Sn e Lino se conheceram nos bastidores de uma batalha de MCs. Ela era uma fotógrafa talentosa, capturando a energia e paixão dos competidores, enquanto ele era um MC talentoso, rimando com habilidade e paixão que transcendia palavras.
Sn admirava a...
"A fotografia é uma das poucas coisas que tem poder sobre o tempo: ela o paralisa."
POV: Sn
Sexta Feira - 00: 47
São quase uma da manhã e estou pisando em ovos tentando entrar em casa sem fazer barulho. Aonde eu estava? O que estava fazendo? Por que cheguei tão tarde? São essas perguntas que iriam desencadear brigas e tumultos dentro da minha casa assim que respondesse com a verdade, para evitar o caos e a discussão estou tentando entrar em casa da forma mais discreta possível. Abro a porta da cozinha e com minha câmera em mãos começo a andar na ponta dos pés até a sala. Entrando na sala me deparo com a minha mãe em pé na escada com uma cara nada boa. Cara de quem já estava a horas esperando eu chegar, cara de quem já estava com diversos castigos em mente.
Sn- m- mãe, não era pra vc já está deitada? Marta- a adulta aqui sou eu, quem tem hora pra dormir e hora pra não estar na rua é você. Não vou nem me dá o trabalho de perguntar aonde você tava, só vai pro seu quarto e pra evitar briga com seu pai não vou falar nada. Sn- só pra você saber eu tava trabalhando. Marta- trabalhando? Agora você é a trabalhadora, provedora do lar -fala em tom de deboche Sn- mãe é sério, eu tava fotografando um evento mto importante, mas talvez não seja hora pra conversar sobre isso... Marta- sn, fotografia não é trabalho Sn- é trabalho sim mãe, a fotografia... Marta- NÃO É TRABALHO PRA VOCÊ -falo alto e cortando a mesma Sn- não era você que não queria briga, se não quer briga não grita comigo.
Minha mãe tinha sido grossa, tinha desmerecido minha paixão... E lá estava eu, no quarto, pensando em como dói quando os pais odeiam a paixão dos filhos. O maior problema da adolescência é quando os jovens vivem o inferno em casa e fazem da rua seu paraíso. Eu estava na batalha da norte, batalhas que ocorrem toda semana e eu sempre ia, mas essa semana foi diferente... Nas outras semanas eu estava lá apenas para apreciar o talento dos mcs, entretanto após uma postagem no meu Instagram com um layout de fotos q eu tirei apenas com meu celular tudo mudou... Ha mais ou menos um mês, eu presenciei uma edição da norte de duplas, fotografei alguns mcs(por puro hobie),momentos em que eu via que o MC estava dando tudo de si e tinha um "UP" no semblante eu ia e fotografava... Nesse dia a vibe da norte não era a mesma, era mais surreal, era algo inexplicável, transcendia todos os limites de uma simples batalha de rima, e por uma foto que eu tirei do Jp junto ao barreto, uma foto que capitava a paixão dos dois pela arte de rimar, a amizade genuína deles, o sangue, as lágrimas escorridas pelo rap, eu fui convidada a fotografar oficialmente as batalhas da norte. E hoje estava eu lá, fazendo minha arte, coletando memórias, guardando sentimentos, congelando o tempo, pra voltar pra casa e viver a mesma exaustão de sempre...
Essa foi a foto que mudou minha vida. A foto que fez eu parar de ver a fotografia como um hobie. A foto que me fez descobrir minha paixão mais profunda, a arte.
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A norte dessa semana foi mais especial que as anteriores. No meio da desmotivação causada pela repreensão dos meus pais eu encontrei uma jóia. Hoje um garoto, um garoto que veio do nada, que surgiu do anonimato, me mostrou que não podemos parar de fazer o que amamos. Não sabia quem era ele, mas ele tomava de forma simples, e eu só o observava de longe com a câmera. E ver o brilho nos olhos deles pra fazer o que muita gente tem desistido de fazer me inspirou. Não conversei com ele, mas seu nome era Lino. Não tinha nem uma beleza avassaladora, mas tinha algo que cativava mais ainda que beleza física. Não sei se a forma como cada verso que ele dava era certeiro, ou se a alegria e gratidão que ele demonstrava por estar lá... Mas algo nele chama muito a atenção. Fiquei vendo as fotos que tirei hoje até que adormeci, as foto de Lino certamente era as que eu mais parava pra admirar os detalhes.
