estava grávido, que eu não era um mpreg . Como era possível? Wangji ia... ai, meu Deus ! Eu não conseguia nem imaginar o que Wangji ia dizer. Sem perceber, devo ter começado a hiperventilar.
— Sr. Wei? Respire devagar. Inspire profundamente, sem pressa. — O dr. Rupert se dirigiu ao ortopedista, de quem eu tinha me esquecido completamente. — Jordan, pega um saco de papel, por favor.
Um minuto depois, uma enfermeira entrou e me pediu que respirasse dentro de um saco de papel enquanto três outras pessoas cercavam a cama. Ela segurou meu pulso e acompanhou minha pulsação até ficar satisfeita com o resultado.
— Pode parar agora. Continue respirando fundo.
Massageei a testa.
— Meu Deus, estou muito envergonhado. Nunca tive que fazer isso antes.
A enfermeira sorriu.
— Tenho três filhos com menos de quatro anos. Se não enfio a cabeça em um saco de papel uma vez por semana é porque me escondi no closet para beber uma taça de vinho.
Depois que me acalmei um pouco, a enfermeira saiu, e o dr. Rupert perguntou se o ortopedista podia examinar meu braço. Qualquer movimento causava dor. Mas, de repente, eu estava entorpecido demais até para sentir dor.
Quando terminou o exame, ele falou para o dr. Rupert e para mim:
— Recomendo a radiografia. É bem provável que tenha uma fratura na ulna. Já dá para ver o hematoma se formando na região do pulso. Temos que ver se os ossos estão alinhados ou se vai ser necessário fazer uma cirurgia ou uma redução.
Ouvi cada palavra que ele disse, mas nenhuma delas fazia sentido. Eles relacionaram os prós e contras de fazer uma radiografia estando grávido, e depois o dr. Rupert olhou para mim esperando uma resposta.
— Desculpa — falei, balançando a cabeça. — Disse que é seguro?
— Vamos cobrir seu abdome com um avental de chumbo e usar a intensidade mínima, por precaução. Seus órgãos reprodutores não serão expostos à radiação. Em casos como o seu, em que o risco de dano ao feto é muito pequeno e o benefício da radiografia é maior que os riscos, sim, eu recomendo o exame. — Ele sorriu cautelosamente. — Se o osso precisar de correção e não for corrigido, você pode perder mobilidade nesse braço. E isso é algo que não queremos.
Soltei o ar com um sopro longo e demorado e disse:
— Ok.
— Vou dar entrada na sua internação. Você vai passar a noite aqui em observação. Quer que a enfermeira avise alguém?
Pensei em telefonar para Langjiao, mas era tarde e eu precisava assimilar tudo antes de conseguir falar as palavras em voz alta.
— Não, tudo bem. Obrigado.
Dr. Rupert saiu com o ortopedista, prometendo voltar assim que tivesse os resultados da radiografia. Fiquei feliz por ter alguns minutos de solidão antes de a enfermeira voltar.
— Quer que eu traga seu irmão de volta? A recepção disse que ele já perguntou por você duas vezes e está agitado. — Ela sorriu. — Você tem um irmão muito protetor.
Fechei os olhos. A ideia de ver Wangji agora me fazia sentir vontade de vomitar, literalmente. Mas, se não o deixassem entrar para me ver, ele ia causar uma comoção na recepção e ia desconfiar de que alguma coisa estava errada. Eu não queria ter essa conversa com ele hoje no pronto-socorro.
— Pode trazê-lo em cinco minutos? Só preciso de mais um tempo sozinho.
— Sim, é claro. Que tal dez minutos?
Pouco tempo depois, Wangji abriu a cortina e eu vi a preocupação em seu rosto.
— Tudo bem? Isso demorou quase uma hora.
Pigarreei, mas tinha dificuldade para olhar nos olhos dele.
— Sim, tudo bem.
— Fez a radiografia?
— Não, ainda não.
Ele pôs as mãos na cintura.
— Vou te levar para o Memorial. Tenho um velho amigo na equipe de lá.
— Não precisa. Eles disseram que não vai demorar.
Era impossível esconder que eu estava surtando. Consegui contar a Wangji sobre a avaliação do ortopedista e a possibilidade de o osso não estar alinhado, sem mencionar o motivo para ele ter sido chamado para me examinar antes da realização da radiografia. Também avisei que passaria a noite no hospital em observação. Depois disso, fiquei quieto.
— Tem certeza de que está bem? Sente mais alguma dor?
A preocupação dele fez eu me sentir ainda pior por mentir.
— Estou bem. Só cansado.
Dez minutos depois, a enfermeira apareceu. Antes que eu pudesse falar uma palavra sequer, Wangji ficou em pé.
— Pode examiná-lo de novo? De repente ele ficou estranho. Queria que um médico viesse examiná-lo.
A enfermeira olhou para mim e de repente fiquei em pânico com a possibilidade de ela mencionar a gravidez. Não tinha pedido segredo, não especificamente, mas havia leis para garantir a privacidade dos pacientes. Ao me ver pálido e de olhos arregalados, ela entendeu minha apreensão.
— Hum... não acho que seja necessário. Isso é perfeitamente normal. O trauma provocou uma descarga de adrenalina e depois houve uma queda repentina. Eu ficaria preocupada se ele não estivesse meio grogue.
Wangji pareceu aceitar a explicação. Graças a Deus.
— Ele vai fazer a radiografia agora. Vamos demorar um pouco, provavelmente. Como ele vai ser internado, pode ir para casa e eu arrumo um telefone para ele depois que o tratamento ortopédico for decidido.
Olhei para Wangji. Um olhar para aquele rosto e soube que não havia a menor chance de ele ir embora. Ele cruzou os braços.
— Vou ficar bem aqui.
A enfermeira olhou para mim e eu cedi.
— Ele pode ficar, tudo bem.
Ela desapareceu por um instante e voltou com uma cadeira de rodas. Ela e Wangji me ajudaram a levantar, embora eu dissesse que estava bem.
— Voltamos daqui a pouco — a enfermeira disse a ele. — Fique à vontade.
A enfermeira parou na enfermaria e baixou a voz para falar com uma colega.
— Estou esperando ligarem da sala de radiografia para avisar que Wei Wuxian  pode ir. Você manda uma mensagem para mim quando a autorização chegar?
Assim que passamos pela porta do pronto-socorro e ela teve certeza de que Wangji não podia mais nos ouvir, a enfermeira falou enquanto empurrava minha cadeira:
— Senti que precisava de uns minutos longe de seu irmão. Sei que a notícia foi um choque para você e deduzi que podia querer conversar sobre a novidade. Às vezes, é mais fácil falar com um desconhecido do que com alguém da família. Mas, se não quiser conversar, tudo bem. Vamos só dar um passeio pelos corredores até me avisarem que você pode ir para a sala de radiografia.
Suspirei.
— Obrigado.
Como prometido, ela ficou em silêncio e deixou para mim a decisão de conversar ou não. Depois de alguns minutos, comecei a falar.
— Ele não é meu irmão. Só disse que era porque estava preocupado, com medo de não permitirem sua entrada por não ser da família. Ele é meu namorado.
Olhei para trás e para cima, e a enfermeira sorriu e assentiu.
— Puxa, que bom que não perguntei se seu irmão era solteiro e se podia apresentá-lo para minha irmã. Ele é muito bonito.
Dei risada e meus ombros relaxaram pela primeira vez em uma hora.
Viramos à esquerda e seguimos por outro corredor, que estava vazio.
— Imagino que ele também vai ficar chocado com a gravidez.
— Ele não quer ter filhos.
— Se serve de consolo, meu marido só queria um ou dois. Não ficou feliz quando eu contei que estava esperando o terceiro. Mas eu disse que não era ele quem tinha que carregar uma bola de boliche de quatro quilos enquanto sentia que o útero ia cair, e que era eu quem ia passar meses enjoada e me levantando à noite para cuidar do monstrinho depois do parto. Os homens às vezes esquecem que eles também contribuem para uma gravidez. O risco sempre existe.
Eu sabia que isso era verdade. Não engravidei sozinho,porra nem sabia que poderia. Mas... a situação era diferente. Wangji tinha cicatrizes emocionais. Seu argumento não era como o de um homem que não queria outra boca para alimentar ou mais fraldas para trocar.
— Ele tem bons motivos para não querer uma família. Ele... — Balancei a cabeça. Não tinha o direito de revelar detalhes da vida pessoal de Wangji. — Ele... tem suas razões.
— Vamos esquecer seu namorado por um minuto. Como você se sentiria se estivesse com um homem que quer ter uma família? Seria diferente?
Não precisei nem pensar.
— Sim. Com toda certeza. Não me entenda mal, eu ainda estaria em choque. Mas quero ter uma família algum dia. Não esperava que fosse daqui a nove meses e nem que fosse meu, mas já tinha intenções de adoção. Mas, se o homem que amo quisesse ter filhos, eu aceitaria bem, acho.
Passamos por outra enfermaria, e a enfermeira que me empurrava cumprimentou algumas pessoas. Ela esperou até nos afastarmos um pouco para continuar a conversa.
— Então sua única preocupação real é como seu namorado vai reagir à notícia.
Pensei um pouco nisso.
— Sim. Acho que sim.
— Você o ama?
Respirei profundamente e soltei o ar. Devia ter demorado um pouco mais para responder a essa pergunta, mas amor não é algo que precisa ser analisado. Ou você ama, ou não ama.
— Amo.
— Ele te ama?
Pensei na preocupação no rosto dele na sala do pronto-socorro. Wangji parecia realmente aterrorizado com a ideia de eu ter me machucado. O jeito como ele olhava para mim ultimamente também tinha mudado. Eu o surpreendia me olhando e sorrindo quando ele achava que eu não estava prestando atenção, e outro dia acordei com ele velando meu sono.
— Nenhum de nós se declarou, mas acho que sim.
— É claro que a lei garante que você tenha opção. Mas, pelo que me disse, você quer uma família e ama o pai do bebê. Sei que estou sendo simplista, mas acho que só tem uma pessoa que tem que escolher nessa história, e é seu namorado. Ele vai ter que decidir se quer estar com você e o bebê mais do que quer estar sozinho.


Da cama do hospital, olhei pela janela e vi o sol nascendo. Mal tinha dormido. A radiografia comprovou a fratura, mas também revelou que não havia necessidade de cirurgia, e meu braço foi imobilizado com gesso pouco depois da meia-noite. Wangji ficou ao meu lado até eu praticamente empurrá-lo para fora. Por ele, teria dormido na cadeira e passado a noite ali. Mas eu tinha muito em que pensar e não consegui aquietar a mente o suficiente para dormir nem depois que ele havia ido embora. Cochilei um pouco, mas foi só isso.
Langjiao acordava cedo e eu pensei em ligar para ela. Mas senti que não seria certo contar a ela sobre a gravidez antes de ter contado pro Wangji, mesmo que ela fosse minha melhor amiga.
Wangji bateu à porta do quarto às sete da manhã. Ele usava roupas casuais e segurava dois copos de café.
Deixou o café sobre a bandeja portátil e se inclinou para beijar minha testa.
— Bom dia. Como vai meu garoto?
Meu coração ficou apertado e tive que forçar um sorriso.
— Bem. Cansado.
— Dormiu bem?
— Não muito.
— É compreensível. Primeiro o acidente, depois o hospital... o gesso. Você vai dormir quando formos para casa.
— A enfermeira do turno do dia esteve aqui agora há pouco. Ela disse que vai demorar umas horas para eu ter alta.
Wangji pegou um dos copos, removeu a tampa e me entregou o café.
Sem pensar, levei o copo aos lábios e quase bebi. Mas cafeína... era uma das coisas que eu não devia consumir. Devolvi o copo à bandeja e disse:
— Acho que não vou tomar café. Não quero que a cafeína me faça perder o sono mais tarde.
Que maravilha. Agora eu era um mentiroso e ocultava informações.
— Boa ideia. Peguei uns protetores de gesso na farmácia lá embaixo. O médico disse que não pode molhar o gesso, e achei que você ia querer tomar um banho quando chegasse em casa. Talvez um bom banho quente de banheira.
— Obrigado. Boa ideia. — Mas... meu Deus. Eu podia tomar banho de banheira? Honestamente, não sabia nada sobre gestações ou bebês. E pensar em passar por isso sozinho me fazia sentir que eu podia rasgar ao meio. Cocei o rosto.
— Falei com minha irmã quando vinha para cá e contei sobre o acidente. Ela disse para não se preocupar com nada porque ela pode te substituir pelo tempo que for necessário.
Forcei um sorriso.
— Que bom. Mas eu volto ao trabalho amanhã, com certeza. É só um osso quebrado e um corte pequeno.
E uma gravidez.
Wangji ficou sério.
— É melhor ir com calma. Você sofreu um acidente grave. Vai ficar dolorido, se já não estiver. Eles vão receitar relaxante muscular ou analgésicos.
Mais uma coisa que não posso consumir. Por isso só assenti.
Wangji passou as horas seguintes sentado ao meu lado. Eu estava mais quieto que de costume, e ele me perguntou mais de uma vez se eu estava com dor, se estava tudo bem. Expliquei o distanciamento dizendo que estava cansado, o que não era uma mentira completa.
Depois da alta, tive que ficar sentado em uma cadeira de rodas esperando Wangji ir buscar o carro e parar bem na porta do hospital. Ele desceu e me ajudou a entrar no automóvel, mesmo eu tendo dito que estava bem. Tive a sensação de que nada do que eu dissesse o convenceria a parar de me paparicar.
Bem, havia uma coisa que provavelmente o faria correr para bem longe.
Fomos para o meu apartamento e eu tomei uma ducha e fui deitar. Wangji fechou as cortinas e apagou todas as luzes, deixando meu quarto quase completamente escuro. Depois ficou só de cueca e deitou comigo de conchinha.
O silêncio era tão intenso que achei que o momento de intimidade seria perfeito para fazer a revelação, mas estava realmente exausto. E eu sabia que ia precisar de energia para ter essa conversa. Por isso a adiei mais uma vez, jurando a mim mesmo que contaria tudo mais tarde, quando eu acordasse.
Enquanto eu me perdia nesses pensamentos, Wangji também ficou pensativo. Ele beijou meu ombro e sussurrou:
— Não sei o que eu teria feito se alguma coisa tivesse acontecido com você. Ontem à noite, percebi que não consigo mais imaginar minha vida sem você.
Por alguma razão, isso me deixou muito triste. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas, e começaram a transbordar. Mas eu não conseguiria explicar nada para ele enquanto estivesse chorando, então chorei em silêncio e o deixei pensar que eu tinha adormecido.




(.....)

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