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             VINTE DE SEIS



Wuxian
Caramba, que delícia de cinto de ferramentas.
Apoiado no batente da porta, eu observava Wangji trabalhar na parte da frente do terreno. Ele serrava um pedaço de placa de gesso apoiado em dois cavaletes, criando uma placa do tamanho da área que tinha acabado de medir no banheiro. Vestia jeans e camiseta e usava botas reforçadas e um velho cinto de ferramentas. E estava ridiculamente gostoso. Quero dizer, adoro quando ele usa um terno bem ajustado e amei vê-lo de short no barco, mas isso... Isso me fazia querer ficar suado e sujo.
— Continue olhando para mim desse jeito, e nada vai ficar pronto.
Ele estava de cabeça baixa, e eu nem sabia que ele tinha percebido que eu estava ali olhando. Bebi água de uma garrafa plástica.
— Presta atenção à serra na sua mão. Não quero que corte nada importante.
Wangji levantou o painel de gesso cortado, tirou os óculos de proteção e os deixou pendurados na ponta de um dos cavaletes. Subiu a escada e parou na minha frente, no espaço apertado da soleira, para beijar rapidamente minha boca.
— Vamos terminar isso. Cada vez que passo pela moldura onde vai ficar a bancada da cozinha, só consigo pensar em como aquilo tem a altura perfeita para te comer.
Apesar da minha incerteza sobre nosso futuro, eu era maluco por esse homem. Um beijo e um comentário sobre sexo e eu sentia meu penis duro e um formigamento na minha bunda. Tive que pigarrear e limpar a garganta para não mostrar quanto ele me afetava.
— Melhor voltar ao trabalho. Ou não vai ter pagamento mais tarde.
Ele estreitou os olhos.
— Experimenta não me pagar mais tarde.
Wangji voltou ao banheiro e eu me sentei nos degraus da varanda. Queria que as coisas fossem realmente tão leves e fáceis quanto pareceram ser nos últimos minutos. Eu tinha evitado Wangji desde que descobrira que ele não queria ter filhos. Havia pensado muito em romper com ele. Meus sentimentos por ele já eram fortes, e passar mais tempo juntos só tornaria tudo pior quando chegasse a hora. Mas isso era lógica, e o coração não tem a ver com lógica. Então, por enquanto, pelo menos em curto prazo, eu tinha decidido curtir o momento.
Eu não estava preparada para desistir de Wangji, nem para aceitar que um dia, talvez, poderia não ter uma família. Basicamente, escolhi evitar o problema. Essa era minha tática atual. Também precisava entender por que Wangji era tão inflexível em relação a não ter filhos e se um dia isso poderia mudar.
Pensando nisso, voltei ao banheiro para viver o momento com meu operário sexy. Wangji estava parafusando a placa de gesso que tinha cortado.
— Como eu posso ajudar? — perguntei da porta.
— Se for boa em medir, pode pegar aquela fita métrica ali e calcular o tamanho da última placa que precisamos cortar.
Sorri.
— Eu cuido disso.
Ele olhou para mim por cima do ombro.
— Já tirou medidas antes, certo?
— É claro. — Na verdade, nunca tirei, a menos que contasse a fita métrica de costura na minha cintura quando decidi perder uns centímetros. Mas que dificuldade podia haver nisso?
Depois de medir e digitar as dimensões no meu celular, esperei Wangji terminar. Ele olhou para a área onde ainda faltava colocar a placa de gesso.
— Quer que eu confira o que você mediu?
Coloquei as mãos na cintura.
— Acha que sou incompetente porque sou um âncora?
Wangji levantou as mãos em rendição.
— Não. Tenho certeza de que fez tudo certo. É que só temos mais uma placa e, se cortarmos errado, vamos ter que ir à loja de novo.
— As medidas estão certas.
Eu esperava sinceramente que estivessem...
Lá fora, apreciei os músculos de Wangji se contraindo enquanto ele colocava a placa de gesso sobre os cavaletes.
— Você se exercita sempre?
Ele olhou para mim.
— Cinco dias por semana. Mais que isso se estou frustrado com algo e preciso aliviar a pressão. Foram sete dias por semana durante um tempo, depois que te conheci naquele café.
— Então não te frustro mais?
Ele riu.
— Eu não disse isso. Mas agora tenho um jeito melhor de me livrar dessa frustração... com você.
Ele terminou de cortar a placa, e eu o segui de volta ao banheiro para a colocação da última peça. Mas, quando ele encaixou a placa na parede, ela era alguns centímetros menor que o espaço. Arregalei os olhos.
— Você cortou errado.
Wangji levantou as sobrancelhas.
— Eu? Tenho certeza de que você mediu errado.
— De jeito nenhum. — Ai, não...
Wangji olhou para o teto e resmungou alguma coisa, depois respirou fundo e soltou o ar.
— Quer apostar em quem está certo?
— Apostar o quê?
Ele olhou para as joelheiras que estava usando desde o começo do dia.
— Cortei a placa de acordo com as suas medidas. Nesse caso, você vai ter que usar essas joelheiras.
Ah. Bom, não seria tão ruim se eu perdesse. Estendi a mão para fechar o acordo.
— Combinado. Mas, se eu ganhar, você vai tirar toda a roupa e vai ficar de joelhos usando só o cinto de ferramentas.
Wangji pegou a fita métrica e, aproveitando o movimento, beijou minha boca.
— Gostou do cinto? Vou usar todo dia.
Sorri.
— As pessoas no escritório pensariam que você ficou maluco.
Wangji mediu o espaço aberto na parede e me mostrou a largura.
— Oitenta e três centímetros. Concorda?
Verifiquei a fita.
— Sim, é isso mesmo.
Ele apontou para o meu celular.
— Agora lê a medida que anotou no celular. Em voz alta.
Respirei fundo e destravei a tela. Eu odiava errar, mas o jeito como Wangji era todo autoritário no figurino de operário realmente me afetava e, sinceramente, eu esperava ter errado. Ficar de joelhos era uma ideia que me agradava muito. Olhei para o celular e, com um sorriso largo, virei para mostrar as medidas que eu tinha registrado.
Wangji franziu a testa.
— Você sabe que registrou cinquenta e três centímetros, não sabe?
— Sei. — Meu sorriso ficou mais largo.
— Isso significa que perdeu a aposta.
Mordi o lábio e ajoelhei no chão.
— Eu sei. Pode ficar com as joelheiras... e o cinto de ferramentas.
Uma hora mais tarde, Wangji estava bem mais relaxado durante a visita ao Home Depot. Já que estávamos ali, quis mostrar para ele os dois tipos de ladrilho que considerava para o banheiro. Mas o corredor estava interditado porque estavam usando um guindaste para tirar um palete da última prateleira, e Wangji disse que, enquanto esperávamos, ele ia pegar um carrinho. Quando abriram o corredor, um empreiteiro começou a conversar comigo.
— Tentando decidir qual dos dois? Pedra natural é melhor que cerâmica.
— Ah, é? Por quê?
— Cerâmica lasca fácil. Pedra não. E, se gostou desse aí à sua esquerda, eles também fabricam na versão lavada. Pedra não lasca fácil, e na pedra lavada não dá nem para perceber quando lasca.
— É bom saber. Obrigado.
Ele sorriu.
— Por nada.
— Você trabalha com revestimentos?
— Não. Minha especialidade é drywall.
Wangji se aproximou empurrando um daqueles carrinhos altos para objetos grandes. Ele parou ao meu lado e olhou desconfiado para o homem.
— Eu estava procurando alguém para esse serviço. Nunca pensei em vir procurar nos corredores da Home Depot.
O homem pegou a carteira do bolso de trás e tirou um cartão. Sorrindo, me deu o cartão.
— Se precisar de ajuda novamente, é só ligar.
Peguei o cartão.
— Certo. E obrigado pela aula sobre revestimentos.
Quando ele se afastou, olhei para Wangji.
— Encontrei um profissional para fazer o drywall.
— Ele quer te comer. Eu cuido disso. — Wangji tirou o cartão da minha mão e amassou.
— Ai, meu Deus. Você é ciumento?
— Não. Só marco meu território.
— É a mesma coisa.
— Tanto faz. Não ia me mostrar o ladrilho?
Sorri e cantarolei:
— Wangji é ciumento-ooo.
Ele balançou a cabeça.
— Você é um pé no saco, sabia?
Subi na ponta dos pés e beijei Wangji na boca.
— Você se irrita com facilidade.
Depois de olhar o revestimento de pedra lavada, eu ainda não conseguia decidir. Wangji pôs uma caixa de cada no carrinho e disse que os poria no chão quando a gente voltasse, assim ficaria mais fácil escolher, depois devolveria o que eu não quisesse. Ele teve que deixar o porta-malas aberto e amarrar a grande placa de gesso para ela não cair no caminho. A imagem era bem engraçada. O Mercedes caro de Wangji com materiais de construção amarrados com um pedaço de corda.
— Alguma coisa me diz que essa é a primeira vez que esse carro vê uma placa de gesso.
— Contrato pessoas porque sou ocupado, não porque sou incapaz de fazer as coisas sozinho.
— Eu sei. E agradeço muito por ter encontrado tempo para mim.
Wangji me encarou por um instante e assentiu.
— Vem, vamos logo levar essa coisa, e dessa vez vamos usar as minhas medidas.

(.....)

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