04- Meu filho.

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Mickey estava chegando no trabalho, impecável em seu terno cinza, relógio no pulso e cabelo arrumado. Seus passos destoavam segurança, e o olhar esperteza. Era um profissional de mão cheia, com um bom histórico de casos vencidos, e mesmo os que havia perdido, era conhecido por dar tudo de si até o último minuto. Por isso era respeitado, não só pelos seus associados, como também por seus adversários.

Era advogado não apenas pelo dinheiro que trazia, ou porque a sua família era quase toda de advogados, mas porque ele mesmo amava aquela profissão e queria poder trazer justiça para todos e mais alguém enquanto pudesse exercer.

Não era um advogado do povo, mas sempre que podia ou a empresa mandava, se envolvia com casos pró bônus. Neste tipo de caso não haviam ganhos monetários, só a gratificação de ter ajudado.

Quando chegava no local de trabalho, tentava sempre ao máximo deixar de lado os assuntos pessoais para melhor se concentrar, mesmo que estes trabalhassem lá consigo e se tornasse difícil depois de uma ou duas horas lá dentro ignorar, mas naquela manhã não estava conseguindo nem fazer o básico. Que nesse caso era: Chegar sem ocupar a cabeça com nada que não dissesse respeito ao trabalho.

Naquela manhã em que andava relaxado pelo edifício que albergava a Percival Advogados, sua mente estava em outro sítio. Em um que não sabia a localização exata, mas que reconhecia o sentimento.

Ele havia lido o e-mail que recebeu.

Agora se perguntava quem era aquela jovem que se sentia tão solitária?

Quem era aquela cujas palavras pareciam ser direcionadas a ele?

Ou aquele mesma que lhe pareceu tão desanimada.

Ele também tinha uma casa, trabalho e amigos. E diferente dela, ele tinha uma filha... Mas ainda assim quando chegava a casa ao fim do dia sentia que algo estava faltando, ou quando estivesse com tempo livre, ele se sentia assim.

Embora seus amigos estivessem sempre disponíveis para ele e os familiares prontos para lhe abraçar, sabia que eles tinham suas próprias vidas e ele não poderia ligar sempre que se sentisse só ou deprimido.

Ele tinha sua filha que era parte permanente de sua vida, mas está vivia a milhas de distância. E só poderia ver a pequena ao finais de semana por conta do trabalho, e isso depois de duas horas no avião ou cinco na estrada.

Qualquer pessoa poderia simplesmente dizer que sua vida era perfeita já que tinha uma casa , um carro, parentes vivos, amigos prestativos e até uma ex-esposa que era um sonho, mas ele não se sentia satisfeito.

Não quando já experimentou a alergia de partilhar a vida com alguém, de ter um amor para si e alguém para bagunçar a casa. Então não, não conseguia se sentir satisfeito com aquele silêncio.

Não só com o que tinha agora, e aquela mulher, desconhecida e obviamente com habilidades de hacker, parecia entender muito bem.

Tinha medo que fosse ingratidão, mas não tinha como ignorar o sentimento estranho que se apossava dele toda noite.

Ele sentia a necessidade de com ela se comunicar, para dizer que sim, ele entendia e queria tudo o que ela queria também. Conversar, e quem sabe uma amizade formar.

- Bom dia. - Karen surgiu do seu lado no corredor da empresa. Com a saia lápis preta, a blusa e os saltos na cor vinho, ela destoava elegância por onde passasse.

- Não tem pessoas por aqui focando, do que elas estão com medo? - Mickey perguntou depois de ter respondido a saudação. Todos os funcionários e associados pareciam estar fazendo aquilo para que eram realmente pagos, trabalhar.

Querido Desconhecido.Onde histórias criam vida. Descubra agora