Acabámos de aterrar e eu respirei de alívio.
Eu não falei nada, mas quando Rodolffo falou que íamos para Portugal, o meu coração bateu descompassadamente.
Acalmei um pouco quando vi que o nosso voo tinha como destino o Porto e não Lisboa.
O meu circo apesar de percorrer várias terras, apresenta-se essencialmente em Lisboa.
Eu não estava com vontade de encontrar ninguém conhecido, muito menos familiares. Quando resolvi atravessar o Atlântico, fi-lo com a convicção de que era para sempre.
Chegámos a casa e as saudades que eu tinha da minha Rosinha.
Abracei-a e cheirei-a com força. Ela gemeu porque eu apertei demais.
- Desculpa meu anjo. A mamãe só estava com saudades.
- O papai também quer um abraço e um beijo.
Do abraço do pai ela já não reclamou. Foi ela própria a apertá-lo.
Cumprimentámos a minha mãe e Iza, contámos um pouco das nossas férias.
Entregámos as lembranças que trouxemos porque a Rosa não parava de perguntar pelo presente que havíamos prometido.
Entreguei-lhe uma boneca minhota vestida de noiva mordoma.
Ela ficou encantada com o traje da mesma. A boneca vinha com imensos colares que é uma coisa que ela adora.
As bonecas são baseadas nos trajes das mordomas de Viana do Castelo.
Para Iza e minha mãe trouxemos alguns artigos de ouro em filigrana bem como artesanato local.
Marcámos um jantar para o dia seguinte.
Tínhamos comprado 2 pares de botinhas feitas em pele de ovelha para anunciar a chegada do nosso bébé.
Foi durante a sobremesa que decidimos entregar o presente a cada uma delas.
Iza e a minha mãe olharam para as botinhas sem entenderem. Mandámos virar a sola das botas onde estava um bilhete colado.
- Estou chegando vóvó.
- Estou chegando titia.
Elas olharam para nós com um sorriso estampado no rosto e vieram abraçar-nos.
Segurei Rosa ao colo e apontei para a barriga da Juliette.
- Sabes o que tem na barriga da mamãe?
- O quê? Perguntou ela com desconfiança.
- Um mano.
- Um mano? A barriga está pequenina. Não cabe ali um mano.
- Ainda vai crescer. Tu também cresceste ali. Sabes quantos meses?
Ajudei ela a contar os nove meses pelos dedos.
- Isso é muito tempo, papai!
- Não é. Passa depressa.
- E a mamãe vai aguentar um bébé ali dentro? Vai ficar muito pesado.
- A mamãe aguenta. Ela é forte.
- Tu guenta, mamãe?
- Aguento. Já aguentei contigo.
A partir dali foi um chorrilho de perguntas. Rosa queria saber tudo inclusive como é que o mano entrou na barriga da mãe.
Essa parte eu deixei para Juliette explicar.
Quando fomos dormir, Rosa fez beicinho e quis dormir connosco e como também estávamos com saudades dela deixámos.
Acho que de todos ela era a que estava mais eufórica com o irmão. Ora fazia uma pergunta mãe, ora se virava para mim, mas dormir é que não era com ela.
Eu e Juliette estávamos cansados e com sono e acho que já tínhamos respondido a tufo, mas ela sempre achava uma nova pergunta para fazer.
Fui à cozinha buscar um copo de leite morno para ela tomar e acalmar. Por fim disse-lhe que se ela dormisse o mano vinha mais depressa.
Acomodou-se junto ao peito da mãe.
Eu beijei as duas e aconcheguei-me a elas também.Afaguei o rosto de Juliette e deixei a mão ficar. Ela fez o mesmo no meu e juntos abraçamos a nossa filha que já tinha mergulhado num sono profundo.
Agradecemos a Deus todas as bênçãos concedidas e que nos conceda muitas mais.
Fim