Querido Desconhecido.

11- Sopa de tomate.

- Angel. - Com um tom de voz ameno e as mãos nos bolsos, Mickey saudou adentrando a sala do pai. Angel ergueu os olhos dos documentos que revisava e os colocou sobre o filho.

Revirou os olhos e estalou a língua em desgosto. Não por ouvir seu nome sair da boca do filho, afinal já era antigo aquele comportamento um tanto quanto estranho, embora se arrependesse de não ter reprimido ao princípio, mas pelo facto de estar torto o nó de sua gravata.

- Olha só quem decidiu vir trabalhar, Mickeyzinho. - Disse o senhor em resposta. Erguendo o rosto novamente, se sentiu ainda mais desgostoso. - Ah por favor, ajeite essa gravata. Ninguém merece olhar essa coisa feia. - Pediu abanando a cabeça em reprovação.

Percebendo o que havia de errado para receber aquele olhar torto, Mickey ajeitou a gravata rapidamente.

- Faltei um dia só. - Mickey se  defendeu. - Mas por quê está reclamando, não foi o senhor que me fez lavar louça ontem?  - Rebateu ocupando o assento na frente dele.

- Não culpe minha louça. Faltou porque quis. - Angel disse se  recostando na cadeira macia que o pai havia lhe ofertado. - Tudo bem Mickey, ninguém vai te matar por faltar um dia. Mas não pense que  não vai sair do seu salário. - Alertou lhe apontando o dedo.

- Está trabalhando no RH agora? - Mickey deu de ombros compreendendo que aquilo aconteceria, afinal não deu qualquer justificativa para a falta. Mas ainda assim sentiu vontade de provocar.

- Isso desde que você decidiu faltar ao trabalho. - Angel rebateu sorrindo de canto. Eles se mereciam, tanto como pai e filho, como colegas de trabalho.

- Por quê o meu pai não é normal como os outros pais? - Ao vento e com ar dramático, questionou o advogado.

- Porque um filho maluco como você não merece um pai normal. - Fazendo o filho rir, Angel respondeu. - Mas agora, o que quer com esse pai nada normal? -  Questionou desconfiado.

- Nada. É bom ser educado tal como me ensinou e cumprimentar meu pai. - Respondeu fazendo ar de inocente.

- Eh, eu lembro que ensinei. Mas não lembro de ter aprendido. - Rebateu o filho de Alexandre. Novamente Mickey riu.

- O senhor é inacreditável. - Comentou divertido.

- Igual ao meu filho. - De forma séria devolveu. - Agora conte o que quer comigo, marginalzinho. - Pediu movendo rapidamente a sobrancelha. Mickey suspirou baixinho,  o desconcertava as expressões e caretas que de vez em quando fazia seu pai.

- Eu só queria ver como o senhor está. - Admitiu.

- Eu estou bem.  Mas ao que parece  você não deve achar o mesmo, caso contrário não teria mandado a Ema atrás de mim. - Acusou o homem afundando o olhar na direcção do mais novo. Braços cruzados em frente ao peito e uma expressão severa, Mickey percebeu o quanto ele estava chateado.

- Não mandei a Ema atrás de ninguém. Eu só queria  que ela conversasse com o senhor, para ver se tinha certeza do que está fazendo. - Esclareceu. Ela não havia lhe dito nada sobre como correu a conversa, então pensou que ainda não haviam conversado. Mas lá estava seu pai, sendo esperto como sempre e arruinando seu plano.

- Ah, então foi por isso que ela me ligou ontem. E eu que pensei que ela só tinha saudades. - Angel comentou pensativo. Mickey queria bater na própria testa, sem querer acabou lhe dando a confirmação necessária.  - Filho, nós já não falamos sobre isso, porque não pode só confiar em mim? - Questionou magoado.

- Não é que não confie no senhor. É que me preocupo. - Respondeu. - Mas eu sinto muito se de alguma forma o desrespeitei. - Pediu.

- Esqueça isso filho, estarei tomando todo cuidado necessário. - Tranquilizou. - Mas agora deixando isso de lado, e porque eu tenho certeza que dessa vez meu amado e inteligente filho não vai se envolver... - Começou por dizer afinando os olhos na direcção do menor. Era um olhar um tanto quanto ameaçador. - Vamos falar de coisas mais importantes. - Acrescentou voltando a posição relaxada.