10- Pai e filho.

22 8 0
                                    

Terça-feira. O sol ainda sonolento, escondido no horizonte pensava em dar as caras e iluminar todo  aquele espaço, o nevoeiro nas ruas se dissipava e a temperatura já começava a subir.

Nas ruas, as pessoas começavam  a se locomover. Algumas se dirigiam ao trabalho, outras indo se exercitar, e outras apenas tinham como passatempo ficar em frente ao próprio portão prestando atenção na vida alheia.

O complexo habitacional Luzia, no fundo era como todos os outros bairros. Pessoas  fofoqueira, pessoas trabalhadora, pessoas  preguiçosa e até mesmo mães rabugentas  que acordavam cedo para gritar com os filhos que iriam a escola.

Era bonito e belo aquele complexo, mas as vezes se tornavam barulhentas as ruas do qual fazia parte.

E naquela mesma manhã, um pouco mais cedo que o normal Mickey se viu sendo acordado pelo toque insistente de seu smartphone.

Ainda de olhos fechados e um sentimento nada hospitaleiro por estar sendo acordado,  procurava o aparelho que sabia estar assim como ele, sobre a cama.

Era uma chamada do tribunal. Bom, mais propriamente de um amigo que  conhecia dentro do tribunal.

Só existia uma razão para Mirco estar lhe ligando aquela hora, então a tensão se fez presente antes de atender e a preocupação o invadiu quando desligou.

Saltou da cama em um misto de irritação e ansiedade indo direto para casa do pai. Apenas lavou a cara e trocou de roupa.

- Mickey o que está fazendo aqui, ainda nem são seis horas direito. - Com uma voz de sono e o pijama amassado no corpo, Angel se surpreendeu com a visita repentina do filho. No entanto, a surpresa não durou muito.

O senhor fez cara de tédio, lhe liberou a passagem e começou a caminhar para sua cozinha. Descalço, ele tentava alongar os braços.

A casa de Angel ficava em um bairro isolado no lado oeste de Ventana. Relativamente perto do mar, a temperatura costumava ser fria pela manhã e ventos fortes ao entardecer. Era um bairro calmo, a casa havia sido presente de um de seus clientes e ele adorava viver lá com o filho.

A construção era toda inspirada em algum modelo de algum século passado. Então as casas pareciam pequenos castelos por fora, mas com certa modernidade  por dentro.

- Ligaram do tribunal. - Mickey anunciou seguindo-o.

- Que surpresa senhor advogado. - Angel ironizou  lavando as mão na pia. Olhou a própria cozinha e agradeceu pelo filho não ter feito nenhuma bagunça na noite anterior.

- Não foi engraçado, o senhor está procurando problemas desnecessários só porque está obcecado com essa história. - Falou se aproximando mais do balcão que os separava. -  Foi o Mirco quem ligou, para avisar que o senhor vai ter uma audiência hoje com o juiz para falar sobre o caso da Amélia. - Contou. Angel não expressou qualquer reacção, ao menos não externa. Por dentro ele revirava os olhos e estava a língua o mais alto que podia. - Silêncio, é só isso? - Questionou incrédulo.

- Se já sabe porque está perguntando? - Angel devolveu. Era um tanto quanto irritante a reacção que estava recebendo de sua cria. Não que esperasse por  abraços ou felicitações, mas também não esperava que o filho colocasse um "espião" de olho nele.

- O senhor recebeu uma ameaça do marido daquela mulher louca, será que não teme pela sua vida ou pela da sua família? Por que insistir nisso quando a decisão já foi tomada? - Questionou o menor. Eles nunca haviam tocado no assunto diretamente, não depois que seu pai se afastou, mas conhecia tão bem toda aquela história.

Sabia tudo que a envolvia, desde o princípio ao fim. Sabia que tão logo o  pai começou a representar a filha de Amélia, o marido daquela mulher cujo a tornozeleira não lhe permitia sair da cidade, o ameaçou de morte se a esposa passasse um dia na cadeia.

Querido Desconhecido.Onde histórias criam vida. Descubra agora