31. I do believe in fairies.

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Porque dizer adeus
É uma morte por mil cortes.


Todas as vezes que fazíamos uma curva no escuro ou eu ouvia o carro derrapar de leve na estrada molhada, meu peito doía, eu tinha sido um imbecil de não impedir Allie de sair nessa noite gelada e escura, eu ao menos deveria ter a seguido, ou pulado dentro do carro, não devia ter deixado ela sozinha, cada pequena partícula do meu corpo sabia disso e ainda assim eu não a impedi.

Minhas mãos estavam cerradas em  punho, como se eu estivesse preste a bater em alguém a qualquer momento, o problema era que a pessoa que eu queria bater era eu mesmo.

— Você poderia ir mais rápido? - Pergunto entre dente com os olhos fixos na estrada.

— Você sabe que não! - Nate responde num tom calmo e eu bufo.

Sim, eu sabia que era perigoso ir mais rápido nessa estrada agora, mas eu estava desesperado para encontrar Allie e resolver tudo.

Sinto um calafrio percorrer o meu corpo somente em pensar nela.

E é então que meus olhos focam na estrada, no carro preto batido em cheio de frente com o vermelho.

A polícia cercando o lugar com fita amarela e sinto o vômito subir quando vejo dois sacos pretos fechados no acostamento.

Meu cérebro parece  estar rodando lentamente, mas sinto o nosso carro parar e vejo Nate correr para fora. Mas meus olhos estão focados nos sacos pretos e não consigo me mexer.

Abro a porta do carro rápido o suficiente para vomitar na calçada, parece que a minha alma está querendo sair junto com os fluidos do meu corpo.

Ouço a voz alterada de Nate e tento respirar fundo e me erguer, exigir do meu corpo que ele vá até lá, mas cada passo que dou naquela direção um pedaço meu parece ir se desfazendo.

— É o carro que a minha irmã estava dirigindo, você preciso me dizer como ela está! - Nate grita com um policial.

— Não identificamos ainda os corpos senhor. - o Polícia responde tão calmo que parece fazer isso todo os dias, céus, como isso era possível.

— Você sabe quem eu sou? - Nate grita outra vez- ONDE ESTÁ A MINHA IRMÃ? PORRA!!

— Senhor se acalme, peço que se encaminhe ao hospital mais próximo, todos os corpos serão levado para lá.

Corpos?  O que?

Minha visão embaça por alguns segundos e depois se focam num braço fino e branco em cima de uma maca no chão com paramédicos em volta.

Por impulso me jogo entre os polícias que são pegos de supresa e não conseguem me deter, corro até os dois paramédicos que estão de costas pra mim fazendo algum procedimento.

Meus olhos encontram seu rosto, delicado, pálido, com os olhos fechados e sangue manchando seu cabelo loiro.

Caio de joelhos ao lado, eles estão tentando reanimar ela, seu coração parou, o meu coração parou, me sinto zonzo e estou usando todas as minhas energias para não desmaiar.

Os paramédicos param os movimentos e quando meus olhos encontram os rostos deles suas expressões de "sinto muito"fazem meu estômago revirar outra vez, mas a minha indignação é maior que isso, como eles podiam desistir dela?

Me lanço contra Allie e volto a fazer o exercício de reanimação com desespero, ela tem que acordar, ela vai acordar, ela não pode me deixar.

— Por favor Tinkerbell! - sussurro quase sem fôlego enquanto as lágrimas escorrem. - Não desiste!

Mãos me envolvem e me puxam para trás, caímos sentamos e tento lutar para me levantar, mas as mãos firmes de Nate me mantém ali no chão com ele.

— Ela se foi Bucky...- Nate gagueja. - Não tem mais o que fazer.

Não! Ela não pode ter ido! Ela não pode ter desistido! Não! Não! Não! Nós éramos maior que o mundo, maior que o universo, ela não podia me deixar!

Sinto os braços de Nate fraquejarem e me jogo para frente para voltar a encarar seu rosto mais pálido que o normal, não é possível que ela não esteja ali.

Deito minha cabeça em seu peito buscando por qualquer pequeno sinal vital mas o silêncio faz um vazio se instalar dentro de mim. A abraço forte e começo a pedir para os céus me devolverem a única coisa que fui capaz de amar na vida. Mas só resta o silêncio, ninguém responde, Allie não reage, e sinto o quão gelado seu corpo está nos meus braços.

Nos meus braços agora estava o que sobrou da garotinha que acreditava em fadas e buscava liberdade e amor.

Que fadas e gnomos tenham vindo te receber tinkerbell, eu sempre vou acreditar em fadas, eu sempre vou te amar.

Enquanto eu respirar eu vou te amar.

Continuo ali agarrado a ela chorando até que 4 policiais se juntarem para nos separar e no momento que Allie sai dos meus braços posso ouvir o meu coração se quebrar e a escuridão tomar conta dos meus olhos até me cegar.

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