XV

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Estava entediado em casa e resolvi convidar uma amiga para dar um rolê pelo shopping.

Catarina é minha amiga e da Iza desde a adolescência e tratamo-nos quase como irmãos.

Íamos pedir os nossos hambúrgueres quando avistei Juliette já sentada, sózinha.

A minha intenção era sentarmos junto dela, mas no momento em que nos entregaram o pedido ela levantou-se e foi ao cinema.

Catarina percebeu que eu fiquei desapontado.  Comemos e estivemos à conversa até que ela disse que tinha um compromisso.  Alguém lhe tinha enviado uma mensagem enquanto comíamos a que ela respondeu.

- Vais como?

- Está à minha espera na entrada.
Boa sorte, sorriu ela.

Esperei sózinho pelo final do filme, mas mais valia ter ido embora.

Juliette saiu da sala de cinema abraçada a um homem que eu nunca vira.

Passaram por mim e das duas uma, ou estavam debochando de mim ou o filme era muito animado, pois vinham muito sorridentes.

Vi-os passar em direcção à saída.  Fiquei sentado por um tempo e depois resolvi vir embora.

- Eu mereço, pensei.
Pus-me a jeito e a fila andou.

Era para eu ignorar, mas porque é que dói tanto?  Eu preciso falar com ela, nem que seja a última vez.

Conduzi até ao apartamento da minha irmã e toquei à campainha.

Ela veio abrir a porta já de camisola e robe.

- A tua irmã não está.

- Quero falar contigo, não com a Iza.

- Que eu saiba não temos nada a dizer.

- Eu tenho.

Sentei-me numa ponta do sofá e ela na outra.

- Não precisas estar tão longe.  Não mordo.

- Diz o que vieste dizer.

- Quem é ele?

- Ele quem?

- O tipo que estava contigo.

- Que eu saiba não temos nenhum combinado de contarmos com quem cada um fica.

- Eu gosto de ti.

- Eu vejo quanto gostas.

- Pode não parecer, mas é verdade.

Tu gostas de qualquer qualquer uma que seja bonita, vistosa, que os outros invejem quando está a teu lado e que abra as pernas quando sentes necessidade.  Não tens um padrão.   Se tiver todas essas características tu estás na àrea.

- Contigo foi diferente.

- Foi.  Deve ter elevado o teu ego até às alturas.  Bonita, vistosa, - sim eu considero-me assim - abri as pernas e ainda por cima virgem.
Foi diferente sim.

- Estás a ofender-me.

- Sinceramente,  esta conversa não vai chegar a lado nenhum.  Se quiseres esperar pela Iza fica aí.  Eu vou dormir.

Levantei-me, fui até à cozinha, bebi àgua e vejo ele levantar-se também.

- Janta comigo amanhã.   Não quero que fiquemos inimigos.  Ainda quero ter outra conversa contigo.

- Não vai adiantar nada.  O nosso tempo passou.

- Mas aceita jantar e conversar novamente comigo.   Amanhã com mais calma.

- Na próxima paragem de shows.  Amanhã não quero.  Estou magoada.
Não vai ser uma conversa amigável como hoje não foi.

- Está bem.  Na próxima semana eu ligo.  Boa noite.

- Fica bem.  Boa noite.

Rodolffo saiu e eu fui deitar-me.  Não sei se era nervoso mas começaram a surgir umas cólicas.

Durante a noite as cólicas aumentaram ligeiramente e eu levantei-me para ir ao banheiro.

Foi quando notei um pouco de sangue nas minhas calcinhas.

Comecei a chorar e fui até ao quarto da Iza.  Contei-lhe e ela aprontou-se para me levar ao hospital.
No caminho contei-lhe que o irmão tinha estado lá.

No hospital diagnosticaram-me com princípio de aborto.  Fiquei assustada.  Grávida?  Precisei ficar internada para observação.

Falei com a Iza e pedi para ela não contar ao Rodolffo.

- Eu não consigo mentir para ele.

- Mas eu não o quero ver por enquanto.

- É uma boa hora para vocês se entenderem.

- Eu não quero ficar com ninguém só porque estou grávida.

- Está bem, mas vou ter que contar e peço que ele não venha o que eu duvido.

- Se ele vier eu peço que proíbam as visitas, podes dizer isso a ele.  Eu prometi jantar com ele na próxima semana e é isso que vai acontecer.

- Dois casmurros, é o que vocês são.
Até amanhã.   Cuida do meu sobrinho.

- Obrigada Iza.

Iza saiu e eu comecei a ficar sonolenta por causa da medicação que me deram.

Atravessei o Atlântico Onde histórias criam vida. Descubra agora