VII

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Rodolffo roubou-me um selinho e eu não soube como reagir.

Mantive a cabeça encostada nele mas baixei o olhar. 
Ficámos os dois  em silêncio a olhar para o lago.

Quando saímos de casa a noite parecia que ia estar quente, mas agora corria um leve friagem.  Nenhum de nós tinha casaco.

Rodolffo sentiu-me estremecer com frio e apertou-me mais, envolvendo-me com os dois braços.

- Queres ir embora?  Estás com frio?

- Estou, mas aqui é tão bonito.  Não me apetece ir.

- Ficamos um pouco mais.
Sentei-a na minha frente, entre as minhas pernas e passei os braços à volta dela.  A junção dos nossos corpos transmitia-lhe algum calor.

Coloquei o cabelo dela todo para um lado e descansei o meu queixo no ombro dela beijando-lhe o pescoço de vez em quando.

- Pára Rodolffo.  Isso não é certo.

- Porquê?  Acaso eu ou tu temos compromisso com alguém?

- Eu não tenho.

- Nem eu.  Somos duas almas livres e errantes.

- Vamos embora.  Alguém pode ver e tirar foto.

- É só por isso que queres ir embora?

- Não.

- Então, ficamos aqui. Vamos  para minha casa?

- Melhor não.   Deixa-me na Iza.

- Do que tens medo?  Somos adultos.

- Não tenho medo de nada.  Conheci-te há menos de um mês.

- E o que tem?  Já fiquei com pessoas com menos tempo.
Desculpa, não queria dizer isto.

- Vamos embora, por favor.

- Verdade, July.   Não tive a intenção de te magoar.

- Está tudo bem, só vamos embora.

Entrámos no carro, trocámos mais meia dúzia de palavras e logo chegámos a casa da Iza.

- Obrigada pelo jantar.  Foi uma noite maravilhosa, mas ...

- Eu é que estraguei tudo, disse ao perceber que ela não tinha terminado a frase.

- Não estragaste,  acredita.  Foi bom ter sido assim.
Até amanhã.  Fica bem.

Deu-me um beijo na face e saiu do carro.  Fiquei a vê-la entrar em casa e segui para a minha.

Iza já dormia,  então não fiz barulho e entrei no meu quarto.  Abri o chuveiro e deixei correr a àgua e as lágrimas no meu rosto.

Eu sei que a minha falta de experiência sexual deve ser oposta ao facto dele ser diplomado, doutorado, bacharelado e outros canudos no quesito sexo e pelo que andei pesquisando vivia na cama de umas e outras por essas estradas.

Pode não ser verdade, mas a fama existe. 

Deitei-me e resolvi não pensar muito no assunto.  O meu objectivo é trabalhar muito e conquistar a minha independência financeira.  Depois, e quando se proporcionar há-de aparecer alguém que balance as minhas estruturas.

Sou jovem, tenho muito tempo e quero que a minha primeira vez seja mágica.  Mas de uma coisa tenho a certeza.  Será com o homem que eu amar, independentemente de estar ou não comigo.

Virei para o outro lado e adormeci.

Acordei cedo.  Tomei café e deixei a mesa pronta para a Iza.

Fui caminhando até à companhia de dança.  O ar da manhã era agradável e não era assim tão longe.  Antes de iniciar a aula ainda deu tempo de tomar um café com a Rita que também acabara de chegar.

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